Após ataques a provedores de internet no Ceará, Polícia Federal é acionada para auxiliar nas investigações
A facção carioca Comando Vermelho estaria por trás das ameaças
Os últimos episódios de ameaças, extorsões e até ataques aos provedores de internet no Ceará levaram a Polícia Federal a ser acionada para auxiliar nas investigações por meio da formulação da estratégia de enfrentamento à facção carioca Comando Vermelho (CV), apontada como a mandante dos crimes.
A reportagem apurou junto a fontes ligadas à Inteligência da Segurança Pública que nessa sexta-feira (28) a PF participou de uma reunião sobre este tema. O Diário do Nordeste buscou saber junto à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) se há suspeitos presos pelos ataques aos provedores, mas não teve resposta.
Há informações de que as ameaças estão se disseminando no Interior do Ceará, além dos registros que já vinham sendo feitos em Fortaleza e Região Metropolitana. Uma fonte ouvida pela reportagem disse que neste momento "estelionatários estão se aproveitando da situação para também agir em nome da facção".
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) divulgou nota dizendo estar acompanhando os casos no Estado: "a Agência inicialmente tomou conhecimento dos fatos por meio da imprensa e de relatos advindos de entidades representativas do setor. A partir de tais relatos, a Agência tem enviado esforços para acompanhar atentamente os acontecimentos, guardando estreita cooperação com as forças de segurança locais, representadas pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará, com vistas a zelar pela integridade da infraestrutura de prestação dos diversos Serviços de Telecomunicações ofertados aos cearenses por inúmeras operadoras".
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ORDENS DA FACÇÃO
Nas últimas semanas o Comando Vermelho avançou no controle do provedor de internet que os moradores devem utilizar, o que está sendo denominado de "licitação" (em analogia ao procedimento legal realizado pelo Poder Público); e proibiu o acesso de empresas a algumas regiões, na Capital e no Interior.
Já nessa quinta-feira (27) foram registrados dois ataques no Distrito de Pecém, em São Gonçalo do Amarante, RMF. Criminosos cortaram fios de postes nas ruas e também invadiram um compartimento onde estavam equipamentos e a marretadas e pauladas quebraram os aparelhos.
A Alloha Fibra, dona da marca Giga +, uma das empresas afetadas, confirmou a ocorrência do fato (ataque filmado) e disse que a "empresa agiu rapidamente e reestabeleceu os serviços dos clientes afetados às 14h30 desta quinta-feira, dia 27".
No dia seguinte ao ocorrido, a reportagem recebeu relatos de que "as empresas provedoras de Internet, no Pecém, estão com medo de irem à rua, por conta das ameaças do CV". Carros caracterizados foram vistos parados no distrito.
INCÊNDIOS
Dois veículos de operadoras de internet pegaram fogo em Fortaleza, neste mês de fevereiro. A principal suspeita da Polícia é que os incêndios tenham origem criminosa, motivada pelo controle das facções ao acesso das empresas.
A empresa Brisanet confirmou, por nota, que "vem enfrentando problemas de segurança pública em determinadas regiões de Fortaleza (CE)" e garantiu que "prioriza a proteção de seus empregados e tem tomado, internamente, medidas preventivas para garantir a integridade física dos colaboradores. Adicionalmente, está estudando maneiras de restabelecer serviços prejudicados. A Brisanet segue acompanhando de perto a situação, tendo como prioridade a segurança de seus empregados e clientes".
O Diário do Nordeste recebeu também relatos de que empresários, proprietários de operadoras de internet, foram ameaçados e obrigados a pagar um valor para criminosos, para serem autorizados a funcionar em cidades da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), como Caucaia e São Gonçalo do Amarante; e do Interior do Estado, como Sobral.
Uma fonte da Inteligência da SSPDS afirmou que "os empresários das operadoras estão desesperados. Um perdeu três mil clientes e outro, mil clientes. Na região do Pecém, na Caucaia, estão rolando ameaças. No Pirambu, Quintino Cunha, está acontecendo isso de 'licitação'. Eles (empresários) não querem se render aos traficantes, porque entendem que assim vão se aliar à organização criminosa e que, depois, se não pagarem, podem até ser mortos".
"Se a operadora quiser funcionar, tem que pagar um pedágio. Quem não paga, eles vão na caixa de distribuição e quebram, botam os funcionários da operadora para correr, incendeiam os carros",
DENÚNCIAS
Por nota, a SSPDS disse que "a Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), por meio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e com o apoio da Coordenadoria de Inteligência (Coin) da SSPDS, realiza investigações e diligências no intuito de identificar a atuação de grupos criminosos contra provedores de internet. A investigação transcorre sob segredo de Justiça e mais informações serão repassadas em momento oportuno, no intuito de não prejudicar as diligências policiais".
A Polícia Civil reforçou "a importância do registro de Boletim de Ocorrência (BO), por meio do qual podem ser repassadas informações que contribuam para as investigações policiais. O Boletim de Ocorrência pode ser registrado presencialmente, em qualquer unidade da PCCE, ou por meio da Delegacia Eletrônica (Deletron), disponível no site www.delegaciaeletronica.ce.gov.br, a qualquer hora do dia ou da noite. A Deletron atende todo o Estado do Ceará".
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