UPAs registram neste domingo o maior número de mortes desde maio de 2020
Situação pode ser reflexo da superlotação de UTIs e enfermarias de hospitais, de acordo com epidemiologista
Neste domingo (7), 16 pessoas morreram de Covid-19 nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do Ceará. Este é o maior número de óbitos registrados nas unidades em um só dia desde o dia 28 de maio, quando o Estado ainda estava passando pela primeira onda da pandemia. Os dados são do sistema IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
O número de óbitos diários nas UPAs apresenta tendência de crescimento. No dia 14 de fevereiro, quatro semanas atrás, dois pacientes infectados com coronavírus faleceram. Já no dia 28 de fevereiro, há uma semana, nove mortes ocorreram. O número registrado neste domingo já representa quase o dobro de pessoas que morreram no domingo anterior.
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Orientação para procurar UPAs e postos de saúde
No período de de 8 de fevereiro a 8 de março, 19.496 pessoas foram atendidas nas unidades com sintomas de síndrome gripal. Desses atendimentos, 94,58% eram de pacientes com quadros de Covid-19. A orientação dada à população é que procure as UPAs apenas aqueles com sintomas moderados ou graves. Pessoas com sintomas leves devem buscar atendimento nos postos de saúde.
“A UPA pode não necessariamente ser o primeiro lugar que o paciente procura”, diz a epidemiologista Lígia Kerr, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ela explica que os pacientes observados pelos postos de saúde são enviados às UPAs caso tenham algum fator de risco ou tenham queda no oxigênio. “Eles só estariam encaminhando aqueles que têm mais chances de progredir para uma situação grave”.
Reflexo da ocupação de UTIs
Para a epidemiologista, o número crescente de mortes nas UPAs pode ser relacionado à taxa de ocupação de UTIs no Estado, que já não tem vagas suficientes disponíveis para a demanda de pacientes de Covid-19. “Quando você chega em uma situação como essa, você não consegue nem manejar mais. Você não tem vaga, a pessoa não é transferida”.
Lígia explica que a situação de superlotação nos hospitais é parecida em diversos estados do Brasil, o que impede até transferências interestaduais. “Não temos mais a quem recorrer”, diz. As transferências intermunicipais no Ceará também estão prejudicadas pelo nível de ocupação das UTIs. Até esta segunda-feira (8) às 13h, 92,12% das vagas de UTI e 78,4% dos leitos de enfermaria do Ceará estavam ocupados.
A consequência da superlotação de UPAs, segundo Lígia, é a ocorrência de óbitos evitáveis, já que pessoas com agravamento de outras enfermidades poderão não conseguir atendimento em unidades já saturadas com casos de Covid-19.