Fevereiro é mês com mais atendimentos por coronavírus em UPAs de Fortaleza desde início da pandemia

Com quase 8 mil pacientes assistidos até esse domingo (21), unidades já receberam, antes do fim do mês, 25% mais pessoas do que em maio, pico da pandemia

Escrito por Theyse Viana e Nícolas Paulino , metro@svm.com.br
UPAs de Fortaleza têm ocupação em alta
Foto: Natinho Rodrigues

A uma semana do fim, fevereiro já é o mês com maior quantidade de pacientes com coronavírus atendidos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Fortaleza, em toda a pandemia. Até esse domingo (21), 7.876 pessoas procuraram atendimento com sintomas gripais causados pelo vírus, número 25% superior a maio de 2020, mês pico da doença, quando 6.269 cearenses buscaram auxílio médico.

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Os dados são do IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), e incluem nove das 12 UPAs da Capital. A plataforma apresenta o levantamento conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID), e não menciona especificamente a “Covid-19”, mas o agente causador, o coronavírus.

Os outros atendimentos registrados são de sintomas provocados por influenza, pneumonias, insuficiência respiratória ou outras causas não especificadas, e somados aos do vírus pandêmico, totalizam 14.235 atendimentos só neste mês.

Na manhã de sexta-feira (19), o titular da Sesa, Dr. Cabeto, afirmou que cerca de 10 mil cearenses com suspeita de Covid-19 foram atendidos em todas as unidades de saúde  da Capital até metade deste mês, quantitativo que já supera maio de 2020 inteiro – o pior período da doença no Estado.

O gestor projetou, ainda, que o somatório de assistidos ao fim de fevereiro deve chegar ao dobro do pico da pandemia, com cerca de 20 mil atendimentos em todas as UPAs de Fortaleza.

“Temos um cenário epidemiológico que começa a se desenhar para o que vivemos em abril e maio do ano passado, com aumento dos números. Hoje, 13% dos pacientes atendidos nas UPAs necessitam de internação hospitalar, e 67 pessoas estão nas unidades precisando de leitos de UTI”, revelou Dr. Cabeto em live realizada pela Sesa. 

Só até 21 de fevereiro deste ano, 188 pacientes precisaram ser transferidos das UPAs a unidades hospitalares mais complexas. Em maio do ano passado, o número chegou a 567.

Hospitalizações em alta

A procura por atendimento se expande por outras unidades de saúde públicas e privadas. As internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) por Covid-19 atingiram, nos últimos dias, os maiores números desde junho de 2020, de acordo com o IntegraSUS.

Na última sexta-feira, 738 UTIs estavam ocupadas; no sábado, eram 685; e no domingo, eram 716 pessoas internadas. Em 2 de junho do ano passado, 951 pessoas estavam internadas no suporte avançado à vida em um único dia.

A ocupação de leitos de UTI vinha em queda desde julho de 2020 e atingiu o menor número em 24 de dezembro, quando teve 163 pessoas internadas. Contudo, a demanda voltou a crescer a partir da segunda semana de janeiro de 2021, acelerando na primeira semana de fevereiro.

Dr. Cabeto explica que a demanda vem crescendo mesmo com a ampliação de novos equipamentos. “Estamos perto de 640 leitos de UTI a mais do que tínhamos em setembro de 2020. Vamos chegar no final de março em quase 800 leitos de terapia intensiva, e no começo de abril, a quase 1.000 leitos”, projeta.

Segundo o secretário, devem ser abertos mais 60 leitos de UTI em UPAs de Fortaleza e mais 40 leitos em cada hospital regional, em Quixeramobim, Sobral e Juazeiro.

Incidência de casos

Para a virologista e epidemiologista Caroline Gurgel, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará (UFC), o aumento do número de cearenses procurando por serviços médicos reflete não só uma “maior sensibilização dos pacientes aos sinais e sintomas de alerta da Covid”, mas o crescimento vertiginoso de casos.

“As pessoas estão menos temerosas quanto à presença da Covid, e acabam se expondo mais. A circulação da nova variante, P1, de Manaus, também preocupa muito, porque está sendo observada uma taxa de transmissão muito mais elevada”, pontua. Apesar disso, ela alerta que não é possível comparar, com fidelidade, os cenários do pico em 2020 e o atual.

“Agora, temos conhecimento maior pra testagem e fechamento de diagnóstico. Por mais que a gente queira comparar, como não temos as mesmas características quanto à testagem e acessibilidade da população a esses testes, não podemos. Poderemos comparar 2021 a 2022”, avalia Caroline. 

Conforme o titular da Sesa, estão sendo adquiridos mais equipamentos de proteção individual e insumos, como anestésicos, para abastecer as unidades da rede estadual de saúde, com foco em reduzir a transmissão. “Nesse momento, a pandemia expande em quase todas as regiões do Ceará. É preciso muita prudência”, destacou.

Apelo à população

Diante da circulação de novas variantes virais em território cearense e das novas restrições de circulação em Fortaleza, Dr. Cabeto fez um apelo à população.

“Estamos procurando dar ao cearense confiança, capacidade de resposta na crise e solidariedade. O momento epidemiológico é diferente, existem muitas dúvidas sobre mutações, a capacidade de contágio, a gravidade. E é possível que elas influenciem na resposta das vacinas. Por isso, é preciso isolamento. Porque quanto menos o vírus se transmitir, menos mutação tem.”

Para barrar o contágio do vírus, o Governo do Estado aplicou um novo decreto restringindo o funcionamento de estabelecimentos comerciais e do setor de serviços, além de estabelecer o fechamento de espaços públicos às 17h, um toque de recolher a partir das 22h e a reinstalação de barreiras sanitárias nas estradas de acesso entre Fortaleza e cidades vizinhas. As medidas são válidas até o dia 28 de fevereiro.

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