Cenário pré-eleitoral em Caucaia tem disputa de bolsonaristas e crise de ex-aliados; entenda
Por ter mais de 200 mil habitantes, a disputa ainda pode ir ao segundo turno, reorganizando as forças locais
Com 2024 batendo à porta, as definições eleitorais em Caucaia, segundo maior colégio eleitoral do Ceará, têm ganhado mais consistência e indicado mais objetivamente os contornos do pleito que se avizinha. A interferência mais categórica de lideranças nacionais e estaduais tem dado o tom das tratativas no momento.
Exemplo disso foi a expedição de um ofício pela cúpula do PL, na terça-feira (21), assegurando a pré-candidatura a prefeito a Coronel Aginaldo Oliveira, ex-chefe da Força Nacional de Segurança (FNS). Do outro lado, o PT municipal marcou uma reunião para próxima quinta-feira (30) a fim de tratar sobre a disputa em Caucaia diante do “fator Valim” e após diálogo com o governador Elmano de Freitas (PT).
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Isso porque o atual prefeito, Vitor Valim, filiou-se em agosto ao PSB, consolidando sua ligação com o bloco governista, representado por Elmano, Camilo Santana e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, todos do PT. No PSB, o gestor passa a ser liderado por Eudoro Santana, pai de Camilo.
O impasse ocorre porque o próprio PT de Caucaia aprovou uma resolução, em junho deste ano, defendendo o lançamento de uma candidatura própria à Prefeitura. O encontro do dia 30 vem para, possivelmente, abrir caminho para o apoio a Valim.
No PL, por sua vez, a escolha pela candidatura própria de Aginaldo vem para pulverizar as forças bolsonaristas no município. Um dos maiores cabos eleitorais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o vice-prefeito Deuzinho Filho é pré-candidato pelo União Brasil. Ele, que é rompido com Valim, era tido até então como o principal nome conservador da disputa.
De toda forma, a população de Caucaia pode se deparar com um cenário definido em duas rodadas: por ser uma cidade com mais de 200 mil habitantes, assim como Fortaleza, a vizinha da Região Metropolitana está apta para uma disputa em segundo turno, a exemplo do pleito de 2020.
Nesse caso, pode haver uma nova distribuição de forças, já que as possibilidades tendem a ser afuniladas. Os nomes já postos buscam reforçar as suas bases, a fim de chegar competitivos a outubro de 2024.
PSDB e PSD buscam espaço
A disputa em Caucaia também atrai olhares de partidos como o PSDB e PSD que, embora não representem tão diretamente a dicotomia na política local, possuem marcadores importantes nessa conjuntura.
O tucanato, por exemplo, será representado, em outubro de 2024, pela deputada estadual Emília Pessoa, nome avalizado por figuras como Tasso Jereissati. Recentemente, ela foi empossada secretária-executiva do PSDB Ceará e presidente do PSDB Mulher no Estado.
Também há chances de compor cargo na próxima Executiva Nacional da legenda, liderada pelo governador gaúcho Eduardo Leite. A convenção que elegerá a nova chapa ocorrerá entre quarta (29) e quinta-feira (30). Como delegada, Emília tem poder de voto na ocasião.
Enquanto a campanha em si não começa, a deputada realiza encontros formativos e de mulheres com pautas segmentadas, além de reuniões com as pré-candidatas femininas e as esposas dos pré-candidatos homens para fortalecer a trajetória política dos envolvidos.
Quanto ao arco de aliança, Emília informou que o PSDB dialoga com mais dois partidos para fortalecer o bloco, negociação da qual cuida pessoalmente.
Assim como Deuzinho, ela é dissidente do grupo de Valim. Ela foi secretária de Educação e de Governo neste mandato, mas renunciou às funções para se dedicar à campanha à Assembleia Legislativa, da qual saiu vitoriosa.
Em 2020, concorreu à Prefeitura, mas ficou em terceiro lugar, à frente do, hoje, governador Elmano de Freitas (PT), e atrás do atual prefeito e de Naumi Amorim (PSD), que disputaram o segundo turno.
Este, inclusive, era o prefeito à época. Atualmente, ele é pré-candidato novamente ao cargo, mantendo a postura de oposição a Valim, apesar de PSB e PSD fazerem parte do mesmo arco de aliança em escala estadual.
Amorim tem intensificado a pré-campanha nas redes, especialmente com a série “Foi o Naumi que fez”, como forma de lembrar as entregas quando estava à frente do município.
PL e União Brasil
O anúncio sobre Caucaia no PL vem em uma semana de crise interna em eclosão. Houve troca no comando estadual da legenda e confirmação de pré-candidatura em outro importante polo eleitoral, Fortaleza, todos publicizados pelo presidente nacional, Valdemar Costa Neto.
Essas movimentações inauguram um novo momento do partido no Ceará, que abandona tratativas mais pragmáticas – que permaneceram mesmo após a filiação de Bolsonaro, em 2021, em função da gestão de Acilon Gonçalves – e mergulha na conexão com Brasília, na figura de Costa Neto e do próprio ex-presidente da República.
Por isso, o lançamento de nomes próprios em cidades tão estratégicas se torna importante. Aliado a isso, Aginaldo também será empossado presidente do diretório do PL em Caucaia nesta semana. Ele voltou de Brasília, onde dialogava com a direção nacional na última sexta-feira (24) para iniciar as negociações locais.
Ao Diário do Nordeste, afirmou que já há conversa com curso com partidos para a composição do arco de aliança, todos de centro-direita, mas nada ainda foi finalizado. Quanto à divisão do eleitorado no campo conservador, devido à pré-candidatura de Deuzinho, Aginaldo ressalta que ele é de outro partido, “é até um amigo”, mas que não conversaram sobre a disputa até o momento.
Já o vice-prefeito tem sido mais enfático. Pelas redes sociais, como de costume, Deuzinho não citou nomes, mas indicou que não recuará da intenção de encabeçar uma chapa a prefeito.
“Não tenho nenhum interesse de ser candidato a vice-prefeito de Caucaia nas eleições de 2024, e ressalto que continuarei no mesmo lado que sempre estive: centro-direita. O caucaiense viu e sabe do meu trabalho e empenho pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo meu governador Capitão Wagner. Não mudei e não mudo de lado”, afirmou aos seus apoiadores.
Ele também atualizou o andamento da pré-campanha. Disse que esteve em Salvador (BA) na última semana em reuniões com sua equipe de marketing, que vai coordenar campanha a prefeito também. Além disso, informou que, em 1º de dezembro, o União Brasil vai promover um evento para lançá-lo à disputa, com a presença de Capitão Wagner, Felipe Mota, Danilo Forte e outros.
Segundo Deuzinho, sua base de sustentação já conta com três partidos, mas há diálogo em curso com um 4º para ser a "opção de direita em Caucaia".
"Pode ter um, duas, três ou quatro candidaturas de direita, isso é bom porque deixa a nossa cidade com outras opções. Eu sou daqui, nasci em Caucaia, faço política aqui, tiro o meu sustento daqui”, alfinetou.
Isso porque as atividades políticas de Aginaldo, natural de Alto Santo, nos últimos anos, concentraram-se no suporte ao Governo Federal em Brasília, sobretudo pelo matrimônio com a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Além disso, a mudança de domicílio eleitoral para Caucaia foi recente.
Ainda assim, mesmo aprovando a pluralidade no seu campo ideológico, Deuzinho não deve encontrar um caminho pacífico dentro do próprio partido. Como presidente do diretório municipal do União, o vice-prefeito validou resolução para não dar legenda, em 2024, a correligionários ainda ligados a Vitor Valim.
É o caso dos vereadores de Caucaia. O presidente estadual da legenda, Capitão Wagner, protege Deuzinho e garante diálogo com as figuras lesadas nesse processo, mas o assunto pode parar na Justiça. É repercussão para os próximos meses.
Influência petista
Já no grupo governista, resta o impasse sobre o lançamento de candidatura própria do PT ou o apoio à reeleição de Vitor Valim pelo PSB. Apesar da resolução aprovada em junho último, o governador Elmano de Freitas e o ministro Camilo Santana têm manifestado a intenção de seguir com o atual prefeito.
O fato de ainda não haver nomes petistas postos para a disputa no município – apesar de se ventilarem os nomes do secretário nacional de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, e da vereadora suplente em exercício Enedina Soares – pode facilitar a conciliação.
Mas nada é tão simples em um cenário em que boa parte do diretório municipal do PT é de oposição a Valim. Por isso, o encontro de quinta-feira (30) vem para avaliar e deliberar sobre essa questão. Antes disso, porém, lideranças locais querem uma reunião fechada com Elmano.
Na avaliação de Enedina, o PT pode decidir adiar o debate, assim como em Fortaleza, ou definir algumas diretrizes para a possível aliança, como a indicação da candidatura a vice-prefeito(a). O partido também quer aumentar a presença na Câmara Municipal de Caucaia, já que possui apenas uma cadeira atualmente.
Para Weibe, é importante, também, discutir o projeto para a cidade, focado em mobilidade urbana, meio ambiente e moradia popular, gargalos em Caucaia.
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Ainda que corrobore com a posição de Weibe, o presidente do PT Ceará, Antônio Filho (Conin), destaca a relevância de manter a aliança com o atual prefeito, visando as próximas eleições e considerando o apoio dado, sobretudo, no pleito no ano passado.
"Nós precisamos construir um entendimento que preserve os interesses do nosso projeto, que fortaleça as bases do governador Elmano aqui na região e que prepare para 2026. A eleição não acontece só uma vez, não, de dois em dois anos tem, então é importante a gente cuidar bem dos aliados que estiveram conosco nos momentos em que a gente mais precisou", avalia o dirigente.
Vale lembrar que esta será a primeira eleição municipal sob o modelo de federação. Sendo assim, PT, PV e PCdoB devem articular em conjunto.