Mais de 3 mil candidatos do Ceará participam de modelo inédito nos próximos dois domingos. Apesar do formato digital, a prova de redação será escrita
A maior parte dos 3.112 estudantes inscritos na primeira edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) Digital, no Ceará, se concentra em Fortaleza (2.920), que vem seguida de Sobral (97) e Quixadá (95). As provas ocorrem nesse domingo (31) e no próximo, 7 de fevereiro.
No Brasil, a prova vai ser aplicada em 99 municípios para 96 mil candidatos, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Ao todo, serão aproximadamente 4 mil laboratórios, com cerca de 20 computadores em cada um. As máquinas darão acesso somente à prova. Apesar de digital, a redação será feita no papel. Cálculos e outras anotações também poderão ser realizados na folha de rascunho.
O EducaLab conversou com três estudantes cearenses que vão fazer o Enem Digital em Fortaleza. Para eles, a maior preocupação é a ocorrência de alguma falha técnica durante a prova. E que isso, de alguma forma, prejudique o desempenho no exame ou gere instabilidade emocional.
Tentando o Enem pela segunda vez, o estudante João Vitor Almeida, 23, já recebeu as instruções de como a prova vai funcionar e espera que não haja intercorrências com os dispositivos ou com a internet.
“Já fiz simulados pelo computador, então não acho que vá ter problema. Acho que vai ser igual à prova impressa, o segredo é ficar calmo”, garante o candidato aos cursos de Medicina ou Administração.
“Quando eu optei [pelo Digital], fiquei com um pouco de medo porque, nos anos anteriores, o site do Enem ficou caindo e tem todo esse congestionamento na internet”, afirma a estudante Alexandra Barroso, de 18 anos.
A jovem, que já se candidatou ao Enem como treineira, vai fazer a prova em uma universidade no bairro Jacarecanga, visando a realizar o sonho de cursar Medicina.
Viver a experiência
Neste ano, Alexandra escolheu o formato com o único objetivo de vivenciar a experiência inédita, que pode se tornar comum no futuro, já que o Inep tem a intenção de tornar o Exame totalmente digital até 2026.
“Vou mais por curiosidade pra ver como que vai acontecer”, diz a jovem, apontando não ver muitas diferenças entre a prova digital ou impressa. “Os níveis das questões permanecem os mesmos, então, pra mim, não vai beneficiar fazer uma ou a outra”.
As provas terão, de fato, segundo o Inep, o mesmo nível de dificuldade porque utilizam o sistema de correção baseado na chamada Teoria de Resposta ao Item (TRI). Porém, as questões do Enem Digital serão diferentes da prova impressa.
Aluna do curso de Letras da Universidade Federal do Ceará (UFC), Rebeca Sobrinho, 20, também vai fazer a prova para viver a experiência.
“Eu fiquei bastante curiosa pra saber como vai ser, então é só por isso mesmo”, explica. A ideia de Rebeca é compartilhar a vivência com futuros alunos e amigos vestibulandos “que fizeram o Enem tradicional com medo do digital”.
Ela não tem planos de fazer um novo curso, mas não descarta a possibilidade, caso alcance uma boa pontuação. O local de prova de Rebeca, que fará o Exame pela terceira vez, será em um instituto profissionalizante no Centro da capital.
“Eu espero que dê tudo certo, que o computador não falhe, que não tenha problemas técnicos”, espera.
A universitária também quer saber como será a experiência de responder à prova e ficar cinco horas em frente à tela de um computador. “Quero ver que efeitos isso vai causar”.
Segurança e viabilidade
Independentemente de ser impressa ou digital, a prova do Enem não deveria acontecer em meio a uma pandemia, defende a doutora em Educação brasileira e professora universitária, Ticiana Santiago.
“O ideal era que o Enem tivesse sido adiado até conseguir essa estrutura mais equitativa para todo mundo. Agora, é tentar garantir a qualidade dos pontos de acesso. Que o computador e a conexão sejam de qualidade, que os alunos saibam operacionalizar esses recursos, que eles estejam tranquilos na hora pra poder fazer isso”, enumera Santiago.