Acusado de chefiar grupo de extermínio, iraniano volta ao sistema penitenciário cearense

Farhad Marvizi passou 11 anos no Sistema Penitenciário Federal de Segurança Máxima

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
Conforme as investigações, Fahrad Marvizi era líder de um grupo de extermínio, que estava pronto para matar quem tentasse interferir nos negócios do iraniano
Legenda: Conforme as investigações, Fahrad Marvizi era líder de um grupo de extermínio, que estava pronto para matar quem tentasse interferir nos negócios do iraniano
Foto: Ilustração/ Diário do Nordeste

O iraniano Farhad Marvizi, conhecido como 'Tony', está de volta ao Ceará. Depois de 11 anos detido em presídios federais de segurança máxima, o estrangeiro acusado de chefiar um grupo de extermínio foi transferido para o sistema penitenciário cearense.

Marvizi estava preso no Presídio Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. A transferência foi realizada pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), na última terça-feira (23).

A Secretaria da Administração Penitenciária do Ceará (SAP) confirmou que o iraniano já se encontra custodiado em presídio cearense, mas não forneceu mais informações.

Questionado sobre a motivação da transferência, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) não respondeu até a publicação desta matéria. A reportagem também questionou a Senappen sobre a transferência, mas não recebeu resposta.

A defesa de Farhad Marvizi, representada pelo advogado Flávio Jacinto, informou que a decisão partiu da Vara Federal de Campo Grande, que entendeu que não havia necessidade da permanência do preso em presídio federal.

No ano passado, a Coordenadoria de Inteligência (Coint) da SAP enviou um relatório para a Justiça em que pediu a manutenção de Marvizi em um presídio federal.

Diante do nível de periculosidade de Farhad Marvizi, reconhecido fator de liderança dentro da ORCRIM (organização criminosa), detentor de grande influência e alto poder aquisitivo, ter praticado crime que coloque em risco a sua integridade física no ambiente prisional de origem, estar submetido ao Regime Disciplinar Diferenciado, ser membro de quadrilha ou bando e envolvido na prática reiterada de crimes com violência ou grave ameaça, sua volta ao sistema prisional cearense representa um risco à sociedade, sendo notória sua nocividade nos moldes comuns do sistema prisional, este é indicado para permanecer no Sistema Penitenciário gerido pelo Governo Federal."
Secretaria da Administração Penitenciária do Ceará
Em manifestação à Justiça

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Iraniano responde por vários homicídios

Farhad Marvizi responde a vários processos criminais por crimes contra a vida, na Justiça do Ceará. Ele e o ex-policial militar Ivanildo Mariano Silva vão a julgamento no dia 29 de agosto deste ano pelo assassinato do comerciante e ex-funcionário da Coelce, Francisco Cícero Gonçalves de Sousa, conhecido como 'Paulo Falcão'.

O julgamento estava marcado para o último dia 4 de maio, mas foi adiado, em razão da marcação de outro júri para o mesmo dia, na 5ª Vara do Júri de Fortaleza. 'Paulo Falcão' foi assassinado em uma pizzaria, no bairro Vila Manoel Sátiro, em junho de 2009.

A trama envolvendo o estrangeiro e seus comparsas no Ceará é marcada por falsas amizades, negócios ilegais, traições e mortes. No caso de Marvizi e 'Paulo Falcão', a ligação entre eles começou no ano de 2008 por um motivo inusitado: altos gastos com contas de energia elétrica.

'Falcão', além de ter uma pizzaria, trabalhava como eletricista, e foi apresentado a Marvizi por um amigo em comum dos dois, o comerciante Carlos José Medeiros Magalhães. Por suas habilidades, o eletricista foi contratado para fazer um "gato" na ligação de energia em dois imóveis do iraniano, nos bairros Meireles, em Fortaleza, e no Porto das Dunas, em Aquiraz.

Mas, conforme as investigações policiais, Farhad Marvizi também contratou 'Paulo Falcão' para matar o chefe da Divisão de Repressão ao Contrabando e Descaminho da Receita Federal, José de Jesus Ferreira, responsável por fiscalizações contra os negócios ilegais de venda de aparelhos eletrônicos do iraniano.

O auditor da Receita sofreu um atentado, em Fortaleza, no dia 9 de dezembro de 2008, mas resistiu aos tiros. Marvizi foi condenado a 20 anos de prisão, por encomendar a tentativa de homicídio, em 2012.

Mesmo sem ter concluído a tarefa pela qual foi contratado, 'Falcão' passou a cobrar dinheiro de Marvizi. Após as seguidas cobranças e por ser conhecedor dos negócios ilegais do grupo criminoso, o eletricista 'Paulo Falcão' irritou o iraniano e passou de pistoleiro a alvo. Ele terminou morto no dia 2 de junho de 2009.

Em outra "queima de arquivo", o iraniano e o grupo de extermínio são acusados de matar o antigo comparsa Carlos Medeiros e a esposa dele, Maria Elisabeth Almeida Bezerra, em agosto de 2010. O casal colaborava com a Polícia Federal para desvendar outros crimes do estrangeiro. O duplo homicídio ainda não foi julgado.

Outras condenações na Justiça

Farhad Marvizi também foi condenado a 17 anos de prisão, em abril de 2022, por ordenar a morte do empresário Francisco Francélio de Holanda Filho, ocorrida no bairro Aldeota, em Fortaleza, em 8 de julho de 2010. O crime teria sido motivado por denúncias que Francélio fez contra o iraniano, sobre importações ilícitas. Acusado e vítima eram concorrentes do mercado de eletrônicos em Fortaleza.

Além do âmbito criminal, Marvizi já foi condenado duas vezes na Justiça Federal no Ceará: em 2015, a pena foi de 11 anos de prisão, por descaminho, corrupção ativa, formação de quadrilha e falsidade ideológica; e em 2017, também por descaminho, com pena de um ano de privação de liberdade, que foi substituída por restrição de direito (prestação de serviços à comunidade ou pagamento de cinco salários mínimos).

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