Concorrência asiática e reoneração de folha podem impedir crescimento do setor calçadista do Ceará

Representantes pedem que agendas sejam revistas pelo governo federal sob pena de indústrias perderem competitividade dentro e fora do país

Escrito por Paloma Vargas , paloma.vargas@svm.com.br
fábrica da rubberloss no ceará
Legenda: Ceará é um dos maiores exportadores de calçados do país
Foto: Fabiane de Paula

São Paulo. A ampliação da produção de calçados no Ceará e no Brasil dependem de duas pautas fundamentais, conforme o setor. São elas: a discussão da reoneração da folha de pagamento e o combate ao que chamam de concorrência predatória, principalmente, vinda das plataformas internacionais de e-commerce, que atualmente estão isentas de impostos de importação em remessas de até US$ 50.

Os dois assuntos foram tratados na BFShow (feira calçadista Brazilian Footwear Show), que ocorreu nesta semana, em São Paulo. Com pelo menos 10 fábricas que possuem unidades de produção no Ceará participando da ação comercial no Sudeste, o Ceará é apontado como o segundo maior empregador do setor e o maior exportador em pares no País.

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Conforme o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, o Ceará é um dos estados que apresenta um bom potencial para que a indústria calçadista cresça, principalmente, no quesito exportação, por conta da sua alta produtividade e posição geográfica privilegiada. Atualmente, o Brasil é o quinto maior produtor de calçados do mundo e apenas 15% da produção nacional é exportada. 

Setor calçadista, reoneração da folha, Abicalçados, concorrência asiática, isenção de impostos
Legenda: Setor calçadista brasileiro pede condições igualitárias para poder concorrer com mercado asiático
Foto: Paloma Vargas

"(O estado) tem muita condição de expandir a geração de postos de trabalho através da exportação. Acontece que para isso precisamos ter melhores condições para crescer e esse debate da reoneração da folha de pagamento e da concorrência desleal, principalmente dos produtos da Ásia, precisam receber um olhar atento de todos".

Ferreira reforça que os governos estaduais, incluindo o do Ceará, por conta da sua representatividade na indústria calçadista, precisam auxiliar nessas pautas com o Governo Federal. 

“Não queremos benefícios, queremos ter condições de paridade para concorrer. Atualmente, a indústria nacional paga impostos em cascata, enquanto essas grandes plataformas (e-commerce) enviam suas remessas de até US$ 50 com isenção total de imposto de importação. O fato vem prejudicando o setor”, alertou.

Ele também expôs a capacidade da indústria calçadista nacional de crescimento no mercado interno, não fosse o que considera uma "concorrência predatória, especialmente com os calçados asiáticos".

“Capacidade de crescer mais, nós temos, o que precisamos é de consumidores para os nossos produtos no mercado interno, inundado por produções asiáticas. Com isso, estamos exportando empregos”.

O executivo da Abicalçados também falou sobre a desoneração da folha de pagamentos. Após um longo imbróglio com o Governo Federal, que ajuizou ação no STF para derrubar a renovação da medida, aprovada no Congresso Nacional, foi realizado um acordo com o Ministério da Fazenda para que a cobrança da alíquota sobre a folha de salários seguisse suspensa em 2024, passando a ter cobrança híbrida em 2025, 2026 e 2027, e voltando integralmente em 2028.

Maior empregador do setor no Ceará reforça coro sobre concorrência desleal

Os mesmos assuntos foram reforçados pelo CEO da Vulcabras, Pedro Bartelle. "Precisamos falar sempre dessa concorrência desleal. O Brasil é usado como local para escoar excedente de produção asiática. Temos que cuidar de proteger a nossa indústria local para gerar competitividade. O que pedimos não é vantagem, mas sim condições iguais de trabalho para competir".

Bartelle ainda exaltou o produto brasileiro. "Temos condições de competir porque nossa mão de obra é muito boa, somos mais produtivos e temos o recurso para fazer qualquer tipo de calçado, o que não temos é o custo. O da mão de obra, por exemplo, é muito relevante no custo final do calçado. Então, novamente, precisamos de condições igualitárias para continuarmos abastecendo o mercado brasileiro e quem sabe voltarmos a ser um grande exportador outra vez."  

Resultados apresentados

O setor calçadista brasileiro apresentou uma queda produtiva em 2023, de 2,3%, principalmente impactado pelo revés nas exportações, que caíram 16,6% naquele ano. Para este ano, no entanto, as expectativas são mais positivas.

“Em 2024, a produção deve crescer entre 0,9% e 2,2%, puxada, mais uma vez, pelo mercado doméstico. O consumo interno deve ter um incremento entre 2,4% e 3,8%, enquanto as exportações devem registrar a segunda queda consecutiva, entre 5% e 9,7%”, comentou o presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira.

Segundo Ferreira, além do ambiente internacional de desaquecimento, especialmente em função dos juros nas principais economias, a normalização dos preços do frete – que tem proporcionado a reinserção da China no mercado internacional –, vem impactando na atividade. 

Solidariedade

Na feira também foi lançado o Movimento Próximos Passos RS, criado pela Abicalçados em parceria com entidades da cadeia produtiva do calçado e empresários do setor. Por meio de um Pix a iniciativa está captando recursos financeiros que serão direcionados à reestruturação das condições de vida das famílias calçadistas impactadas.

Brazilian Footwear Show

A Brazilian Footwear Show (BFShow) contou com a participação de mais de 300 marcas de calçados de todo o Brasil, que respondem por mais de 80% da produção nacional. A expectativa de público era de mais de 10 mil pessoas durante seus três dias de realização (21 a 23 de maio). Além dos compradores nacionais, mais de 300 compradores internacionais de 60 países também compareceram no evento. 

A próxima edição da feira será realizada entre 11 e 13 de novembro, desta vez no Novo Distrito Anhembi, em São Paulo.

*A repórter viajou a convite da Abicalçados 

 

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