Quaest Fortaleza: qual o perfil ideológico dos eleitores de Fortaleza na 3ª rodada da pesquisa
Grupo sem posicionamento político evidencia desconfiança nas instituições e nos candidatos, como avaliam especialistas
Com qual grupo político o eleitor de Fortaleza mais se identifica? A 3ª rodada da pesquisa Quaest, divulgada nessa quarta-feira (25), apresenta algumas respostas: a maioria (31%) não tem um posicionamento definido, seguida por 21% que se considera "Lulista/Petista" e 17% que "Não é Bolsonarista, mas mais à direita".
Além disso, 14% diz que “Não é Lulista/Petista, mas mais à esquerda”, outros 14% se identificam como “Bolsonaristas” e apenas 3% não souberam responder ou não responderam à consulta.
A margem de erro dessa pesquisa é de três pontos percentuais para mais ou para menos e o índice de confiança é de 95%. O levantamento foi encomendado pela TV Verdes Mares e ouviu 900 eleitores com 16 anos ou mais de Fortaleza, entre os dias 22 e 24 de setembro. A soma dos percentuais pode não totalizar 100% em decorrência de arredondamentos.
Dentre esses grupos políticos, qual você mais se identifica?
- Não tem posicionamento: 31%
- Lulista/Petista: 21%
- Não é Bolsonarista, mas mais à direita: 17%
- Não é Lulista/Petista, mas mais à esquerda: 14%
- Bolsonarista: 14%
- NS/NR (não sabe/não respondeu): 3%
A primeira rodada da pesquisa Quaest também apresentou o perfil ideológico do eleitor fortalezense, com entrevistas feitas de 19 a 21 de agosto. Os dados divulgados no dia 22 de agosto apresentam um cenário bem semelhante à mais recente publicação, com 29% dos eleitores sem posicionamento, 23% lulista/petista e 17% não bolsonarista, mas é mais à direita. Confira a variação:
Mas, afinal, o que é ser “lulista” ou “bolsonarista” e como isso influencia a dinâmica da escolha entre os candidatos à Prefeitura de Fortaleza? O PontoPoder ouviu especialistas sobre o tema para traduzir os dados do perfil ideológico apresentados pela Quaest.
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Lulista ou bolsonarista?
Os termos “lulista”, “petista” e “bolsonarista”, por exemplo, significam muito mais do que apenas o apoio aos líderes ou partidos políticos, como reflete Mariana Andrade, doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e professora na Universidade de Fortaleza (Unifor).
Entre petismo e lulismo, inclusive, há uma diferença. A especialista enxerga o primeiro como o movimento político-social de esquerda com raízes nas propostas trazidas pelo Partido dos Trabalhadores.
“Como a transformação social via participação coletiva, que, em teoria, funcionaria como um levante popular contra classes dominantes. Essa ideia foi remodelada ao longo dos anos para dar lugar ao ‘lulismo’”, adianta.
Esse outro termo, então, é definido como uma postura mais inclinada às pautas de ordem social, com propostas de inclusão sem radicalização ou transformações estruturais na sociedade, na visão de Mariana.
“Esse movimento à esquerda tem apresentado uma representatividade numérica forte entre os eleitores de Fortaleza”, considera.
Já o bolsonarismo tem como principal característica a predileção pelo conservadorismo e por pautas de costumes ao invés do enfrentamento às questões sociais, “enaltecendo um liberalismo que se limita à atuação do Estado na economia”, reflete Mariana.
Contudo, contraditoriamente, isso não se aplica às liberdades individuais e há um apreço pela retórica de defesa da família, reunindo ideias da teologia e do populismo como principais elementos do discurso, de acordo com a especialista.
Em comum, os dois lados passam por mudanças de configuração e estão se “descolando” dos principais nomes.
“Enquanto muitos eleitores se decepcionaram com a falta de prioridade para determinadas pautas propostas na campanha presidencial de Lula, outros reconsideram se o partido merece mesmo outra chance em 2026”, reflete.
No bolsonarismo, essas transformações são ainda mais intensas. “Novos nomes surgiram e o extremismo passou a ser representado por figuras midiáticas que estimulam a polarização e afastamento do diálogo com outras legendas”, conclui.
Grupo sem posicionamento
As duas pesquisas Quaest mostram que três a cada 10 eleitores de Fortaleza não têm um posicionamento político. Mas é, especificamente, esse grupo que pode ser responsável pela eleição do próximo gestor municipal, como avalia Cleyton Monte, professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
"Quem vai decidir, de fato, a eleição numa cidade como Fortaleza é justamente o eleitor de centro, que nem é bolsonarista, nem é lulista, não tem definição... Geralmente, são pessoas que vão definir o voto muito próximo do dia 6 de outubro", acrescenta o especialista.
Cleyton contextualiza que esse grupo pode mudar mais fácil de candidato por não ter posicionamento e, por isso, são mais imprevisíveis e influenciáveis com situações de última hora. "É um grupo que se distancia do debate político, que vota branco e nulo, demoniza a política e é indiferente", pontua.
Muitas vezes as pessoas não querem revelar isso com medo de alguma represália ou alguma crítica, algum tipo de perseguição e não quer entrar no debate sobre polarização até porque está muito acirrado
Mariana avalia que, neste ano, essa falta de posicionamento também pode estar ligado à desconfiança nas instituições e nos candidatos.
“Os próprios embates entre candidatos evidenciam muito mais a virulência nos discursos do que a existência de propostas e enfrentamento a questões reais. Também pode apontar que as pessoas não se sentem representadas ou motivadas a participar”, considera Mariana.
Entre os efeitos disso está uma possível “apatia generalizada”, afastando os eleitores do debate público e do engajamento nas urnas.
Impacto para as eleições
Mariana Andrade divide os eleitores em três grupos: os que já estão com a escolha definida, os indecisos e os que ainda estão em busca de informações sobre candidatos e os projetos.
“Esse cenário requer atenção, porque os eleitores realmente indecisos ou nesse contexto de busca, podem determinar os rumos da eleição de 2024 movidos por factoides de última hora ou por maior rejeição pessoal a algum candidato”, frisa.
A polarização entre os candidatos à Prefeitura de Fortaleza também pode intensificar as emoções e divisões entre o eleitorado, levando a um ambiente de confronto e tensão, de acordo com a especialista.
“Isso pode resultar em uma mobilização maior de apoiadores, mas também no afastamento de eleitores indecisos que podem se sentir incomodados com a radicalização”, completa.
Além disso, a redução do interesse do eleitorado no debate público pode limitar o espaço para a discussão sobre as propostas, fazendo com que a escolha seja mais baseada em lealdades partidárias ou figuras carismáticas do que em análises críticas das plataformas.
Posicionamento construído
O posicionamento político do fortalezense está marcado pelo histórico das gestões municipais, como observa Mariana Andrade. As siglas do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e Partido Democrático Trabalhista (PDT), no período recente, são as mais representativas.
“À exceção de Maria Luiza Fontenele, em 1986, e Luizianne Lins, entre 2005 e 2012, ambas do PT”, pondera. A especialista considera que o tradicionalismo político-partidário não tem resultado em melhora objetiva na qualidade de vida do eleitor.
A população, como analisa, vota movida por interesses mais imediatos e individuais. “Assim, abre-se espaço para a abertura do espectro ideológico”, acrescenta.
Hoje, os eleitores da capital são mais tendentes à esquerda que à direita, muito em razão da liderança hegemônica de Camilo Santana e da herança deixada pela fragmentação do PDT
Porém, nada é definido. As inclinações são parte de um comportamento eleitoral de médio alcance, “que pode mudar de maneira drástica às vésperas das eleições majoritárias”.