Nesta quinta, jornal divulgou que a prova seria adiada. Inep diz que mudança é avaliada
Após circular a notícia de que o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Danilo Dupas Ribeiro, confirmou o adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021, o órgão se manifestou e negou que a mudança esteja definida.
Conforme a apuração do jornalista Ancelmo Gois, do O Globo, Danilo teria comunicado aos membros do Conselho Nacional de Educação (CNE) que a prova ocorrerá em janeiro ou fevereiro de 2022. A justificativa seriam questões orçamentárias e também logísticas, devido à pandemia de coronavírus.
Por meio da assessoria de imprensa, o Inep negou o adiamento do Enem e enviou à Folha de S. Paulo um áudio que seria do presidente do órgão durante a reunião citada. Voz atribuída a Dupas Ribeiro afirma que o "Enem está em processo de planejamento".
"O Enem está nesse processo de planejamento [que envolve questões de orçamento]. Não tinha como eu assinar algo sem ter esses alinhamentos prévios e neste mês vamos definir a data do Enem. Como sabemos, isso impacta na logística", diz ele.
"Estamos engajados para que o Enem ocorra neste ano, mas temos essas variáveis sensíveis que estamos alinhados junto ao MEC. E em breve vamos alinhar com vocês [do CNE]."
A reportagem consultou integrantes do MEC, que confirmaram o status do processo: ainda não há definição sobre suspender a realização da prova neste ano. Na última edição, realizada na pandemia, o exame teve abstenção recorde.
Na quarta-feira (12), o Inep já havia publicado uma portaria na qual sinalizava que as metas para este ano não incluíam a aplicação do Enem.
O documento informa que as metas foram elaboradas a partir da análise do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA). No texto, assinado por Danilo Dupa, a instituição cita o "planejamento e preparação técnica" para o Enem 2021, mas não menciona a aplicação do exame.
Prova do Enem 2020 só ocorreu em 2021
Devido ao avanço da pandemia da Covid-19, e em meio a constantes polêmicas e adiamentos, o Enem 2020 só foi realizado em 2021, nos últimos dias 17 e 24 de janeiro.
O Conselho Estadual de Educação do Ceará (CEE) foi procurado pela reportagem para se posicionar sobre a possibilidade de não realização do Enem este ano.
Em resposta, o órgão informou que aguarda um posicionamento oficial do Ministério da Educação. A priori, foi planejada a discussão do tema pelo Conselho Pleno do CEE na próxima semana. Somente após avaliação do colegiado, o órgão deve emitir um parecer.
A Secretaria Estadual da Educação (Seduc), por sua vez, informou em nota que "ainda não recebeu ofício sobre mudança de data para aplicação" do exame. "Dessa forma, logo que seja feita a comunicação oficial, a Seduc poderá se manifestar a respeito", complementou.
Para o especialista em Educação, Rogers Mendes, embora o Inep negue a não aplicação do exame em 2021, é “muito complicado” uma notícia como essa vir à tona neste momento, quando muitos alunos já driblam um maior nível de ansiedade por se preparar para o Enem em plena pandemia, ainda submetidos ao modelo de aulas remotas.
“Já estamos em maio. A essa altura do campeonato, já daria para abrir as inscrições [para o Enem] e com datas para que as pessoas pudessem se organizar no tempo. Aí uma notícia como essa só [gera] tumulto”, avalia.
Incertezas e preocupação elevadas
O especialista ressalta que quem sofre mais com o "disse-me-disse" é o aluno, que vê no Enem uma “luzinha no horizonte” em meio a tantas instabilidades, agravadas pela pandemia de Covid-19. E que, ao contrário do que se imaginava, perduram em 2021.
"Pra quem está se preparando [para o Enem], é terrível não ter um calendário definido. Não é fácil. É uma falta de ritmo grande porque, por mais que goste dos professores, das aulas, você fica sem clima. O que menos se precisa num momento tão dramático como esse é insegurança de data".
Em plena preparação para o vestibular, a estudante Laís Souza confirma que a notícia a "abalou muito", assim como aos seus colegas de turma.
"Foi uma notícia que aumentou ainda mais o nosso sentimento de insegurança e incerteza com relação ao futuro. Nós não temos certeza de como vai ser a aplicação, a dinâmica da prova, de como vai ser nosso ingresso nas universidades. Também é uma notícia que nos traz preocupação e medo, até porque os argumentos realizados pelo Inep foram em relação ao orçamento", diz, lembrando que a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) corre o risco de fechar também por falta de recursos.
Rogers Mendes também considera a suposta alegação de falta de orçamento preocupante. "Se não está [no orçamento] agora, em 2021, como você vai conseguir organizar isso logo no começo de 2022? Isso gera insegurança de até não ter Enem. Esse é o receio mais profundo".
A possibilidade de não acontecer o Enem este ano pegou a estudante Laiza Leite e seus colegas de surpresa. "Foi um grande impacto porque não imaginávamos".
Laiza justifica que o início da imunização contra a Covid-19 no Brasil dava esperanças para que algo do tipo não viesse a acontecer em 2021.
"Achei que ele [exame] fosse ocorrer normalmente e com mais segurança que no ano anterior. É muito desmotivador essa incerteza de quando vai ser aplicado, quando vai ocorrer, se vai ocorrer, se vai ser online ou presencial. Essa incerteza atinge muito forte os estudantes, principalmente os de escola pública".