Esposa de ex-PM e outro réu são inocentados por morte de empresário há 14 anos em Fortaleza

Francisca Elieuda Lima e Charlles Herbeth Pereira são acusados de integrar grupo de extermínio do iraniano Farhad Marvizi, responsável por uma série de homicídios e tentativas de homicídio, em Fortaleza

Escrito por Matheus Facundo , matheus.facundo@svm.com.br
carro de empresário morto por grupo de extermínio após a morte em fortaleza
Legenda: O empresário era rival do iraniano no setor de eletrônicos, e havia descoberto que ele realizava importações ilegais
Foto: Naval Sarmento

Acusada de participar do grupo de extermínio do iraniano Farhad Marvizi, Francisca Elieuda Lima Uchôa foi inocentada em julgamento pela morte do empresário Francisco Francélio Holanda Filho, em Fortaleza, ocorrida em 2010. O veredito foi dado no Tribunal Popular do Júri no último dia 29 de fevereiro e também absolveu Charlles Herbeth Martins Pereira, quando os jurados decidiram que os dois acusados não tiveram autoria no crime.

Elieuda foi esposa do ex-Policial Militar Jean Charles Libório, perseguido e morto a tiros em 2020 e também acusado de integrar o grupo criminoso comandado pelo iraniano. O homem que teria tido participação direta na morte de Francélio, foi expulso da Corporação e acabou condenado a 14 anos.

A mulher, segundo a denúncia do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) prestava apoio aos crimes do marido, além de comandar algumas operações ilegais. 

Já Charlles, virou réu, pois teria atuado em "diversos crimes" junto ao iraniano e era uma "ponte" entre os empresário e outros integrantes do suposto grupo de extermínio. Conforme o MPCE, ele era o integrante da organização criminosa responsável por negociações financeiras. 

A defesa de Elieuda, representada pelo advogado Sílvio Vieira, classificou a absolvição, tanto dela quanto a de Charlles — assistido pela Defensoria Pública — como "necessária", pois "trouxe luz à verdade que sustentamos desde o primeiro momento em que nos dedicamos a defesa deste caso". 

"Continuamos no trabalho em defesa da demonstração da verdade em outros processos, haja vista nosso compromisso de lutar pela defesa das garantias constitucionais e do respeito as normas processuais penais, que determinam o caminho para se obter a melhor e mais correta Justiça", diz nota. 

Esse não foi primeiro processo contra Elieuda por homicídio. Em 2020, ela foi condenada a 13 anos de prisão pela morte do advogado Antônio Jorge Barros de Lima. A mulher foi reconhecida por testemunhas como a pessoa que chegou ao escritório da vítima, localizado no Eusébio.

Queima de arquivo

A vítima, Francisco Francélio, foi morto em uma "queima de arquivo", pois ele havia denunciado o empresário iraniano para um auditor da Receita Federal por importar mercadorias eletrônicas de forma ilegal, além de praticar preços muito inferiores aos dos concorrentes. Os dois eram rivais no ramo de eletrônicos.

O homicídio ocorreu na noite do dia 8 de julho de 2010, quando Francélio teve seu carro interceptado no bairro Aldeota por dois homens em uma moto. A dupla disparou diversas vezes contra o empresário, que foi socorrido, mas não resistiu.

O auditor fiscal José de Jesus Ferreira, inclusive, foi alvo de Farhad Marvizi anos antes. Anos antes da morte de Francélio, o profissional sofreu um atentado, em Fortaleza, no dia 9 de dezembro de 2008, mas resistiu aos tiros. O iraniano foi descoberto como mandante e sentenciado pela Justiça Federal a 20 anos de prisão por essa tentativa de homicídio. 

Já pela morte do comerciante rival, Marvizi foi condenado a 17 anos de prisão na Justiça do Ceará. Ele passou 11 anos em presídios federais de segurança máxima e foi transferido de volta ao Sistema Penitenciário cearense em maio do ano passado. 

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Grupo de extermínio 

O iraniano Marvizi foi o autor intelectual em uma série de crimes, entre homicídios e tentativas de homicídios, que constituíram um grupo de extermínio. Entre os alvos estavam desafetos e pessoas que de alguma forma podiam prejudicar os negócios do empresário natural do Irã, que tinha lojas em um shopping de Fortaleza. 

Conforme a denúncia contra o empresário, o rastro de sangue começou em 2008, quando ele contratou Francisco Cícero Gonçalves de Sousa, conhecido como "Paulo Falcão", homem que fazia "bicos" e serviços criminosos para ele. Foi Falcão quem foi contratado para matar o auditor fiscal. 

No entanto, o homem passou de ajudante a alvo por conta de cobranças seguidas. Em junho de 2009, Paulo foi morto a tiros dentro da pizzaria dele, no bairro Manoel Sátiro, em Fortaleza, a mando de Marvizi, por intermédio de Carlos Medeiros, que contratou o policial militar Ivanildo Mariano Silva para executar o crime.

Pouco mais de um ano depois, foi a vez de Carlos ser executado a tiros, junto com sua esposa, Maria Elisabeth Almeida Bezerra, em uma nova queima de arquivo orquestrada pelo iraniano, que descobriu que Carlos estava colaborando com a Polícia Federal para desvendar o esquema comandado pelo estrangeiro. O casal foi morto dentro de casa no Conjunto Esperança.

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