Saiba o motivo do novo adiamento do júri do iraniano acusado de chefiar grupo de extermínio no Ceará
A vítima morreu em uma pizzaria, no bairro Vila Manoel Sátiro, em junho de 2009
O júri do iraniano Farhad Marvizi e de um ex-policial militar foi novamente adiado pelo Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE). O julgamento de Ivanildo Mariano Silva e do estrangeiro que, durante anos, chefiou um grupo de extermínio no Ceará, estava programado para acontecer nesta quinta-feira (4). Agora é previsto para 29 de agosto de 2023.
A reportagem do Diário do Nordeste apurou que a sessão foi redesignada em razão da existência de outro júri já para esta quinta-feira, também na 5ª Vara do Júri da Comarca de Fortaleza, "no mesmo dia e horário em processo com réu preso em que presidirá a sessão a juíza titular da unidade, enquanto o juiz auxiliar está em férias".
O iraniano e o ex-policial militar são acusados pela morte do comerciante e ex-funcionário da Coelce, Francisco Cícero Gonçalves de Sousa, conhecido como 'Paulo Falcão'. A vítima morreu em uma pizzaria, no bairro Vila Manoel Sátiro, em junho de 2009.
Farhad Marvizi segue preso na Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso
Outras datas para o júri já tinham sido agendadas no processo. Primeiro, Farhad seria julgado no dia 6 de maio de 2020, como mandante do assassinato. O julgamento não aconteceu, e a nova data ficou para 9 de fevereiro de 2023.
Ainda no ano passado foi novamente remarcado, "em razão da inexistência de vaga no Presídio Federal de Campo Grande, para realização de sessão por videoconferência". Até semana passada seguia mantido para este mês de maio.
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PERFIL DE FARHAD MARVIZI
O iraniano tem uma extensa ficha criminal e já foi a júri por outros homicídios. Já em 2022, ele foi sentenciado a 17 anos de prisão, inicialmente em regime fechado, pela morte de um administrador em 2010, no Bairro Aldeota. Em 2012, foi condenado a 20 anos de prisão por tentativa de homicídio contra o auditor da Receita Federal José de Jesus Ferreira, ocorrida no dia 9 de dezembro de 2008, em Fortaleza.
A trama envolvendo o estrangeiro e seus comparsas é marcada por falsas amizades, negócios ilegais, traições e mortes. No caso de Marvizi e Paulo Falcão, a ligação entre eles começou no ano de 2008 por um motivo inusitado: altos gastos com contas de energia elétrica.
Paulo Falcão que, além de ter uma pizzaria, fazia bicos como eletricista, foi apresentado a Marvizi por um amigo em comum dos dois, o comerciante Carlos José Medeiros Magalhães. Por suas habilidades, Paulo foi contratado para fazer um "gato" na ligação de energia em dois imóveis do iraniano nos bairros Meireles, em Fortaleza, e Porto das Dunas, em Aquiraz.
Ligações clandestinas feitas e, consequentemente, contas mais baixas. Mas a parceria entre Paulo e o iraniano ia além. Farhad Marvizi "sofria" com as fiscalizações da Receita Federal contra os negócios ilegais de venda de aparelhos eletrônicos. Tentando burlar o fisco com a compra de mercadorias sem nota e contrabandeadas.
AMEAÇAS
O chefe da Divisão de Repressão ao Contrabando e Descaminho da Receita, José de Jesus Ferreira, passou a ser considerado inimigo número 1 do iraniano e teve a morte encomendada por ele. No dia 4 de dezembro de 2008, Tony contratou os "serviços" de Paulo Falcão para matar o auditor e ofereceu a quantia de R$ 15 mil, tendo pago R$ 4 mil adiantados.
Mesmo sem ter concluído o serviço pelo qual havia sido contratado, Paulo Falcão passou a cobrar de Marvizi o restante do dinheiro prometido. Após as seguidas cobranças e por ser conhecedor dos negócios ilegais do grupo criminoso, o eletricista 'Paulo Falcão' irritou o iraniano e passou de pistoleiro a alvo.
Conforme a denúncia do Ministério Público do Estado (MPCE), às 19h40 do dia 2 de junho de 2009, cerca de seis meses depois de ter tentado matar o auditor da Receita, 'Paulo Falcão' foi executado a tiros dentro da pizzaria dele.
O crime teve como mandante Marvizi, mas foi intermediado por Carlos Medeiros, que contratou o policial militar Ivanildo Mariano Silva para executar o crime, conforme a acusação
A análise das comunicações por meio de celular entre Marvizi, Carlos e Ivanildo colocaram os três nas imediações da cena do crime e em horários próximos aos do homicídio. Para o MP, não resta dúvida de que eles tramaram e executaram Paulo Falcão.
O iraniano e o policial militar Ivanildo foram denunciados por homicídio qualificado por motivo torpe e com meio que impossibilitou a defesa da vítima. Carlos Medeiros não chegou a ser denunciado, pois foi executado junto com a mulher Maria Elisabeth Almeida Bezerra, no dia 2 de agosto de 2010, cerca de um ano depois da morte de 'Paulo Falcão', também a mando de Marvizi em uma nova queima de arquivo.