Quem é a 'Patroa', uma das chefes do CV em Fortaleza que recebeu R$ 23 mil de programas sociais
'Patroa' foi presa nessa terça-feira (23), quando o MPCE deflagrou a 'Operação Extramuros'
Conhecida no 'mundo do crime' como 'Patroa', Francisca Patrícia dos Santos Falcão, 41, presa nessa terça-feira (23), vinha desde 2023 atuando com poder de comando dentro da facção criminosa carioca Comando Vermelho (CV). Ao mesmo tempo, ela recebia benefícios do Governo por meio de programas sociais.
O Diário do Nordeste obteve documentos comprovando que "o valor global de todos os programas sociais que a pesquisada foi beneficiária totaliza R$ 23,4 mil. Vê-se, também, que o último registro de recebimento do Novo Bolsa Família por Francisca Patrícia deu-se em 06/2024, ou seja, após início do vínculo societário com a Nitro Dance Fest que ocorreu dia 20/04/2024". A defesa de Patrícia foi procurada, mas não respondeu à reportagem até a publicação desta matéria.
A 'Nitro Dance' citada na investigação se trata de uma boate no bairro Serrinha, em Fortaleza, ligada à facção. O local sediava festas com apologia à organização criminosa e estava sob gerência de Patrícia até fevereiro deste ano, quando foi interditada durante a Operação Fim de Festa, deflagrada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE).
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Na época da operação, o MPCE divulgou que a boate era "responsável pela promoção de eventos festivos com apologia ao crime organizado e funcionaria como reduto destinado ao fortalecimento dos interesses da facção criminosa, principalmente do núcleo subordinado a uma das principais lideranças de uma facção criminosa de origem carioca, preso preventivamente em 2023".
O homem preso em 2023 é Francisco Anderson Rabelo, conhecido como 'Nem Gato' e 'Véi', apontado como liderança local do CV.
Conforme o MP, desde a prisão do esposo, 'Patroa' vinha atuando sob as ordens do marido. Para desarticular o grupo, foi deflagrada nessa terça-feira uma nova operação, denominada de 'Extramuros'.
PARCEIRO NA FACÇÃO
Segundo a investigação, ao longo de 2024 e 2025, outro homem esteve como parceiro de Francisca Patrícia para comandar a facção. Francisco Bruno Holanda Lima, o 'BH', ficou no 'papel' como sócio-administrador da Nitro Dance Fest, "promoveu e integrou, pessoalmente, organização criminosa, qual seja, a facção conhecida como Comando Vermelho (CV), especificamente o núcleo de atuação no bairro da Serrinha e proximidades, nesta capital".
Bruno Holanda era quem organizava, promovia e divulgava nas redes sociais os eventos festivos na casa de entretenimento. Em abril de 2025, ele foi formalmente denunciado.
"A propósito, dos levantamentos realizados por aquela unidade policial – corroborado pelas diligências ministeriais e pelo conteúdo de materiais apreendidos quando da prisão (temporária) do denunciado –, constam registros de que as “festas” viabilizavam verdadeiras confraternizações do crime organizado, com a exibição de artistas/cantores que faziam apologia ao Comando Vermelho, em meio a eventos nos quais diversas ilicitudes costumavam ensejar o acionamento de guarnições da Polícia Militar (fatos sob apuração no procedimento de origem e/ou em inquéritos policiais): brigas generalizadas, inclusive com pessoas portando armas de fogo; presença de adolescentes sem autorização de responsáveis legais; frequência de pessoas submetidas ao uso de tornozeleira eletrônica; entre outras ilicitudes semelhantes"
CORRUPÇÃO ATIVA
Bruno também teria cometido o crime de corrupção ativa. Para conseguir promover as festas da facção, ele contava com apoio de um funcionário público.
Segundo o MP, "a investigação trouxe fortes indícios de que o denunciado integra a organização criminosa Comando Vermelho, bem como ofereceu vantagem indevida a funcionário público".
Repetidas vezes ele teria prometido e enviado dinheiro a um servidor público para que o homem assegurasse avisar antecipadamente os dias e os horários das possíveis fiscalizações a serem realizadas na boate.
"Ao que se apurou, o denunciado encaminhava semanalmente, via PIX, a quantia de R$ 500 a um determinado contato, identificado como 'Gleycin', indivíduo que trabalhava como “agente de cidadania e controle social” junto à Secretaria Municipal da Gestão Regional, órgão da Prefeitura do município de Fortaleza/CE", de acordo com o órgão acusatório.
O agente recebia o dinheiro na própria conta bancária, mas seria um 'intermediador', representando outro funcionário público ainda não identificado, "tido como o real destinatário das quantias enviadas pelo denunciado, aparentando ser o responsável pelo repasse das informações acerca das fiscalizações". Gleycin deixou o cargo no fim do ano passado.