Professor mantém projeto para formação cidadã e esportiva na zona rural de Quixelô
Jovens aprendem fundamentos de futebol e voleibol e podem garantir renda com aprendizado em artesanato.
Foi graças à visão do professor e educador físico do Instituto Federal de Educação do Ceará (IFCE), do campus de Iguatu, Gilberto Gomes, que surgiu um projeto inovador no sítio Tapuia, em Quixelô, na região Centro-Sul cearense, com o objetivo de reunir 60 crianças em situação de risco social e promover formação cidadã através do esporte.
A pandemia do novo coronavírus suspendeu, desde março de 2020, as atividades do projeto que é realizado pela Associação Esportiva Barcelona do Tapuio, mas com a melhoria do quadro epidemiológico, em outubro próximo, as matrículas devem ser reabertas e as aulas serão retomadas.
O professor Gilberto Gomes nasceu e cresceu na comunidade pobre do Tapuio, cujo nome guarda a origem da etnia indígena do lugar. Ao concluir o ensino médio em escola pública, ingressou no curso de Educação Física da Universidade Regional do Cariri (Urca) e, em 2010, foi aprovado em concurso para o IFCE.
Quatro anos após o início das atividades docentes na instituição federal, Gomes começou a colocar em prática suas ideias, "sempre de cunho transformador social e individual, dando oportunidades de crescimento e aprendizagem para as crianças”.
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Incentivo profissional
Adquiriu por conta própria, em 2014, bolas, coletes, apitos, redes, cartões e outros materiais e começou a realizar o sonho que guardava desde a adolescência.
“Sempre acreditei que mesmo com pouco, podemos fazer muito, começar, pelo menos, para dar o exemplo e buscar incentivos e apoios”, pontua Gomes. “Sou da comunidade e via as crianças desassistidas”.
No campo de chão batido, surgiram as primeiras aulas teóricas sobre fundamentos do futebol e do voleibol. Outras crianças vieram de outras localidades do entorno.
“Temos palestras de educação em saúde, preservação ambiental e prevenção às drogas”, diz o docente.
Além do futebol e do voleibol, há prática de ciclismo e recentemente surgiu a confecção de redes de proteção para as traves, feitas de forma artesanal por adolescentes da comunidade como forma de aprendizagem de uma atividade profissional e renda.
A Associação é registrada e permite receber incentivos de empresas e de pessoas físicas com desconto no Imposto de Renda, com cadastro assegurado na lei federal de incentivo ao esporte. “Queremos retomar as atividades e precisamos de apoio”, reforça Gomes.
Esforços que inspiram
Ítalo Martins e Diego Lopes são adolescentes que integram o projeto social e aprenderam a confeccionar as redes esportivas. “Antes não tinha o que fazer quando voltava da escola, ficava só brincando ou no celular”, diz Ítalo. “Para mim, está sendo um aprendizado muito bom”, afirma Diego.
A venda das redes esportivas ainda é reduzida e atende apenas demanda de particulares, mas já permite retorno de 10% para os jovens aprendizes da confecção de fio.
Os pais mostram-se satisfeitos com o desenrolar do projeto e a participação dos filhos. “Tomara que essa pandemia passe logo para as aulas recomeçarem”, disse o agricultor Alfredo de Almeida Filho, que costuma levar o filho e acompanhar seu desempenho nas aulas e oficinas de artesanato.
A dona de casa Geuza Oliveira também disse estar satisfeita com o ingresso do filho no projeto. “É muito bom porque dá saúde e ele aprende muitas coisas boas”.
Para a pedagoga Ieda Couras, “o projeto é mais um exemplo de inclusão social, que vai transformar vidas, permitir a prática do esporte, do lazer e da educação em sentido amplo, com responsabilidade social”.