Consumo consciente e reúso de água estão acessíveis ao CE

Seminário realizado pelo Diário do Nordeste na Unifor mostrou possibilidades de uso racional do recurso

Escrito por Redação ,
Legenda: "Quatro lições para o uso racional da água" foi o tema da palestra de Amyr Klink
Foto: Fotos: Fabiane de Paula

O fator primordial necessário na gestão da água no Ceará, e em qualquer lugar do mundo, é assumir que existe a crise, afirmou o navegador e empreendedor de expedições marítimas Amyr Klink durante sua palestra no II Seminário Economia Verde - Gestão de Água: o desafio do consumo consciente. O evento, realizado pelo Diário do Nordeste, por meio da marca IDN - Inovação e Desenvolvimento de Negócios, ocorreu ontem (21) pela manhã, no Teatro Celina Queiroz, na Universidade de Fortaleza (Unifor).

Entre as "Quatro lições para o uso racional da água", tema da sua exposição, o empreendedor destacou a produção da água, o uso eficiente, a mitigação de perdas e a proteção das águas. Em sua opinião, no Ceará, existem várias formas de reúso como, por exemplo, a água já tratada e potável, o reúso da água agrícola e o reúso da água do mar para saneamento. "O Estado tem acesso a todas elas e tem que adotar essa plataforma, já a comunidade tem que entrar como protagonista para exigir que esse problema seja resolvido, pois na hora que acabar a água na torneira e doer no bolso, todos vão sentir", analisou ele.

Klink acredita que o Ceará tem de fato uma oportunidade e, agora, tem-se a consciência de que existe uma crise hídrica. Com isso, talvez o Estado saia na frente no caso da dessalinização e do reúso como uma solução que possa se multiplicar pelo planeta. "O Ceará, primeiramente como vítima da crise (hídrica), e pela posição estratégica física, tem uma privilégio muito especial, pois tem um grau de insolação enorme. A energia fotovoltaica começa a ser economicamente viável, a eólica já é, e o custo principal da dessalinização é a energia, mas países pobres, como Cabo Verde, conseguiram fechar a conta", exemplificou.

Uso racional

O gerente geral de comercialização do Diário do Nordeste, Rafael Rodrigues, reforçou que o Seminário de Economia Verde - Gestão de Água tem o intuito de tratar sobre a água não só neste momento da seca. "O planeta como um todo não vai se sustentar se não fizermos o consumo racional da água. Este é mais um momento em que o Diário do Nordeste vem trazer para o público a conscientização e mostrar alternativas e possibilidades de se conviver em um mundo sustentável", disse.

A jornalista do Diário do Nordeste e moderadora do evento, Maristela Crispim, salientou que é fundamental haver momentos como este proporcionado pelo Seminário, em que é possível fazer um alerta de que a água é limitada no planeta e, principalmente, na região do Semiárido.

"Precisamos nos preocupar com a água desde sempre, mesmo que as reservas estejam cheias. Realmente, enquanto cidadão, empresa e governo, precisamos estar atentos a isso. Este é o papel do evento: trazer a discussão para sociedade e para o setor produtivo com a Economia Verde", disse.

A iniciativa contou com o patrocínio do Governo do Estado do Ceará, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

Cultivo

O secretário do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Sema), Artur Bruno, destacou que a água é um bem essencial para a vida e é fundamental para o desenvolvimento econômico, além de ser decisivo para atividades como agricultura e pecuária. "Cabe a todo cidadão, ao poder público e à sociedade de uma maneira geral cultivar a água. Temos que tratá-la como um bem finito, apesar de existir em grande quantidade pelo mundo. Mas, sobretudo, aqui no Nordeste Semiárido, ela é um produto de muita importância", disse.

Bruno sinalizou que cabe ao Estado encontrar formas de economizar água e utilizar tecnologias para garantir a presença dela e a boa utilização, como o reúso, a dessalinização, a criação de cisternas de placa.

Debates

O presidente da Itaueira Agropecuária e representante da Fiec, no Conselho Temático de Integração Nacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Prado, fez uma breve análise da crise hídrica versus desenvolvimento econômico do Ceará. "A água é o insumo mais importante na agricultura. Sem água, não temos produção. Este é o ponto crítico no Ceará, pois hoje estamos deixando de plantar, de produzir e de gerar empregos, uma vez que não há água suficiente para isso", desabafou. Prado ainda chamou a atenção para os reservatórios da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), que não têm água para garantir o abastecimento para toda a população.

A doutoranda em Direito Ambiental Internacional pela Universidade Rovira I Virgili (Espanha) e mestra em Administração de Empresas Bleine Queiroz Caúla levantou alguns pontos em âmbito nacional sobre a questão da água. "O desperdício é uma questão muito mais cultural do que jurídica, tem que se construir ainda essa cultura. O consumidor e o cidadão têm que ser protagonistas da crise, da solução para a crise e dos direitos que trazem o bem-estar e a qualidade de vida", alertou. Bleine Queiroz Caúla citou exemplos de países Europeus durante a crise econômica e o rodízio de água adotado em São Paulo como alternativa de racionamento.

Case

A gerente de Meio Ambiente da Ambev, Stephanie Landim, apresentou o case da Cervejaria Aquiraz sobre ações ambientais. "O compromisso da companhia é sempre com a preservação da água, que é nossa principal matéria-prima. O foco é reduzir seu consumo e pensar maneiras sustentáveis de deixar nosso negócio perene", comentou. Desde o início da implantação das cervejarias, foram instalados sistemas de aproveitamento de água interno. A planta do Ceará fez parceria com a Cerâmica Tavares, que recebe o afluente tratado para produção de tijolos.

Em 2016, a cervejaria aumentou em 63% o envio da água em relação a 2015. A empresa também desenvolveu o Sistema de Auto Avaliação de Eficiência Hídrica (Saveh) e o compartilha gratuitamente com outras empresas pelo site saveh.Com.Br.

Aprendizados do mar

Klink ainda compartilhou alguns aprendizados que as águas do mar podem dar na relação da água no dia a dia das pessoas. "No barco, vivemos extrema escassez, não temos desperdícios, não há espaço para se perder e não prestar atenção. Por isso, a importância de encontrar fontes alternativas de como produzir água", disse. O navegador também defendeu a necessidade de se aplicar os conceitos de eficácia e ecoeficiência. "Pressupõe-se um sistema linear econômico e temos que pensar num sistema circular econômico, construindo um produto pensando em como reaproveitar a embalagem e como vamos desmanchá-la depois", explanou.

Segundo ele, não adianta as pessoas aprenderem a economizar água e encontrarem fontes novas se continuarem desperdiçando cerca de 50% dela. "O importante é não estragar a água que a gente já tem. E o brasileiro faz isso e isto custa caro", disse.

O empreendedor ainda ressaltou o fato de não existir a cultura de mensurar o consumo da água. "Poderíamos ter um medidor digital em cada torneira de casa para saber quanto custa realmente lavar o prato e escovar os dentes, por exemplo. Na hora que conseguirmos mensurar isso, teremos esta consciência coletiva que é preciso ser construída", finalizou.

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