De toque na maçaneta da porta à saliva no local de crime: conheça analisador de DNA usado no FBI e que chega ao Ceará

A partir da extração e análise dos perfis genéticos, os dados são colocados em um sistema, e confrontados até mesmo com DNA dos presos no Sistema Penitenciário, que cometeram crimes hediondos

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Emanoela Campelo de Melo emanoela.campelo@svm.com.br
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Legenda: Samyra explica que a validação pelo FBI indica que este aparelho já é "bem divulgado nos EUA, não só em laboratórios periciais, mas também nos particulares".
Foto: Emanoela Campelo de Melo

Poucos vestígios em uma cena de crime podem ser suficientes para as autoridades desvendarem quem esteve no local e chegarem aos autores da ação. O 'Spectrum', novo aparelho com tecnologia que chega ao Ceará e já usado pelo FBI, Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos da América, promete revolucionar a elucidação de crimes no Estado.

Adquirido por quase R$ 1 milhão, o aparelho analisa amostras coletadas no local de crime, por exemplo. Basta uma pequena quantidade de DNA, que pode ser extraído pelo perito a partir de um "um toque na maçaneta, em um copo, em uma garrafa que a pessoa tenha usado no local do crime. Até mesmo usando luvas, pode-se deixar vestígios por saliva", disse a coordenadora de Análises Laboratoriais Forenses da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), Samyra Brasil.

O Diário do Nordeste foi até a Pefoce ver o aparelho em funcionamento. Em entrevista concedida à reportagem, Samyra destacou que além de importante para a análise dos vestígios coletados no local de crime, o 'Spectrum' pode auxiliar a identificar autores de crimes sexuais, assim como identidades de vítimas que tiveram corpos carbonizados, a partir do DNA em ossada humana.

"Antes a gente trabalhava com 23, agora são 35 marcadores. A gente trabalha com DNA em pequena quantidade, então quanto mais sensibilidade a gente tiver, melhor para o resultado. O DNA é um exame caro, demorado e este é um avanço tecnológico muito grande, que nos deixa mais perto de solucionar crimes".
Samyra Brasil

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A partir da extração e análise dos perfis genéticos, os dados são colocados em um sistema, e confrontados até mesmo com DNA dos presos no Sistema Penitenciário, que cometeram crimes hediondos. 

FBI

O analisador genético é capaz de processar até 384 amostras de DNA, simultaneamente. Samyra explica que a validação pelo FBI indica que este aparelho já é "bem divulgado nos EUA, não só em laboratórios periciais, mas também nos particulares".

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Legenda: Na Coordenadoria de Análises Laboratoriais Forenses o avanço foi ainda mais expressivo: passou de 13.436 laudos em 2023, para 21.814 em 2024, equivalente a um aumento superior a 60%.
Foto: Emanoela Campelo de Melo

Na entrega, o governador do Ceará, Elmano de Freitas, disse que "esse equipamento é o único existente no Brasil e foi validado pelo FBI dos Estados Unidos. Nós já tínhamos um equipamento com boa qualidade, e agora aumentamos mais essa qualidade. O que nos permite ter celeridade, um grande ganho, e mais qualidade na informação produzida. O trabalho da Perícia Forense e da Polícia Civil será muito mais acelerado. A investigação fica muito mais favorecida".

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O perito-geral da Pefoce, Júlio Torres, acrescenta que "o equipamento anterior tinha uma sequência de realização de exames que demorava até 12 horas para sair uma placa com 96 amostras. O novo funciona com quatro placas ao mesmo tempo, e possibilita que uma amostra seja inserida nessa fila virtual, onde pode ser processado resultado de oito amostras em até 20 minutos".

"No caso do DNA, nós também temos um banco de dados importante, que possibilita que possa ser utilizado material genético coletado em locais de crime. Hoje, temos o Spectrum, um equipamento de alta sensibilidade, entregue recentemente pelo, que permite a identificação de traços de DNA em locais de crime. Esse traço pode ser comparado com o banco de dados, trazendo as autorias de alguns crimes. Então, é muito importante ter o material coletado também dos suspeitos dos crimes, para que possamos fazer essa comparação e trazer respostas para a Polícia Judiciária"
Júlio Torres

LAUDOS

Estatísticas da Perícia Forense do Ceará indicam que 2024 terminou com crescimento de quase 15% no número de laudos emitidos, comparado com o quantitativo de 2023: "Ao todo, foram realizados 98.106 exames, superando os 85.481 laudos registrados em 2023".

Na Coordenadoria de Análises Laboratoriais Forenses o avanço foi ainda mais expressivo: passou de 13.436 laudos em 2023, para 21.814 em 2024, equivalente a um aumento superior a 60%.

Júlio considera que os investimentos do governo em tecnologia e o reforço de pessoal, com a nomeação de novos peritos e auxiliares de perícia, "são os grandes responsáveis por esse crescimento em 2024. Nossos setores se fortaleceram com o recebimento de vários equipamentos, entregues recentemente pelo Governo do Estado. Na Pefoce, trabalhamos de segunda a segunda com um campo vasto de investigação, e buscamos, cada vez mais, contribuir de forma eficiente com a persecução penal no Ceará", disse.

O perito-geral acrescenta também o papel crucial da perícia "dentro do sistema de Segurança Pública, no qual, efetivamente, nós realizamos o trabalho de perícia técnica produzindo laudos de qualidade. Esses laudos vão compor os inquéritos policiais e, em seguida, os processos judiciais, para que a perícia exerça seu papel no auxílio da materialidade e definição de autoria de crimes aqui no Estado do Ceará".

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