Aliança entre PT, PDT e PSB no Ceará vive incertezas com articulações nacionais
As movimentações locais para a sucessão de Camilo Santana em 2022 devem sofrer influência de arranjos mais amplos
PDT, PSB e PT, que integram a aliança que governa o Ceará com Camilo Santana, vivem momento de incertezas em relação à parceria estadual por conta das questões nacionais que envolvem os interesses dos comandos das legendas para 2022.
No Estado, o PT, ao qual o governador é filiado, e o PDT, maior fiador de sua candidatura nas duas eleições, são os principais integrantes da base governista e terão peso ao definir o próximo candidato ao Palácio da Abolição em 2022, na hipótese de a aliança ser mantida. As condições objetivas para isso, no entanto, precisam ser criadas.
O PSB cearense, que vive altos e baixos em relação à sua relevância no cenário político, teve um "boom" ao receber, na década passada, o grupo ligado aos irmãos Cid e Ciro Gomes. Perdeu força após a saída do grupo e agora, novamente com ajuda dos governista, volta a ter mais espaço no Ceará.
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O fortalecimento do partido nas últimas eleições municipais, elegendo, inclusive, o vice-prefeito de Fortaleza, Élcio Batista, contou com o apoio do governador Camilo Santana e do senador Cid Gomes (PDT).
Movimento nacional
No Ceará, os sinais ainda são incipientes, mas os movimentos estratégicos de lideranças das legendas em âmbito nacional têm levantado dúvidas sobre o arranjo local que, evidentimente, vai depender desse cenário.
PT e PDT mantêm hoje 18 e 66 prefeituras no Estado, respectivamente, e disputam a hegemonia e o protagonismo para o lançamento de candidatura a governador, mas o amplo arco de aliança governista exigirá uma costura política complexa para fechar a chapa majoritária. Além do cargo máximo no Executivo estadual, há uma vaga de vice-governador e uma de senador.
Além disso, a disputa presidencial dá um peso político a esses partidos. Tudo indica que, de novo, PT, com Lula, e PDT, com Ciro, lançarão candidaturas próprias.
E, na visão de petistas e pedetistas, as articulações nacionais serão o ponto de partido para definir a sucessão no Ceará, onde os dois grupos políticos são aliados históricos.
No entanto, até o ano que vem, esse processo deve ser permeado de tensão e conflitos de interesse.
Primeiro porque cada partido não deve abrir mão de ter candidato na corrida presidencial para fazer uma aliança no primeiro turno, tanto que Ciro e Lula têm agido como futuros candidatos.
Nome governista
Outra questão é o consenso em torno do nome da base aliada para concorrer ao Governo do Estado. Como o PT está no comando do Palácio da Abolição, o PDT vai reivindicar sua vez na próxima eleição.
O presidente da sigla pedetista no Ceará, deputado federal André Figueiredo, reafirma que, até o momento, o partido trabalha com três nomes: o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio; o secretário de Planejamento e Gestão do Estado, Mauro Filho, e a vice-governador Izolda Cela.
"A princípio, sim (são esses nomes). Estamos em fase muito preliminar (de definição). São nomes que se colocam como extremamente adequados para disputar uma eleição".
No entanto, nem todos os cotados do PDT têm aceitação unânime no PT, como o ex-prefeito Roberto Cláudio, que manteve a sigla petista na oposição durante sua gestão municipal em Fortaleza.
Sem contar que alas do PT defendem lançar candidatura própria ao Governo do Estado. O deputado federal José Airton tem encabeçado esse movimento junto com outros integrantes do partido.
Vaga no Senado
Mas o presidente do PT no Ceará, Antônio Conin, afirma que essa possibilidade vai depender também da definição da vaga ao Senado na chapa governista. O objetivo é que Camilo Santana seja indicado para o cargo e isso estará em jogo na sucessão estadual.
"Se o Camilo resolver ser candidato ao Senado, isso siginifica que o PT não pode manter a chapa inteira. Fica evidente a preferência pelo PDT para indicar o candidato a governador, mas isso vai depender do palanque nacional, do nome (do PDT), do programa (de Governo)".
O palanque do candidato a governador do Estado do grupo governista é outro ponto que deve gerar tensão, como ocorreu em 2018, quando Camilo, candidato à reeleição, se manteve neutro, diante da disputa presidencial entre Ciro Gomes e Fernando Haddad, do PT.
André Figueiredo, presidente do PDT no Ceará, diz achar "plausível" ter dois palanques no Ceará. Ele concorda, desde que haja respeito entre os lados.
"Os aliados que queiram apoiar o Lula vamos conversar, independentemente da aliança estadual. É uma construção complexa, mas que a gente tem experiência nisso. A gente consegue construir, se houver respeito mútuo", avalia.
O PT prepara viagens do ex-presidente Lula em julho pelo Nordeste, incluindo o Ceará, para rodada de conversas com governadores e demais aliados. O cronograma ainda está sendo definido.
Na última terça-feira (22), o diretório estadual petista empossou os membros do Grupo de Trabalho e Ação (GTA) para articulação das eleições de 2022 no Ceará. O ex-prefeito de Qiuixadá, Ilário Marques, foi oficializado como coordenador da campanha presidencial de Lula no Estado.
Partidos da base
Outros partidos da base governista têm ganhado protagonismo, por causa de movimentos em âmbito nacional, e podem ter influência sobre o cenário no Ceará, como o PSB.
Fruto de articulação do ex-presidente Lula, o governador do Maranhão, Flávio Dino, que estava no PCdoB, e o deputado federal Marcelo Freixo, ex-Psol, se filiaram ao PSB, dando mais peso ao partido.
No Ceará, o partido é muito ligado ao governador Camilo Santana e o presidente da legenda, deputado federal Denis Bezerra, tem articulado, nos bastidores, a filiação de nomes novos para a chapa proporcional de deputado a disputar o próximo pleito.
No entanto, na avaliação de correligionários, o partido ganharia mais força no Estado se o governador se filiasse ao PSB, o que, a preço de hoje, é descartado por aliados de Camilo.