Empresário investigado por ligação com esquema de 'Bebeto do Choró' está foragido

A esposa do prefeito eleito por Choró também foi alvo de uma operação da PF.

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Redação producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 09:53)
A foto mostra o empresário Iago Viana Nascimento, um homem de cor parda e cabelo preto, que veste uma blusa azul e uma calça bege. Ele usa um crachá. Atrás dele, há uma parede com um letreico, com a frase 'O sucesso não é solitário'.
Legenda: O empresário Iago Viana Nascimento é proprietário das empresas Nice Óticas e SFC Serviços (transporte escolar).
Foto: Reprodução/ Instagram.

Um empresário, que atua nos ramos de óticas e transportes no Interior do Ceará, é considerado pela Justiça como foragido. Ele é suspeito de ser um dos operadores do esquema criminoso liderado pelo prefeito eleito de Choró, Carlos Alberto Queiroz, o 'Bebeto do Choró' - que também está foragido.

A reportagem apurou que o empresário Iago Viana Nascimento, de 33 anos, foi alvo de um mandado de prisão preventiva, na Operação Underlayer, deflagrada pela Polícia Federal (PF) no último dia 30 de outubro.

A PF tentou cumprir o mandado na residência de Iago, em um condomínio de luxo no Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Entretanto, o suspeito não estava no local.

Outro alvo da Operação foi a esposa de 'Bebeto do Choró', Maria Aurilene Martins Pinheiro. Ela foi detida, mas teve a prisão convertida em prisão domiciliar.

O cunhado de Iago Viana, identificado como Carlos Douglas, também foi alvo da ação policial. Contra ele, foram cumpridas medidas cautelares diversas da prisão.

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Operação autorizada pelo STF

A Operação Underlayer foi um desdobramento da Operação Underhand e tinha o objetivo de apurar o descumprimento de medidas judiciais de bloqueio de contas bancárias por parte de investigados ligados a um esquema de desvio de recursos públicos.

A PF cumpriu quatro mandados de busca e apreensão, nas cidades de Fortaleza, Eusébio e Canindé; três mandados de busca pessoal; e uma intimação para pagamento de fiança como medida cautelar substitutiva da prisão.

As medidas judiciais foram autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que também determinou o bloqueio de contas bancárias utilizadas para movimentações financeiras em desacordo com decisão judicial anterior.

R$ 1,5 milhão
teria sido movimentado pelos alvos da Operação, em contas bancárias, após decisão judicial que bloqueava as contas. A investigação aponta que esse valor tem origem em desvios de recursos públicos federais.

"A operação busca interromper a continuidade das práticas ilícitas e garantir a efetividade da persecução penal, além de preservar ativos para eventual reparação ao erário. Os crimes investigados incluem peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro", apontou a Polícia Federal, na divulgação da Operação.

Já a Operação Underhand foi deflagrada pela PF no dia 8 de julho deste ano, para cumprir outros 15 mandados de busca e apreensão expedidos pelo STF e cumpridos em Fortaleza, Eusébio, Canindé, Baixio e Nova Russas, no Ceará, além de Brasília, no Distrito Federal.

Na ocasião, o Supremo determinou também o bloqueio de R$ 54,6 milhões em contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas investigadas, segundo a Polícia Federal.

Atuação no esquema criminoso

A reportagem apurou que o empresário Iago Viana Nascimento é um dos proprietários de uma rede de óticas, apesar de não figurar como um dos sócios formais da empresa - que tem lojas nas cidades cearenses de Canindé, Aratuba, Campos Belos, Paramoti e Salitre.

Iago figura como sócio-administrador da empresa SFC Serviços, que atua com transporte escolar, segundo o Portal da Transparência do Governo Federal. A empresa disputou licitações de diversos municípios cearenses.

Conforme apuração do Diário do Nordeste, Iago é investigado por suspeita de ser um dos operadores do esquema criminoso liderado por 'Bebeto do Choró'. A empresa de transporte escolar seria favorecida em licitações e receberia repasses de emendas parlamentares, obtidas por 'Bebeto'.

Já a empresa de óticas também teria firmado um contrato com uma prefeitura cearense, para fornecer óculos para a população, mas a licitação foi suspensa por decisão judicial - por suspeita de ser utilizada como compra de votos.

O papel de 'Bebeto do Choró'

No dia 5 de dezembro do ano passado, a PF deflagrou a Operação Vis Occulta contra um esquema criminoso de compra de votos em dezenas de municípios cearenses. Bebeto teria papel central no crime devido a um suposto desvio de recursos de emendas parlamentares.

Segundo a Polícia Federal, foram realizadas dezenas de transferências de recursos financeiros para eleitores e candidatos, tanto por 'Bebeto' como por aliados. Os investigadores indicaram que o prefeito eleito cometeu abuso de poder econômico, que a rede criminosa chegou a envolver um oficial da Polícia Rodoviária Estadual (PRE).

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Legenda: Bebeto teria papel central no crime devido a um suposto desvio de recursos de emendas parlamentares.
Foto: Reprodução/Instagram

O gestor eleito do município da região do Sertão Central seria o líder de um esquema de “caixa dois”, envolvendo contratos públicos direcionados para empresas vinculadas à organização criminosa. Como contrapartida, os recursos públicos provenientes dos repasses do Congresso eram destinados ao financiamento ilícito das campanhas eleitorais em cidades cearenses.

Em janeiro deste ano, o Diário do Nordeste noticiou que Bebeto teria contado com a ajuda de um tenente da PRE para colocar em prática o suposto esquema de compra e venda de votos nas Eleições 2024. 

O relatório da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), feito a partir de uma investigação da Polícia Federal, traz prints de conversas no Whatsapp entre o político e um tenente.

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Em uma das conversas, o tenente diz a ‘Bebeto’ que estará na coordenação no Sertão Central de 24 de setembro a 7 de outubro de 2024 (período que engloba a votação das eleições) e que afastou o PM dos plantões na região.

Na nota do analista da Ficco que acompanhou as conversas é destacado uma “relação suspeita com a PRE”. “Bebeto conversa com o tenente sobre temas relacionados à política e à própria atuação da PRE, com troca perigosa e suspeita de favores, envolvendo Cleidiane, irmã de Bebeto”, conforme trecho do documento que o Diário do Nordeste teve acesso.

Em uma das conversas, Bebeto agradece ao PRE “por todo o apoio” e diz “até o dia 6… a eleição é nossa…”

Veja prints da conversa:

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Desvio de dinheiro público

Outra conduta apontada ao denunciado é acerca dos contratos envolvendo a empresa MK Serviços, Construções e Transporte Escolar, que seria usada para desviar o dinheiro público. Durante as apurações, o grupo foi alvo de operações deflagradas pela PF e pelo Ministério Público do Ceará.

Ainda no início de 2025, o empresário Maurício Gomes Coelho, conhecido como "MK", o vereador por Canindé Francisco Geovane Gonçalves, o chefe de facção criminosa Guardiões do Estado (GDE) Francisco Flavio Silva Ferreira, o "Bozinho", outras 15 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por integrar uma organização criminosa que pratica o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro, no Município de Canindé, no Interior do Ceará.

A investigação partiu de uma denúncia feita pela então prefeita de Canindé, Rosário Ximenes (Republicanos). Em depoimento ao MP no ano passado, ela disse que, além de 'Bebeto', a irmã dele, Cleidiane de Queiroz Pereira, e Maurício Coelho teriam atuado para tentar influenciar o resultado eleitoral nas cidades de Madalena, Quixadá, Boa Viagem, Aquiraz, Itaitinga, Canindé e São Gonçalo do Amarante.

Além das cidades citadas pela ex-prefeita, os investigadores identificaram contratos da empresa para prestação de serviços com dezenas de municípios cearenses. Confira a lista de cidades:

  • Acopiara;
  • Alto Santo;
  • Amontada;
  • Apuiarés;
  • Aracati;
  • Aratuba;
  • Barreira;
  • Baturité;
  • Camocim;
  • Caridade;
  • Choró;
  • Coreaú;
  • Farias Brito;
  • General Sampaio;
  • Guaiúba;
  • Guaraciaba do Norte;
  • Ibicuitinga;
  • Independência;
  • Iracema;
  • Irauçuba;
  • Itapajé;
  • Itapipoca;
  • Itatira;
  • Juazeiro do Norte;
  • Maracanaú;
  • Massapê;
  • Milagres;
  • Mombaça;
  • Nova Russas;
  • Pacajus;
  • Parambu;
  • Paraipaba;
  • Paramoti;
  • Pedra Branca;
  • Quiterianópolis;
  • Quixeramobim;
  • Russas;
  • Saboeiro;
  • Sobral;
  • Tejuçuoca;
  • e Viçosa do Ceará.

'Bebeto' chegou a ser preso temporariamente no dia 23 de novembro, mas foi solto com o término do mandado de prisão, que tinha validade de dez dias. 

Naquela ocasião, ele havia sido alvo da Ad Manus, uma operação realizada pelo MPCE, Polícia Civil do Ceará (PCCE) e PF para combater irregularidades em contratos do Município de Choró.

O político foi diplomado por meio de uma procuração para o seu filho. Mas, em janeiro, no âmbito da Justiça Eleitoral, a 6ª Zona Eleitoral de Quixadá determinou que a chapa eleita de Choró, composta por Bebeto e pelo vice-prefeito Bruno Jucá (PRD), não fosse empossada.

No último mês de maio, o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) decidiu manter a cassação do prefeito eleito de Choró e do vice-prefeito. 

A Corte ainda aplicou uma multa de R$ 53,2 mil, determinou a inelegibilidade do prefeito por 8 anos e ordenou a realização de novas eleições na Cidade.

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