Facção GDE ofereceu recompensa de R$ 5 mil pelo assassinato de membro do CV morto junto de advogado
O Ministério Público do Ceará apresentou denúncia contra o único preso pelo duplo homicídio. A Justiça Estadual recebeu a denúncia e o acusado virou réu no processo criminal
A facção cearense Guardiões do Estado (GDE) ofereceu recompensa de R$ 5 mil pelo assassinato de um membro da facção carioca Comando Vermelho (CV), que foi morto junto de um advogado, em Fortaleza, segundo a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE) contra o único preso pelo crime.
O MPCE apresentou a denúncia contra Luiz Henrique Galdino Braga, por dois homicídios (cometidos contra Ítalo Jardel Menezes da Silva, 27, e Paulo Marcelo Silva Freire, 46), uma tentativa de homicídio e por integrar organização criminosa, à Justiça Estadual, na última quinta-feira (4).
A 6ª Vara do Júri de Fortaleza (Organização Criminosa) recebeu a denúncia, no dia seguinte, e o acusado virou réu no processo criminal. Luiz Henrique foi preso em flagrante, no dia 15 de agosto deste ano, e teve a prisão preventiva decretada, em audiência de custódia.
Conforme a denúncia do MPCE, que a reportagem teve acesso, o acusado e outros homens ainda não identificados seguiram o carro do advogado Paulo Marcelo Freire para matar Ítalo Jardel da Silva, que estava no banco do passageiro.
"A abordagem em grupo de pessoas armadas que perseguiram o veículo em que as vítimas se encontravam efetuando disparos de arma de fogo, abordado o veículo de madrugada e de forma repentina, se mostra evidência clara de que o réu e comparsas agiram visando dificultar, se não impossibilitar, a defesa da vítima, bem como agiram assumindo o risco de matar, para além da vítima alvo Ítalo Jardel, todos os que se encontravam no veículo."
O carro do advogado foi interceptado e baleado por diversas vezes, no cruzamento da Travessa Rio de Janeiro com a Rua Cacilda Becker, no bairro João XXIII. Paulo Marcelo - que não era o alvo da ação criminosa, conforme as investigações - sofreu 7 tiros e morreu no local.
Os outros dois homens baleados seriam clientes do advogado. Ítalo Jardel foi levado ao hospital Instituto Doutor José Frota (IJF) em estado grave e morreu nas horas seguintes. Já o outro homem, que estava no banco de trás, conseguiu sair do carro com vida e pedir ajuda a moradores da região.
O Ministério Público do Ceará aponta, na denúncia, que a motivação do crime foi "torpe, consistente em ação da organização criminosa Guardiões do Estado - GDE. Nesse contexto, os relatos foram no sentido de que o réu e demais autores do crime ainda não identificados são vinculados à organização criminosa Guardiões do Estado - GDE".
"A vítima fatal Ítalo Jardel, de outro lado, tinha vínculos com a facção rival Comando Vermelho, com atuação na Vila Rosângela, havendo informação de que a organização criminosa GDE havia decretado a morte de Ítalo v. Tripa e pagariam R$ 5.000,00 (promessa de recompensa) para quem matasse Ítalo", completou.
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Violência e corrupção policial
Antes do duplo homicídio, Ítalo Jardel Menezes da Silva e o amigo baleado foram abordados e agredidos por policiais militares, na Vila Rosângela, bairro Mondubim, em Fortaleza, segundo testemunhas. A dupla teria sido liberada mediante o pagamento de propina, após a chegada do advogado Paulo Marcelo Silva Freire.
No último dia 22 de agosto, a 6ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) encaminhou cópias do inquérito para o delegado-geral da Polícia Civil com o pedido de encaminhamento para a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos da Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) e para o Comando da Polícia Militar do Ceará (PMCE), para serem investigadas as denúncias de violência e corrupção policial.
A CGD confirmou ao Diário do Nordeste, no dia 18 de agosto deste ano, que já "investiga a ocorrência no âmbito administrativo".
A Polícia Civil recebeu relatos de que uma composição da Força Tática da PMCE realizou uma abordagem a Ítalo Jardel, na rua, e o levou para uma casa, onde estaria o outro jovem, na noite de 14 de agosto deste ano. Os policiais militares teriam perguntado por uma arma de fogo e, poucos minutos depois, encontraram um revólver na residência.
O jovem abordado pelos policiais e sobrevivente da ação criminosa ocorrida na sequência - de identidade preservada - afirmou à Polícia Civil que estava na casa da namorada, que não tinha conhecimento de arma de fogo no local e que foi agredido pelos PMs.
Ao saber da prisão dos jovens, a mãe de Ítalo acionou o advogado Paulo Marcelo Silva Freire, que, em poucos minutos, chegou ao imóvel. Segundo a vítima sobrevivente, os policiais militares pediram R$ 10 mil ao advogado para liberar a dupla, mas as partes entraram em acordo pelo pagamento de R$ 5 mil.
Paulo, então, decidiu tirar os dois jovens da região, e o trio saiu no carro do advogado. Foi quando, segundo as investigações, integrantes da facção Guardiões do Estado decidiram perseguir o veículo para realizar o ataque criminoso.