Mercado de polpas de frutas expande negócios no exterior e no NE
Indústrias cearenses de polpas têm levado seus produtos cada vez mais longe, saindo do interior para outros estados brasileiros e também países da América, Europa e Oceania
Os sabores cearenses têm ganhado o mundo de diversas formas. E um dos mercados que leva um pouco do Estado para fora é o de polpas de frutas, que demonstra expansão, além do exterior, também nos estados do Nordeste. O Ceará vende esses produtos para mais da metade da Região: Paraíba (25%), Rio Grande do Norte (13%), Bahia (13%), Pernambuco (13%), Piauí (6%) e Maranhão (6%). Os outros estados onde há venda de produtos do setor são da região Norte, como Amazonas, e no Sudeste do País: São Paulo, Distrito Federal e Minas Gerais, todos com 6% da produção.
Além disso, o Estado já iniciou contratos para exportar mercadorias para, pelo menos, quatro países da Europa e três da América do Norte (Estados Unidos, Caribe e Porto Rico). A geração de empregos no setor também tem sido destaque nos últimos anos, principalmente em comparação com 2015, ano em que se iniciou a crise econômica.
"Analisando os três períodos da CNAEs (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), os quais abrangem o setor de sucos de frutas - no qual as polpas estão inseridas -, percebemos uma queda na geração de empregos no ano de 2015, atribuída à grande crise econômica, que começou nesse período. Em 2018, foram gerados 227 empregos, o que significa um aumento de 32% em comparação com o ano de 2015", analisa André Siqueira, presidente do SindiAlimentos, sobre a dinâmica dos empregos no setor.
O Ceará, atualmente, tem 148 empresas do ramo de conservas, fabricação de sucos concentrados e de polpa de frutas, segundo dados do Observatório de pesquisa da Fiec (Federação das Indústrias do Estado do Ceará). A área que mais possui atuação é a Região Metropolitana de Fortaleza, com 48% desse total.
Os outros 52% são distribuídos em regiões do Sul do Estado, como Pereiro, Jaguaribe e Juazeiro do Norte. E o principal foco de vendas dessas empresas, que produzem na região, está localizado no próprio Nordeste.
Exterior
Apesar da venda de polpas de frutas ser concentrada no Nordeste pela maioria das empresas, o mercado tem conquistado demandas internacionais. "Estamos exportando para a América do Norte e Europa, por exemplo. E muitos estrangeiros não conhecem a fruta em formato de polpa. E isso tem sido bem recebido, através do sucesso desse produto", afirma o presidente do SindiAlimentos. O Ceará ainda conta com empresas cujo objetivo é expandir os negócios no mercado internacional. A Frutã Alimentos Saudáveis, por exemplo, iniciou, em 2015, acordos com outros países para exportar os sabores regionais mais procurados, como goiaba, maracujá, acerola, manga e graviola.
"Nós começamos a entrar no mercado internacional investindo em participação de eventos, feiras, marketing e capacitação de profissionais. É muito importante que o investidor veja que estamos atuando nesse mercado", declara Patrícia Diógenes, diretora da empresa.
A empresa exporta atualmente para Portugal, Bélgica, Austrália, França, Estados Unidos, Caribe e Porto Rico. O bom momento do mercado fez com que as expectativas das empresas fossem superadas já no primeiro mês de 2019. "Em janeiro, nós já crescemos 100%. Fechamos um contrato com uma empresa de Porto Rico. Vamos para a Bélgica no meio do ano e iremos fechar mais contratos", comemora Patrícia.
Para dar conta da demanda, além de diversificar o mix de sabores e reforçar os que já se encontram no Ceará, a empresária disse que compra frutas de outros estados. O reforço é necessário por conta da seca, que impediu a produção em larga escala no Ceará.
Dominando o Nordeste
Dentro do mercado também existem empresas que estão investindo seus negócios para expandir sua mercadoria para outros estados da região. A empresa Nossa Fruta, há 10 anos no mercado, processa em média 8 milhões de quilos de frutas por ano e atua em 130 municípios distribuídos em seis estados, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Bahia, sendo 52 cidades só no Ceará.
Em 2017, a empresa cresceu 35%, quando conseguiu a inclusão das polpas em uma rede de atacado. Em 2018, teve um crescimento de 20%, crescendo em ritmo menor que 2017, que foi 35%. Mas o próprio Ceará também é um estado com forte comércio de polpas para a empresa.
"A gente espera que a empresa tenha mais avanços junto com o crescimento do PIB. O Brasil tá com uma expectativa boa. No Ceará, de 2018 pra 2019, vão ser inaugurados 44 novos supermercados, então é uma chance muito boa de atuarmos cada vez mais", declara João Nogueira, diretor da empresa.
Outras marcas ainda estão investindo no cultivo de frutas para fabricar as polpas. A Pomar, empresa que atua há 25 anos no Ceará, tem produção e fabricação de polpas de frutas em três unidades no Nordeste: Ceará, Bahia e Paraíba.
"Nós comprávamos, por exemplo, cajá da Bahia, mas quando recebíamos a mercadoria, percebíamos que ela perdia a qualidade. Então decidimos investir na produção", afirma Veruska Ribeiro, diretora da Pomar.
O ano de 2018, no entanto, foi um período com baixo crescimento da empresa, com apenas 6% de alta em relação a 2017, que registrou 18%. Para driblar a crise, a empresa vem buscando se reinventar, lançando novos sabores de polpa de frutas, na linha saudável, para agradar o público que deixou de consumir bebidas como refrigerantes.
Frutas baratas
Muitas empresas do setor, na Região Metropolitana de Fortaleza, compram as frutas regionais na Central de Abastecimento (Ceasa) para fazer polpas. Só no ano passado, houve um aumento de 10% em comparação com 2017, segundo informa Odálio Girão, analista de mercado da Ceasa.
Mesmo com 104 açudes vazios, de acordo com dados da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará, algumas frutas como maracujá, goiaba, uva e abacaxi são ofertados em abundância na época de safra. Por isso, o valor por quilo de cada fruta diminui e isso influencia no volume de vendas.
Os empresários do setor de polpas aproveitam a oportunidade para economizar e comprar mais barato. Odálio conta que alguns produtores estão usando sistemas de irrigação para não prejudicar o cultivo das frutas devido à crise hídrica.