Setor de pescados pode alavancar infraestrutura logística do Ceará

Destaque nacional na produção e exportação de lagosta, setor pesqueiro cearense vê potencial de crescimento nos segmentos de tilápia, camarão e, sobretudo, do atum, atraindo novas linhas de navegação internacionais

Escrito por Redação ,
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Legenda: O parque produtivo do atum e da sardinha no Ceará da Crusoé Foods deve ser ampliado nos próximos anos
Foto: José Leomar

Maior exportador de lagosta do País, o Ceará aposta no desenvolvimento do setor de pescados para aumentar a competitividade logística portuária, atraindo novas rotas internacionais, e explorar o potencial de crescimento do Estado no comércio doméstico e internacional. Além da lagosta, o setor busca estimular a produção do atum, da tilápia e do camarão, bem como desenvolver a indústria de beneficiamento desses produtos para aumentar o valor agregado da produção cearense.

"Nós precisamos diversificar os produtos de pesca. A lagosta já tem um mercado consolidado, mas ainda podemos investir na exportação de lagosta viva. Recentemente, entramos no mercado de atum, que é muito exigente, precisamos retomar a produção de tilápia e temos também o camarão", disse Roberto Gradvohl, presidente da Câmara Setorial de Economia do Mar e Águas Continentais (CS Economia do Mar), da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), durante a Expolog 2020 - Feira Internacional de Logística e Seminário Internacional de Logística, na tarde de ontem (9). O evento termina nesta quinta-feira (10).

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Para Gradvohl, a depender dos investimentos no setor, a expectativa é que em dez anos o Ceará volte aos patamares recordes da produção de lagosta. "Isso teria um impacto muito grande na economia cearense, na geração de emprego e renda em toda a cadeia produtiva", disse. "Acreditamos que a economia do mar pode revolucionar a economia do Ceará, que vamos ter excelentes resultados. Com esse potencial, o Estado pode liderar o desenvolvimento desse setor no Brasil".

Em 2019, por exemplo, o Estado exportou US$ 57,3 milhões de lagostas congeladas, pouco abaixo do maior valor registrado, de US$ 59,6 milhões, em 2010. Nas duas ocasiões, no entanto, o Estado ficou praticamente de fora do mercado de lagostas vivas. "Muitas vezes, a logística é mais importante até mesmo do que a mercadoria. O Ceará vem investindo no hub logístico, mas nosso porto ainda é pequeno e isso prejudica a competitividade, prejudica os preços tanto para importação como para exportação", disse Roberto Gradvohl.

Beneficiamento

Para Sílvio Carlos Ribeiro, secretário executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado (Sedet), além do foco na produção, o Ceará precisa aumentar sua participação no setor de beneficiamento de pescado, tanto para agregar valor como para atrair novas linhas de navegação ao Estado.

"Temos um grande potencial para o crescimento da indústria de conservas no Ceará, atraindo empresas como a Crusoé. Com essa indústria, vejo a possibilidade de, por exemplo, exportar melão para o Oriente Médio e, de lá, trazer sardinha para ser beneficiada aqui no Ceará. Mas, para isso, é preciso evoluir na infraestrutura portuária também", disse Sílvio Carlos.

Indústria naval

Com o desenvolvimento da pesca, o setor espera também reativar a indústria naval pesqueira no Estado. Segundo Roberto Gradvohl, as embarcações que hoje atuam no setor estão obsoletas, o que acaba prejudicando a eficiência da pesca, elevando os preços e reduzindo a competitividade do produto local.

"No Nordeste, acredito que faz mais de 30 anos que não se faz um barco industrial pesqueiro. Ainda utilizamos barcos muito antigos. Precisamos de uma tecnologia de pesca mais eficiente, que é fundamental para o preço do pescado e para o desenvolvimento da pesca no Ceará", disse.

Silvio Carlos avalia que o segmento de pesca do atum poderá ser um vetor de estímulo à construção naval, inclusive com embarcações aptas a fazer o beneficiamento do peixe ainda no mar. "O atum é um produto de grande potencial e a construção naval é essencial para a produção de um peixe de qualidade", disse. Para o secretário executivo do Agronegócio, no entanto, em muitos casos o desafio não está apenas na produção, mas em fazer esses produtos chegarem ao consumidor.

O seminário sobre a logística no agronegócio contou com a participação de Miguel Marques, Sócio na PWC Portugal, que ministrou a palestra "O Potencial da Economia do Mar no Nordeste Brasileiro".

Desestatização dos portos

O desenvolvimento do setor portuário brasileiro passa também pela desestatização dos portos. Segundo José Di Bella Filho, diretor da DBM Pesquisas e Projetos, empresa especializada em logística e portos, a desestatização traz eficiência à gestão do porto e mais celeridade na tomada de decisões, com impacto nas tarifas portuárias.

"Hoje, na visão do mercado, os portos públicos não conseguem atender adequadamente às demandas do mercado e não têm conseguido ser competitivos. Então, a gestão privada traz a oportunidades de grandes avanços para o segmento, com reflexos no comércio brasileiro", disse o diretor da DBM durante a palestra sobre "Desestatização dos Portos Públicos - Oportunidades e Desafios".

Embora considere que a participação da iniciativa privada gere grandes ganhos na capacidade dos portos brasileiros, com melhoria da infraestrutura do setor, José Di Bella diz que há riscos quanto à precarização das relações contratuais entre arrendatários e a gestão privada e de elevação de custos e tarifas sem o efetivo retorno esperado. "Temos que ter a preocupação de buscar um modelo de desestati-zação atrativo à iniciativa privada, mas que garanta a participação da comunidade portuária na gestão do condomínio portuário", disse.

Sobre os possíveis impactos do projeto de incentivo à cabotagem, chamado de "BR do Mar", Cornelis Hulst, vice-presidente de operações do Complexo do Pecém, se disse otimista com a medida, sobretudo pela possibilidade de abertura a novos mercados nacionais. "A economia brasileira vai crescer. Vamos precisar aumentar a capacidade do transporte de cargas e nossa expectativa é que essa nova política de cabotagem trará maior eficiência para a cadeia logística. E nós, como porto, estamos muito interessados em acessar novos mercados", disse.

Evento

Maior feira de logística do Norte e Nordeste, a Expolog 2020 conta com a participação de cerca de 100 palestrantes nos dois dias de evento. Devido às restrições associadas ao coronavírus, o evento está sendo realizado, pela primeira vez, em formato digital. O Seminário Internacional de Logística aborda o impacto das ferramentas digitais na cadeia de suprimentos e na geração de negócios. A expectativa dos organizadores é que a feira movimente cerca de R$ 500 milhões em negócios, assim como ocorreu na edição do ano passado.

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