Pessoas dormem na calçada do Banco do Brasil à espera do pagamento do Cartão Missão Infância

Programa social da Prefeitura oferece apoio às mães de baixa renda com filhos de 0 a 2 anos e 11 meses

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Pessoas dormem na calçada do Banco do Brasil à espera do pagamento do Cartão Mais Infância
Legenda: Beneficiários ficam ao relento à espera de uma das 20 fichas que são distribuídas pela instituição financeira durante a manhã
Foto: Rafaela Duarte

Expostas ao risco de contaminação pela Covid-19, pessoas em situação de vulnerabilidade dormiram na calçada do Banco do Brasil do bairro Conjunto Ceará, na madrugada desta terça-feira (13), à espera do saque de R$ 100, referente ao cartão Missão Infância, da Prefeitura de Fortaleza. 

Anteriormente, o Diário do Nordeste havia informado que a fila formada do lado de fora da agência seria para o pagamento do cartão Mais Infância, este sendo uma política do Governo do Estado. 

O benefício foi citado pelas próprias pessoas entrevistadas presencialmente por uma equipe de reportagem do Sistema Verdes Mares, que esteve no local. 

Na manhã desta terça-feira, porém, a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) corrigiu a informação repassada pelas mães, reforçando que o auxílio mencionado é o garantido pela gestão municipal.

A primeira parcela do Mais Infância, que passou de R$ 50 para R$ 100 em virtude da crise sanitária, foi disponibilizada no último dia 25 de março para quem já possuía o benefício. Os demais repasses ocorrem em abril e maio. 

A reportagem questionou a Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social de Fortaleza (SDHDS) sobre o cronograma de pagamento do auxílio, e aguarda retorno. 

Quem tem acesso

Crianças de zero a 2 anos e 11 meses em situação de vulnerabilidade social e com renda mínima podem receber a quantia, desde que as famílias façam parte do Cadastro Único para Programas Sociais, do Governo Federal, e estejam com a vacinação em dia. 

A Prefeitura de Fortaleza entra em contato com o beneficiário e informa para qual agência do Banco do Brasil é preciso se dirigir para obter o Cartão Missão Infância.

A dona de casa Germana Pereira de Sousa tem dois filhos, um deles beneficiário do programa social, e diz que desde a semana passada tenta sacar o dinheiro proveniente do 'Mais Infância', e não consegue.

Na manhã desta terça-feira, porém, a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) corrigiu a informação repassada pelas mães. De acordo com a pasta, o banco afirmou que o auxílio é o repassado pela Prefeitura. 

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Em nota, a SPS informou que o pagamento do Cartão Mais Infância é feito de forma a evitar que o beneficiário precise se deslocar às agências bancárias.

Além disso, o órgão informou que, após contato com o banco, "não houve registros de aglomeração de pessoas nas agências bancárias em função do saque do benefício".

Realidade difícil

Para "madrugar" em frente ao Banco do Brasil, Germana deixa as crianças com o marido, que, afirma, está com suspeita de Covid-19. "Eu não tenho com quem deixar [os meninos]", lamenta.

Ela conta que se vê praticamente obrigada a virar a noite, à espera do benefício, porque, se chegar só pela manhã, as 20 fichas distribuídas no local acabam. 

"Acho uma humilhação um benefício que é pra gente, a gente ter que fazer esse sacrifício pra poder receber. Se eu tô aqui, é porque eu tô precisando. Não é à toa. Eu não ia perder uma noite de sono com o meu marido doente pra tá aqui", relata a dona de casa. 

Mostrando-se indignada com o fato, a também dona de casa Silvana da Silva Nascimento faz a mesma "peregrinação" atrás do benefício desde a semana passada, tendo que dormir na calçada da instituição financeira.

De acordo com ela, no último domingo (11), os funcionários da agência distribuíram 40 fichas para tentar suprir a demanda e efetuar o pagamento do benefício, mas não foi o suficiente. Ela e outros tantos não foram contemplados, e seguem à espera do valor.

"A gente é mãe de família. Se a gente vem pra esse lugar, passar a noite aqui, é porque a gente precisa. Eu acho até uma humilhação, porque, se tivesse trabalho, eu não taria aqui, né? Eu quero é trabalhar, não quero nada do Governo, mas, se não tem [trabalho], eu tenho que receber deles, né? Porque, querendo ou não, eu tenho filhos e meu neto, que precisam", expõe. 

A Prefeitura de Fortaleza, em nota, afirma que agência do Conjunto Ceará concentra uma quantidade maior de beneficiários do Cartão Missão Infância "por causa da proximidade com a residência deles". Conforme a gestão municipal, eram entregues 40 cartões por dia, em média, número que passou para 60 a partir desta terça.

A entrega do benefício, contudo, depende da logística do banco. Por meio da Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci), a Prefeitura tem tido reuniões sistemáticas com o banco. Uma delas ocorrerá nesta terça à tarde.

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