Bancada federal cearense reage a pedido de intervenção no BNB; PT nega vínculo com Inec
Deputados federais cearenses temem que crise política sobre comando do Banco do Nordeste possa prejudicar a instituição
O pedido do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, para que o Governo Federal demita o presidente do Banco do Nordeste, Romildo Rolim, e toda a diretoria da instituição foi recebido pelos deputados federais cearenses com mais dúvidas que conclusões. Lideranças do PT negam que o comando do Instituto Nordeste Cidadania (Inec), ONG responsável por programas de microcrédito do banco e pivô da crise, tenha qualquer vínculo com o partido. Outros deputados pedem cautela na apuração dos fatos.
A questão veio a público nessa segunda-feira (27) quando Costa Neto publicou vídeo relatando ter enviado ofício ao ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), e à ministra-chefe da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL), cobrando a destituição do comando do BNB, após ter sido questionado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a respeito do contrato anual de R$ 600 milhões do banco com o Inec.
Veja também
“Nós não podemos ter uma ONG contratada em um banco da importância do Banco do Nordeste”, disse Costa Neto, que chamou o vínculo mantido desde 2003 de “barbaridade”, embora não tenha apontado indícios de irregularidades ou má gestão dos recursos.
Um dos motivos alegados por governistas é a suposta ligação do comando do Inec com o PT. O desalinhamento ideológico é criticado, por exemplo, pelo deputado Heitor Freire (PSL).
Eu fico triste em ver que, mesmo no governo Bolsonaro, um governo de direita, um órgão federal do calibre do BNB ainda seja usado para fins políticos e controlado, na grande maioria, por esquerdistas. Da mesma forma, a sua fundação, onde os quase 7 mil empregos são todos ocupados por indicações para atender aos interesses de grupos ligados à oposição do Bolsonaro. Isso precisa acabar
O deputado José Guimarães (PT), no entanto, nega indicações ou vínculos de seu partido com a ONG, responsável por operacionalizar os programas Crediamigo e Agroamigo. “Isso não tem o menor fundamento. O PT nunca fez indicação para esse instituto, e há anos que não tem indicação do PT no BNB. E se tem (algum dirigente petista na ONG), não passou pelo PT”, reforça.
Já José Airton (PT) classifica a atual gestão do BNB como “segura e responsável”, mas cobra apuração de possíveis irregularidades. “Naturalmente, toda questão envolvendo dinheiro público deve ser olhada com a devida atenção pelos órgãos fiscalizadores. Se houve algo errado, que se corrija e se apontem os responsáveis. O que não interessa ao Nordeste é que disputas políticas enfraqueçam o papel do banco no apoio aos projetos para o setor produtivo, em especial no microcrédito”, pontua o parlamentar.
O deputado federal Eduardo Bismarck (PDT) também demonstra preocupação com a crise. "É preocupante porque o BNB é muito importante na estrutura do Nordeste, e o presidente Jair Bolsonaro já tentou por duas vezes encerrá-lo e agregá-lo a outros bancos, como o Banco do Brasil. Não podemos abrir mão do BNB", ressalta. "Me surpreendeu essa crise e a desconfiança com a presidência e da diretoria", acrescenta o parlamentar.
O pedetista ressalta que não tem contato com o atual presidente do Banco, mas defende a apuração do caso com direito a ampla defesa dos acusados. "É preciso apurar os motivos que levaram a essa contração, se era mais barata, se havia indício de má gestão, se foi feita de forma adequada e dentro da legalidade, isso precisa ser feito com muito rigor para não macular, eventualmente, a imagem do Romildo Rolim e do Banco", conclui.
Pressões externas
A preocupação de que embates ideológicos acabem prejudicando as atividades do banco também é levantada pelo deputado Danilo Forte (PSDB), que afirma acreditar na “probidade” da atual diretoria do BNB.
“Será muito leviano acusar sem ter provas de situações inconsistentes ou até mesmo duvidosas do ponto de vista ético e moral que possam jogar novamente a credibilidade do nosso Banco do Nordeste em risco. É preocupante e acho que o Nordeste tem que ficar alerta para não usarem isso como forma de mais uma vez tentarem acabar com nosso banco, que é o principal banco de fomento da região”, afirma Danilo
Controlado pelo PL desde 2017, ainda na gestão Michel Temer, o BNB continuou com cargos loteados aos partidos do centrão no governo Jair Bolsonaro. Para o deputado Célio Studart (PV), a nova crise dá sinais de que Bolsonaro perde o controle sobre as alianças que firmou.
“É notório que grande parte das decisões governamentais que têm sido feitas tanto em bancos estatais, quanto em estatais e ministérios do governo federal, são muito mais em razão dos pedidos e da pressão de presidentes partidários, lideranças políticas que têm influência na gestão. Isso demonstra o quanto o presidente já não tem mais controle e condições de governar sozinho, com qualquer agenda própria, e tem atendido a esses pedidos, muitas vezes com motivações escusas e desconhecidas da população”, critica.