Empresário investigado por ligação com esquema de 'Bebeto do Choró' está foragido
A esposa do prefeito eleito por Choró também foi alvo de uma operação da PF.
Um empresário, que atua nos ramos de óticas e transportes no Interior do Ceará, é considerado pela Justiça como foragido. Ele é suspeito de ser um dos operadores do esquema criminoso liderado pelo prefeito eleito de Choró, Carlos Alberto Queiroz, o 'Bebeto do Choró' - que também está foragido.
A reportagem apurou que o empresário Iago Viana Nascimento, de 33 anos, foi alvo de um mandado de prisão preventiva, na Operação Underlayer, deflagrada pela Polícia Federal (PF) no último dia 30 de outubro.
A PF tentou cumprir o mandado na residência de Iago, em um condomínio de luxo no Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Entretanto, o suspeito não estava no local.
Outro alvo da Operação foi a esposa de 'Bebeto do Choró', Maria Aurilene Martins Pinheiro. Ela foi detida, mas teve a prisão convertida em prisão domiciliar.
O cunhado de Iago Viana, identificado como Carlos Douglas, também foi alvo da ação policial. Contra ele, foram cumpridas medidas cautelares diversas da prisão.
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Operação autorizada pelo STF
A Operação Underlayer foi um desdobramento da Operação Underhand e tinha o objetivo de apurar o descumprimento de medidas judiciais de bloqueio de contas bancárias por parte de investigados ligados a um esquema de desvio de recursos públicos.
A PF cumpriu quatro mandados de busca e apreensão, nas cidades de Fortaleza, Eusébio e Canindé; três mandados de busca pessoal; e uma intimação para pagamento de fiança como medida cautelar substitutiva da prisão.
As medidas judiciais foram autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que também determinou o bloqueio de contas bancárias utilizadas para movimentações financeiras em desacordo com decisão judicial anterior.
teria sido movimentado pelos alvos da Operação, em contas bancárias, após decisão judicial que bloqueava as contas. A investigação aponta que esse valor tem origem em desvios de recursos públicos federais.
"A operação busca interromper a continuidade das práticas ilícitas e garantir a efetividade da persecução penal, além de preservar ativos para eventual reparação ao erário. Os crimes investigados incluem peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro", apontou a Polícia Federal, na divulgação da Operação.
Já a Operação Underhand foi deflagrada pela PF no dia 8 de julho deste ano, para cumprir outros 15 mandados de busca e apreensão expedidos pelo STF e cumpridos em Fortaleza, Eusébio, Canindé, Baixio e Nova Russas, no Ceará, além de Brasília, no Distrito Federal.
Na ocasião, o Supremo determinou também o bloqueio de R$ 54,6 milhões em contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas investigadas, segundo a Polícia Federal.
Atuação no esquema criminoso
A reportagem apurou que o empresário Iago Viana Nascimento é um dos proprietários de uma rede de óticas, apesar de não figurar como um dos sócios formais da empresa - que tem lojas nas cidades cearenses de Canindé, Aratuba, Campos Belos, Paramoti e Salitre.
Iago figura como sócio-administrador da empresa SFC Serviços, que atua com transporte escolar, segundo o Portal da Transparência do Governo Federal. A empresa disputou licitações de diversos municípios cearenses.
Conforme apuração do Diário do Nordeste, Iago é investigado por suspeita de ser um dos operadores do esquema criminoso liderado por 'Bebeto do Choró'. A empresa de transporte escolar seria favorecida em licitações e receberia repasses de emendas parlamentares, obtidas por 'Bebeto'.
Já a empresa de óticas também teria firmado um contrato com uma prefeitura cearense, para fornecer óculos para a população, mas a licitação foi suspensa por decisão judicial - por suspeita de ser utilizada como compra de votos.
O papel de 'Bebeto do Choró'
No dia 5 de dezembro do ano passado, a PF deflagrou a Operação Vis Occulta contra um esquema criminoso de compra de votos em dezenas de municípios cearenses. Bebeto teria papel central no crime devido a um suposto desvio de recursos de emendas parlamentares.
Segundo a Polícia Federal, foram realizadas dezenas de transferências de recursos financeiros para eleitores e candidatos, tanto por 'Bebeto' como por aliados. Os investigadores indicaram que o prefeito eleito cometeu abuso de poder econômico, que a rede criminosa chegou a envolver um oficial da Polícia Rodoviária Estadual (PRE).
O gestor eleito do município da região do Sertão Central seria o líder de um esquema de “caixa dois”, envolvendo contratos públicos direcionados para empresas vinculadas à organização criminosa. Como contrapartida, os recursos públicos provenientes dos repasses do Congresso eram destinados ao financiamento ilícito das campanhas eleitorais em cidades cearenses.
Em janeiro deste ano, o Diário do Nordeste noticiou que Bebeto teria contado com a ajuda de um tenente da PRE para colocar em prática o suposto esquema de compra e venda de votos nas Eleições 2024.
O relatório da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), feito a partir de uma investigação da Polícia Federal, traz prints de conversas no Whatsapp entre o político e um tenente.
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Em uma das conversas, o tenente diz a ‘Bebeto’ que estará na coordenação no Sertão Central de 24 de setembro a 7 de outubro de 2024 (período que engloba a votação das eleições) e que afastou o PM dos plantões na região.
Na nota do analista da Ficco que acompanhou as conversas é destacado uma “relação suspeita com a PRE”. “Bebeto conversa com o tenente sobre temas relacionados à política e à própria atuação da PRE, com troca perigosa e suspeita de favores, envolvendo Cleidiane, irmã de Bebeto”, conforme trecho do documento que o Diário do Nordeste teve acesso.
Em uma das conversas, Bebeto agradece ao PRE “por todo o apoio” e diz “até o dia 6… a eleição é nossa…”
Veja prints da conversa:
Desvio de dinheiro público
Outra conduta apontada ao denunciado é acerca dos contratos envolvendo a empresa MK Serviços, Construções e Transporte Escolar, que seria usada para desviar o dinheiro público. Durante as apurações, o grupo foi alvo de operações deflagradas pela PF e pelo Ministério Público do Ceará.
Ainda no início de 2025, o empresário Maurício Gomes Coelho, conhecido como "MK", o vereador por Canindé Francisco Geovane Gonçalves, o chefe de facção criminosa Guardiões do Estado (GDE) Francisco Flavio Silva Ferreira, o "Bozinho", outras 15 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por integrar uma organização criminosa que pratica o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro, no Município de Canindé, no Interior do Ceará.
A investigação partiu de uma denúncia feita pela então prefeita de Canindé, Rosário Ximenes (Republicanos). Em depoimento ao MP no ano passado, ela disse que, além de 'Bebeto', a irmã dele, Cleidiane de Queiroz Pereira, e Maurício Coelho teriam atuado para tentar influenciar o resultado eleitoral nas cidades de Madalena, Quixadá, Boa Viagem, Aquiraz, Itaitinga, Canindé e São Gonçalo do Amarante.
Além das cidades citadas pela ex-prefeita, os investigadores identificaram contratos da empresa para prestação de serviços com dezenas de municípios cearenses. Confira a lista de cidades:
- Acopiara;
- Alto Santo;
- Amontada;
- Apuiarés;
- Aracati;
- Aratuba;
- Barreira;
- Baturité;
- Camocim;
- Caridade;
- Choró;
- Coreaú;
- Farias Brito;
- General Sampaio;
- Guaiúba;
- Guaraciaba do Norte;
- Ibicuitinga;
- Independência;
- Iracema;
- Irauçuba;
- Itapajé;
- Itapipoca;
- Itatira;
- Juazeiro do Norte;
- Maracanaú;
- Massapê;
- Milagres;
- Mombaça;
- Nova Russas;
- Pacajus;
- Parambu;
- Paraipaba;
- Paramoti;
- Pedra Branca;
- Quiterianópolis;
- Quixeramobim;
- Russas;
- Saboeiro;
- Sobral;
- Tejuçuoca;
- e Viçosa do Ceará.
'Bebeto' chegou a ser preso temporariamente no dia 23 de novembro, mas foi solto com o término do mandado de prisão, que tinha validade de dez dias.
Naquela ocasião, ele havia sido alvo da Ad Manus, uma operação realizada pelo MPCE, Polícia Civil do Ceará (PCCE) e PF para combater irregularidades em contratos do Município de Choró.
O político foi diplomado por meio de uma procuração para o seu filho. Mas, em janeiro, no âmbito da Justiça Eleitoral, a 6ª Zona Eleitoral de Quixadá determinou que a chapa eleita de Choró, composta por Bebeto e pelo vice-prefeito Bruno Jucá (PRD), não fosse empossada.
No último mês de maio, o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) decidiu manter a cassação do prefeito eleito de Choró e do vice-prefeito.
A Corte ainda aplicou uma multa de R$ 53,2 mil, determinou a inelegibilidade do prefeito por 8 anos e ordenou a realização de novas eleições na Cidade.