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General Theophilo diz que foi ouvir 'lamentações de Bolsonaro' e nega conhecer plano de golpe

Em depoimento à Polícia Federal, cearense general da reserva disse não ter participado de articulações para suposto golpe de Estado

Escrito por Jéssica Welma, Flávia Rabelo ,
General da reserva Estevam Theophilo
Legenda: General da reserva Estevam Theophilo é irmão do também general Guilherme Theophilo, que foi candidato ao Governo do Ceará em 2018
Foto: Divulgação/Alberto César Araújo/Assembleia do Amazonas

O general da reserva, ex-comandante do Comando de Operações Terrestres (Coter), Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, negou qualquer envolvimento com suposta tentativa de golpe de Estado no final do Governo Bolsonaro. Ele foi envolvido nas investigações após ser citado em conversas obtidas pela PF no celular do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid.

Em depoimento à Polícia Federal, cujo sigilo foi derrubado nesta sexta-feira (15), pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, Theophilo disse ter participado de três encontros com o presidente, um para tratar de "assuntos corriqueiros", outro para "ouvir lamentações do então presidente da República sobre o resultado das eleições" e um terceiro para entregar um presente institucional ao então presidente. 

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Estevam Theophilo prestou depoimento à PF, em Fortaleza, no dia 23 de fevereiro. Semanas antes, ele havia sido alvo de busca e apreensão na operação "Tempus Veritatis", por ter supostamente concordado com a tentativa de golpe para manter Bolsonaro no poder. A participação teria sido apontada em conversas apreendidas no celular do ex-ajudantes de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.

O general, no entanto, negou ter encontros pessoais com Mauro Cid e qualquer relação próxima ou de contemporaneidade com Bolsonaro. Sobre as visitas que fez ao Palácio da Alvorada, todas teriam acontecido, segundo ele, após o segundo turno e a pedido do general Freire Gomes, então comandante do Exército. 

Ele ainda negou participar ou ter conhecimento de reuniões entre Forças Especiais do Exército para tratar sobre o Golpe de Estado. Respondeu também que não participou da elaboração "Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro", publicada em novembro de 2022.

Segundo o relatório do depoimento, "questionado se o documento intitulado 'Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro' foi feito para pressionar o general Freire Gomes a aderir ao Golpe de Estado, respondeu que não concorda com o conteúdo da carta divulgada pelos oficiais da ativa, que foi um ato de indisciplina reprovável, pois é vedado a assinatura coletiva e o encaminhamento de documento de oficiais superiores ao Comandante do Exército, quebrando a cadeia hierárquica". 

Disse ainda que "se recorda que o General Freire Gomes ficou bastante indignado com a publicação da carta". Ele disse não se recordar se houve consequências disciplinares, mas disse ter feito advertências verbais a seus subordinados sobre a assinatura da referida carta.

Sobre encontros com o ex-presidente Jair Bolsonaro, disse ter se reunido com o então presidente em três oportunidades, "que a primeira, que não se recorda a data, mas em novembro ou dezembro de 2022, no Palácio da Alvorada, para tratar assuntos corriqueiros de serviço; que neste encontro estava presente o general Freire Gomes; que a segunda ocorreu no dia 09/12/2022, no Palácio do Alvorada, apenas com o então presidente Jair Bolsonaro, por ordem do general Freire Gomes dada no mesmo dia, que a reunião foi para ouvir lamentações do então presidente da República sobre o resultado das eleições; que apenas ouviu o presidente falando". 

Diz ainda que "na reunião não foi tratado sobre uma possível minuta de golpe ou utilização de GLO, Estado de Defesa, Estado de Sítio ou Intervenção Federal; que reportou ao general Freire Gomes todo o conteúdo da reunião após a sua saída". Segundo ele, a "terceira ida ao Palácio do Alvorada foi por volta do dia 24/12/2022, juntamente com os generais Freire Gomes, Negraes e Fernandes para entregar um presente institucional do Exército ao então Presidente"

Coter e Alexandre de Moraes

Em relação à atuação do Coter e à sugestão de criar um Comando Multidomínio, disse que "é uma tendência mundial, que tem relação com o emprego das Forças Armadas para defesa da pátria (guerra externa), que não tem relação com o objetivo da presente investigação". 

Ele também afirma desconhecer plano de execução para o cumprimento da ordem de prisão do ministro Alexandre de Moraes, bem como disse desconhecer qualquer monitoramento do ministro. 

Depoimento de Freire Gomes

Superior hierárquico de Theophilo, o general Freire Gomes, também em depoimento à PF, disse não ter ciência das convocações do ex-comandante do Coter ao Palácio do Alvorada. 

"Indagado sobre qual atitude tomou ao saber da ida do General Theophilo ao Palácio do Alvorada, respondeu que tomou conhecimento, por meio de áudio encaminhado pelo Tenente Coronel Mauro Cid, que o então presidente Jair Bolsonaro solicitou a ida do General Theophilo ao Plácio da Alvorada no dia 09/12/2022, que não partiu do depoente a ordem para que o General Theophilo fosse se encontrar com o então presidente da República, que não se recorda do local em que se encontrava naquele dia; que não tinha ciência do motivo da convocação do general Theophilo pelo então presidente da República", diz o texto.

Freire disse ter ficado desconfortável com o episódio por desconhecer o teor da convocação e considerando o conteúdo apresentado nas reuniões anteriores. Ele afirmou não se recordar se o conteúdo da conversa entre Theophilo e o ex-presidente foi reportado a ele.

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