Remédios ficam 9,22% mais caros em Fortaleza na pandemia, maior alta do País

Reajuste de até 10% nos preços dos medicamentos em vigor desde o dia 1º de abril influenciou resultado e puxou a inflação geral do País

Escrito por Ingrid Coelho ,
Legenda: Medicamentos importados ou cujos insumos são trazidos de fora tiveram reajuste maior nos preços
Foto: Helene Santos

Com destaque para os remédios contra hipertensão e colesterol alto, itens oftalmológicos, psicotrópicos e anorexígenos (inibidores de apetite, por exemplo), os produtos farmacêuticos em Fortaleza acumulam inflação de 9,22% nos últimos 12 meses.

É o maior resultado entre 10 regiões metropolitanas pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O economista e coordenador do curso de Ciências Econômicas da Universidade de Fortaleza (Unifor), Allisson Martins, explica que Fortaleza se sobressai na alta de preços em relação às outras localidades não apenas nos medicamentos, mas em todos os outros produtos.

“A inflação dos produtos farmacêuticos em Fortaleza maior decorre de uma série de fatores, entres eles a elevação dos preços de todos os itens pesquisados pelo IBGE superior à média do Brasil nos últimos 12 meses. Assim, a inflação dos produtos farmacêuticos em Fortaleza chega a ser quase quatro vezes superior à média do Brasil”, pontua ele.

Martins também destaca que houve uma elevada procura em decorrência da pandemia e de seus efeitos. “A forte demanda por medicamentos, em razão da pandemia de Covid e seus efeitos relacionados, levaram a subida de preços superior a 10% nos últimos 12 meses em medicamentos como anti-inflamatórios, vitaminas e psicotrópicos”.

Reajuste

Outro fator que influenciou a alta dos produtos farmacêuticos, sobretudo em abril, foi o reajuste de até 10,08% nos preços dos medicamentos no País.

Na avaliação do economista e presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, o reajuste foi provocado principalmente devido à alta do dólar.

“Parte desses produtos ou seus insumos são importados. E a crescente do câmbio nos últimos meses vem forçando a elevação dos custos no processo produtivo. Como consequência, há o repasse disso para o preço final”, diz.

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O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Ceará (Sincofarma), Antônio Félix, pondera que nem todos os produtos foram reajustados em 10,08%. “Talvez uns 20% ou 30% dos medicamentos tiveram esse reajuste”, pontua.

“Teve produto que baixou, teve produto que teve reajuste de 3%, de 6%”, detalha. Os medicamentos que sofreram as maiores altas são aqueles cuja matéria-prima é importada, corrobora Antônio Felix.

Ele também lembra que, na última semana, o Senado aprovou um projeto de lei que suspende o reajuste. A ideia do texto é evitar a alta de preços diante da pandemia que perdura no País. O texto seguiu para a Câmara dos Deputados.

O reajuste anual dos preços dos medicamentos é previsto em lei desde 2003.

Perspectivas

Na avaliação do economista Allisson Martins, de qualquer forma a expectativa é de uma elevação menos intensa dos preços dos medicamentos nos próximos meses.

“Em razão do avanço do processo de vacinação, e por consequência, diminuição do avanço da pandemia, fazendo com que haja menor pressão de demanda dos medicamentos”.

Ele também reforça que a alta nos preços de remédios afeta especialmente as famílias mais pobres, já que essas despesas consomem uma fatia maior da renda dessa parte da população em relação aos que ganham mais. 

“Quando verificamos a dinâmica do processo inflacionário, as pessoas de menor renda são as que sentem mais seus efeitos nas finanças, sobretudo quando a elevação dos preços ocorre nos alimentos e nos itens de saúde, bens de primeira necessidade”.
Allisson Martins
Economista

Ricardo Coimbra também endossa que o impacto da alta é mais forte para as classes sociais mais baixas, “nas quais alimentos, transporte e o segmento de medicamentos têm um peso muito significativo”.

“Qualquer alteração nessas áreas impactam diretamente as classes mais baixas, com nível de renda menor. Consequentemente o peso desses itens na inflação para essas pessoas e a capacidade de consumo é menor”.

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