O que está em jogo na demora de Cid Gomes em definir futuro partidário após crise no PDT
A decisão foi adiada por duas vezes e, agora, está prevista para ser anunciada na próxima segunda-feira (18)
Um mês se passou desde que a ala liderada pelo senador Cid Gomes (PDT) dentro do PDT fez movimentos contundentes para deixar a sigla. Desde então, apesar das diversas reuniões realizadas, inclusive em Brasília, a definição de qual será o destino partidário do grupo continua em aberto.
Previsto inicialmente para o dia 4 de dezembro, o anúncio foi adiado por duas vezes e está agendado agora para a próxima segunda-feira (18). O motivo: "Apurar o máximo as informações" sobre as siglas que podem abrigar os dissidentes do PDT, explicou o senador Cid Gomes nessa segunda-feira (11). A decisão — que será "coletiva", garante o ex-governador — deve pesar os prós e contras.
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"Não existe o mundo perfeito. Tem um partido que tem uma vantagem assim, mas tem uma desvantagem. E como o meu desejo é que essa decisão seja coletiva, eu quero apurar o máximo as informações (das) alternativas que a gente tem", disse Cid, ressaltando que "quanto mais alternativas, melhor".
Duas siglas têm se apresentado como as maiores possibilidades de desembarque do grupo: Podemos e PSB. Contudo, existem entraves. No caso do Podemos, o posicionamento da sigla no Congresso Nacional é um problema, já que muitos dos parlamentares desse partido são oposicionistas ao Governo Lula (PT).
No caso do PSB, a perspectiva de uma federação com o PDT para 2026 também pode ser um problema, além de uma possível negociação a nível nacional para que a sigla apoie a reeleição do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT) — possibilidade que tem sido afastada pelo atual presidente do PSB Ceará, Eudoro Santana.
Além disso, existem riscos para os deputados estaduais e federais, uma vez que a Executiva nacional do PDT já disse que irá requerer na Justiça o mandato dos parlamentares que tentarem sair da sigla antes da janela partidária, ainda que usem a carta de anuência concedida pelo diretório estadual. Soma-se a isso a aproximação da data da próxima eleição para a Executiva estadual do PDT.
Demora é 'normal'
Aliados ao senador Cid Gomes consideram natural a demora na definição do novo partido do grupo. O deputado estadual Marcos Sobreira (PDT) destacou que a decisão "altera o destino político de 500 lideranças".
Pelo menos, 43 prefeitos cearenses anunciaram a intenção de se desfiliar do PDT. Além deles, nove deputados estaduais titulares, cinco suplentes, e quatro deputados federais, e dois suplentes pediram carta de anuência ao PDT Ceará — que, apesar de aprovadas pelo diretório, foram anuladas pela Executiva nacional, sob comando interino do deputado federal André Figueiredo (PDT).
Contudo, o cálculo de Sobreira leva em conta também os vereadores que devem sair do PDT em diversas cidades do estado, além de pré-candidatos a prefeito e a vereador, além de lideranças municipais. "É uma decisão muito importante. (...) Tem que ter muita prudência, para não cometer erros", ressalta.
Deputado estadual em exercício, Guilherme Bismarck (PDT) afirma que a "demora é normal". "São muitas circunstâncias que têm que ser levadas em consideração", ressaltou.
Ao adiar, novamente, a reunião para definir o futuro partido, Cid Gomes pediu a "compreensão" dos aliados e disse que o motivo era a necessidade de "dialogar com todos e informar, da melhor maneira possível, as alternativas que teremos". "Esses contatos serão feitos ao longo desta semana, em Brasília", disse na última segunda.
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O deputado estadual Sérgio Aguiar (PDT) disse que deve estar na capital federal nesta semana e pretende "manter alguns contatos também". Ele ressaltou que a decisão de sair do PDT continua a ser "coletiva", o que foi corroborado pelo colega de bancada, Osmar Baquit (PDT), que ressaltou que Cid procura um novo partido para "todos nós".
Sobre o assunto, Cid Gomes declarou que existe o "esforço" para que todos os pedetistas dissidentes desembarquem na mesma sigla. "Eu só vou estar plenamente satisfeito se todo esse conjunto de lideranças, todos forem para um lugar só. Esse é meu maior desejo", ressaltou.
Diferença nos posicionamentos
O Partido dos Trabalhadores chegou a ser um dos partidos cotados para receber o senador Cid Gomes, após o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), dizer que o presidente Lula (PT) o pediu para convidar Cid para se filiar ao PT.
Contudo, essa opção acabou sendo descartada após o líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT) rebater que "o PT não é uma porteira aberta para entrar quem quer não" e o presidente do PT Ceará, Antônio Filho (Conin), falar que seria "complicado acomodar o grupo inteiro" no partido.
"Eu recebi um convite para ir, mas que não poderiam abrigar as pessoas que estão comigo. Então, óbvio que isso não faz sentido"=
Indagado sobre quais são os partidos que estão dialogando com o grupo, ele disse ser uma questão de "gentileza" e "delicadeza" não elencar. Outras duas legendas citadas, mas com menos força são o PSD e o PRD — esse último recém criado e atualmente na base do prefeito José Sarto.
Existem, no entanto, ponderações feitas tanto ao Podemos como ao PSB que envolvem questões nacionais.
Presidida pelo prefeito de Aracati, Bismarck Maia, no Ceará, o Podemos possui uma bancada no Congresso Nacional dividida entre governistas e oposicionistas. Na Câmara dos Deputados, apesar de contar com parlamentares que votam com o Governo Lula, o Podemos tem também um dos vice-líderes da Oposição, o deputado Maurício Marcon (Podemos-ES).
Atualmente, os cinco deputados federais do PDT são da base aliada ao presidente Lula — incluindo os quatro aliados a Cid Gomes e o deputado André Figueiredo, que é da ala adversária ao senador no PDT Ceará.
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No Senado, a bancada do Podemos também conta com senadores da oposição, inclusive alguns que apoiaram a candidatura à reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como Marcos do Val (Podemos-ES) e Zequinha Marinho (Podemos-PA).
No caso do PSB, os riscos passam por articulações nacionais e locais. Para 2026, o partido negocia a possibilidade de formar uma federação partidária justamente com o PDT, com a meta de fortalecer a bancada no Congresso Nacional. Diálogos, no entanto, também envolvem as eleições municipais de 2024.
O PSB Ceará emitiu nota, no dia 1º de dezembro, reafirmando que irá apoiar, no próximo ano, o candidato da aliança do governador Elmano de Freitas (PT) para a Prefeitura de Fortaleza. O comunicado foi feito após crescerem as especulações de que o PDT pressionaria o PSB para que o partido, em troca do apoio à reeleição de João Campos em Recife, apoiasse a candidatura de Sarto.
"Declarar, para que não existam dúvidas, que o PSB do Ceará apoiará o candidato a prefeito de Fortaleza que será lançado pelo conjunto de partidos que apoiam o Governo de Elmano Freitas e o Projeto do 'Ceará cada vez mais forte'"
Risco para o mandato de deputados
Outro impasse dificulta a debandada dos aliados a Cid Gomes: o risco aos mandatos de deputados federais e estaduais, assim como dos suplentes a estes cargos. Tanto Cid Gomes como os prefeitos podem pedir a desfiliação a qualquer momento, já que foram eleitos em disputa majoritária.
Este não é o caso dos deputados, já que tanto a nível federal como estadual, o cargo é proporcional — ou seja, o mandato pertence ao partido. Apesar de terem tido cartas de anuência aprovadas no dia 8 de novembro pelo PDT Ceará sob comando de Cid Gomes, os documentos foram anulados pela Executiva nacional do partido.
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Na mesma época, o presidente nacional interino do PDT, André Figueiredo, prometeu que a sigla irá requerer na Justiça o mandato de todos aqueles que tentarem usar a carta de anuência para sair da legenda por infidelidade partidária.
“Qualquer parlamentar que se utilizar de uma carta de anuência nula para pedir desfiliação por justa causa, o partido não vai apenas contestar, o partido vai requerer de imediato o mandato daquele parlamentar por infidelidade partidária, não vamos ficar só na defensiva”
A questão pode acabar adiando a saída de deputados federais e estaduais, além dos suplentes, apenas para 2026.
Também eleitos de forma proporcional, para os vereadores a situação é mais simples. Mesmo que não sejam validadas cartas de anuência para a desfiliação, eles podem trocar de partido sem risco de perder o mandato durante a janela partidária em 2024 — período de 30 dias onde é autorizada a migração partidária de parlamentares que irão concorrer nas eleições daquele ano sem risco para o mandato.
Presidência do PDT Ceará
Com recorrentes adiamentos para a definição do partido, um outro prazo está cada vez mais próximo: o fim do mandato da atual Executiva estadual do PDT. Após uma batalha judicial, Cid Gomes acabou conseguindo manter a presidência do diretório do Ceará, mas, mesmo que não fosse sair, o mandato encerraria no dia 31 de dezembro.
Com isso, uma nova eleição deve ser realizada entre o final deste ano e o início de 2024. Indagado sobre como será a disputa, André Figueiredo respondeu apenas que o mandato encerra no final de dezembro e "daqui até lá, resolveremos".