Aliado histórico do governo, PTB tem reviravoltas polêmicas e se consolida como oposição no Ceará
Após 17 anos sob mesma presidência, o PTB trocou de comando por quatro vezes entre 2020 e 2022, após aproximação com Bolsonaro.
Aliado histórico do governo Camilo Santana (PT) e dos irmãos Ferreira Gomes, o Partido Trabalhista do Brasil (PTB) no Ceará teve a cúpula envolvida em um cabo de guerra que deslocou a sigla para o lado oposto do espectro ideológico nos últimos anos.
O movimento acompanhou a conjuntura em âmbito nacional e ajudou a aumentar a base de Jair Bolsonaro (PL) no Ceará. Com transições polêmicas e embates entre dirigentes, o partido trocou de comando quatro vezes e agora vive mais uma reviravolta após o rompimento com o deputado estadual e ex-presidente Delegado Cavalcante.
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A mais recente mudança na direção do PTB cearense ocorreu na última sexta-feira (11), quando o secretário executivo da Prefeitura Municipal de Maracanaú, Euler Barbosa, assumiu a presidência da sigla.
Ele foi conduzido ao cargo após troca na direção nacional do PTB, que agora está sob o comando do deputado estadual pelo Rio de Janeiro Marcus Vinícius.
Até então presidindo a agremiação no Ceará, o deputado estadual Delegado Cavalcante, um dos ferrenhos defensores do bolsonarismo no Estado, era aliado da antiga presidente interina, Graciela Nienov, que se desgastou com o dono do partido, o ex-deputado federal Roberto Jefferson, após o vazamento de áudios.
“Minha decisão se dá porque não compactuo com mudança repentina desconfortável na executiva nacional do partido, a qual rompeu com o compromisso de renovação por parte do seu estatuto, trazendo instabilidade jurídica e incertezas políticas para o corrente ano", explicou em nota”.
Até que houvesse esse desfecho, no entanto, o partido mais antigo do Brasil em atividade trocou de comando quatro vezes em um ano, evidenciando um racha interno ocasionado pelo alinhamento de Jefferson ao presidente Bolsonaro, que ocorreu em maio de 2020.
Pretensões da nova presidência
Ao Diário do Nordeste, Euler Barbosa, mais novo presidente do PTB no Ceará, preferiu não comentar os desentendimentos de Cavalcante com a cúpula nacional.
Sobre as pretensões nas próximas eleições, o dirigente afirma que o PTB “trabalhará para eleger um deputado federal e formar chapa para deputado estadual”.
Atualmente, o grupo tem apenas o deputado Pedro Bezerra com representação na Câmara Federal. O parlamentar, no entanto, afirma estar de saída da sigla.
Ainda não há definições se o PTB Ceará irá apoiar a candidatura do Capitão Wagner na oposição ao grupo governista.
“O PTB se identifica hoje como um partido conservador, a gente trabalha com um público muito mais aguerrido, com essa militância de direita. Não existe nenhuma possibilidade de identificação com o outro público”, completa.
Quatro presidentes em dois anos
O mais longevo presidente do PTB no Ceará foi o ex-deputado Arnon Bezerra, que esteve à frente do partido por 17 anos, entre 2003 e 2020. O cargo foi transferido para o seu filho, o deputado federal Pedro Bezerra, em 15 de dezembro.
Pedro foi destituído da função em março do ano seguinte, dando lugar ao advogado Fellipe Cavalcante. O seu pai, Delegado Cavalcante, se filiou e foi nomeado presidente diretamente por Jefferson em junho de 2021, até anunciar a saída do partido no último dia 13 de março.
Na cerimônia de filiação, Jefferson chegou a afirmar, de acordo com a assessoria do PTB, que Cavalcante “assume para fazer muito maior do que foi um dia, assume para agigantar o partido dentro de princípios, Deus, pátria, família, vida desde a concepção até sua extinção natural”.
PTB: aliado histórico na base
Apesar da recente aproximação com o presidente da República, o PTB, desde 2014, ajudou a eleger os candidatos do atual grupo governista cearense, fazendo parte das coligações nas duas vitórias do petista Camilo Santana.
Antes de transitar entre diferentes dirigentes no Estado, a sigla atuava em parceria com os irmãos Cid e Ciro Gomes.
Em 2020, Jefferson proibiu aliança com partidos de esquerda nas eleições municipais, mas a chapa encabeçada por Arnon Bezerra em Juazeiro do Norte, onde tentou se reeleger prefeito, trazia como vice Gabriel Santana (PT), o que desagradou o presidente.
“Eu gostaria de permanecer no PTB e que o Pedro estivesse no PTB; eu não faço questão da presidência, mas queria a certeza de ter a legenda”, diz o ex-deputado.
Arnon diz ainda que, mesmo mantendo divergências internas, nunca entrou em rota de colisão com Roberto Jefferson. “Mesmo votando contra o impeachment da ex-presidente Dilma (PT), o Roberto respeitou. A política deve ter muito mais razão do que a ideologia”, completou.
Sobre o alinhamento nacional que refletiu nas mudanças de diretório no Ceará, Arnon opina que não “deveria haver tanta intervenção no regional, porque é na ponta que se faz a diferença".
O filho dele, deputado Pedro Bezerra, que também é da base governista no Ceará, assumiu o comando da sigla em dezembro de 2020, mas foi retirado do cargo em março do ano seguinte, após o PTB entrar da vez na base de Jair Bolsonaro em Brasília.
À época, Pedro chegou a dizer que ficou sabendo da mudança através das redes sociais. “Ele (Jefferson) não me avisou, não houve nenhum comunicado, apenas essa publicação, tanto dele como do novo presidente”, disse.