Deputados cearenses veem com cautela e descrença nota de “pacificação” de Bolsonaro
Parlamentares mais próximos ao presidente dizem torcer por moderação na relação entre os poderes; Camilo Santana também se manifestou
Assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a nota que tenta diminuir a tensão provocada pelo chefe do Executivo nacional com os outros poderes, especialmente o Judiciário, não convenceu deputados federais do Ceará. Nomes da oposição repetem que sinais de moderação do presidente “não enganam mais ninguém”. Já parlamentares mais alinhados a Bolsonaro dizem torcer por uma pacificação entre os poderes.
A carta, divulgada na tarde desta quinta-feira (9), foi escrita pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) e assinada pelo atual mandatário. O experiente emedebista foi convocado de forma emergencial pelo atual presidente em uma tentativa de conter a escalada de tensão com o Judiciário, principalmente com o ministro Alexandre de Moares, do Supremo Tribunal Federal (STF).
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O magistrado foi o principal alvo do presidente e de seus apoiadores durante os atos convocados para o dia 7 de setembro. Bolsonaro chegou a chamá-lo de “canalha”. Moraes comanda o inquérito que apura atos antidemocráticos e já ordenou a prisão de diversos aliados do presidente, como o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), o deputado federal Daniel Silveira (PSL) e, mais recentemente, Zé Trovão, líder da paralisação nacional dos caminhoneiros.
O governador Camilo Santana (PT) comentou a nota de Bolsonaro. "Que o gesto do presidente neste dia se transforme em ações práticas de respeito à democracia e às instituições. Ninguém neste País está acima da lei e da Constituição", escreveu, nas redes sociais.
Recuos
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Para o deputado federal José Guimarães (PT), os recuos do presidente após ataques às instituições “já viraram moda”. “Ele não engana mais ninguém. Essa mea culpa não serve mais para nada. Ele dá dez passos na destruição da democracia e depois recua um”, critica o petista.
Análise semelhante é feita por André Figueiredo (PDT). “Bolsonaro mostrou o que ele é, um covarde. Na frente das massas que enfeitiça é um leão, fora dela é um gatinho. Vimos quão fraco é o nosso presidente, que insufla seus seguidores, mas, na hora do aperto, foge da luta”, afirma o deputado.
Correligionário de Figueiredo, Idilvan Alencar (PDT) aponta que o recuo presidencial se impôs devido às reações ao 7 de Setembro. “O número de pessoas foi aquém do que eles esperavam, a Bolsa de Valores caiu, o dólar subiu e eles perderam o controle sobre a paralisação dos caminhoneiros. Ele tinha a intenção de dar um golpe no dia 7, mas foi uma aposta errada”, aponta.
Pressão seguirá
Deputados da oposição reafirmam ainda que as articulações para que o presidente da Câmara abra um processo de impeachment contra Bolsonaro permanecem. Conforme o Diário do Nordeste mostrou nesta quinta-feira (9), os parlamentares, no entanto, reconhecem que as chances são baixas devido à aliança do presidente com o Centrão.
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“Vamos continuar fazendo uma oposição forte. A popularidade dele está em queda e ele cometeu crime de responsabilidade, isso não se apaga. Quando um cidadão comete um crime, ele é punido. Com o presidente tem que ser do mesmo jeito, não é porque ele diz que se arrependeu que vamos deixar para lá”, aponta Idilvan.
“Vimos hoje o sinal claro de um Governo que chegará ao seu fim antes de terminar o mandato”, acrescenta Guimarães.
“Maturidade”
Um dos aliados mais próximos a Bolsonaro no Ceará, o deputado Dr. Jaziel (PL) fez um apelo, nas redes sociais, para que os eleitores “confiem no presidente”. “Lembram do clima de decepção que a mídia criou quando Moro acusou o presidente? Pois é. Paciência, meus amigos”, diz o parlamentar.
Heitor Freire (PSL) exaltou a postura do presidente em divulgar a nota. "Eu não tenho dúvidas que esse é o caminho que precisamos adotar no Brasil. Temos pautas urgentes e é preciso foco para resolver. Alguém que tinha que levantar a bandeira branca, e fico feliz que tenha sido o presidente, é um sinal de maturidade e compromisso com o cargo que ocupa", afirma.
O tucano Danilo Forte (PSDB) também falou sobre a importância de pacificar a relação entre os três poderes. Segundo ele, a única saída para as crises política e econômica do Brasil é o diálogo. “Nenhum país do mundo se desenvolveu com guerra interna ou dissolução de poderes constitucionais, então a maturidade se impõe. É necessário pensar em como sair dessas crises”, ressalta.
“Eu louvo a carta apresentada pelo presidente Bolsonaro e espero que ela tenha longevidade. Espero que a gente possa atravessar esse momento difícil, consiga desarmar os espíritos golpistas e conduzir o País para um processo de eleições livres e democraticas”, conclui o deputado tucano.
"O bem comum"
Na nota oficial, Bolsonaro afirma nunca ter tido a intenção de agredir quaisquer dos poderes. “Quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum”, diz.
"Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o País. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição", acrescenta o presidente.