Dia da Poesia: mulheres ocupam lugar na poesia

Terceira coleção do Mulherio das Letras reúne produção lírica de 33 autoras

Legenda: Coleção de Bolso Mulherio das Letras Cred
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Hoje é o Dia Mundial da Poesia. A data foi escolhida na XXX Conferência Geral da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), no ano de 1999, para homenagear a poesia, promover a diversidade das línguas e intensificar os intercâmbios entre culturas. Momento mais que oportuno para que escritoras ocupem seu lugar na literatura. A terceira coleção do Mulherio das Letras, movimento que promove e celebra o protagonismo feminino na literatura, chega ao mercado reunindo 33 livros de bolso escritos por mulheres de todas as regiões do país. Pequenos no tamanho, os títulos são fruto de longa jornada de reflexão e produção textual. Um presente para quem escreve e para quem degusta da leitura.

Das 33 autoras selecionadas, 8 fazem parte da Confraria Poética Feminina. Três delas – Andréa Santos, Adriana Pardo Malta e Eva Dantas - estreiam em publicação solo. “Somos em número bastante representativo e forte. Oito baianas participando desta coleção ao lado de mulheres de várias partes do Brasil”, celebra Rita Queiroz que fundou a Confraria Poética Feminina com as escritoras Érica Azevedo, AnaCarol Cruz e Juliana Nogueira. Em formato 10x15, os livros de bolso têm selo da editora Venas Abiertas e serão apresentados ao público em evento virtual no próximo dia 26/03, 19h, no Instagram da Confraria Poética Feminina através do link: https://instagram.com/confrariapoeticafeminina?utm_medium=copy_link. O preço médio dos exemplares é de R$ 25.

O grupo nasceu no Facebook no ano de 2015 com a proposta de discutir questões relacionadas à autoria feminina, presença histórica de mulheres e buscar formas de ampliar sua participação na literatura. “Em um cenário literário ainda predominantemente dominado pelos homens, as mulheres vêm conseguindo publicar cada vez mais. Estamos conquistando nossa voz na literatura”, pontua a autora Palmira Heine, que também faz parte da Confraria e lança nesta coletânea do Mulherio das Letras Nasça Mulher. Poesia na Veia, de AnaCarol Cruz, Lições da Flor, de Érica Azevedo, No meio do Caminho, Poesia, de autoria de Ilza Carla Reis e Mínima Poesia, de Rita Queiroz são alguns outros títulos que integram a coleção de bolso. “Em formato 10x15, os livros de bolso cabem na bolsa, em qualquer lugar e podem despertar reflexões profundas”, acrescenta Queiroz.

Legenda: Palmira Heine Mulherio das Letras Cred
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A Confraria Poética Feminina teve início com 15 mulheres. No ano seguinte, em 2016, já eram 37 autoras. A efervescência de ideias e palavras de incentivo mútuo têm contribuído para preencher folhas em branco com escritos. Alguns guardados na gaveta desde a adolescência. Uma das participantes da Confraria que estreia na cena literária, Adriana Pardo Malta, 47 anos, descobriu na juventude o poder de se expressar através das palavras. “A leitura foi sempre presente e prazerosa na minha vida”, conta a baiana que atualmente mora no Rio de Janeiro. Rumos Poéticos, que já tinha sido publicado em 2016 em formato de E-book, ganha agora versão impressa. “O livro físico tem seu encanto. Para mim tem um significado enorme mostrar minha poesia para o mundo. É um pouquinho de mim agora impresso e capaz de tocar outras pessoas, sensibilizar”.

Embriaguez, entre Amores e Vinhos, de autoria da baiana Eva Dantas, 49 anos, é outro título que integra a coleção do Mulherio das Letras. Diretora de uma escola pública em São Sebastião do Passé, interior da Bahia, Eva tem uma longa carreira de poetisa, declamadora, participou de grupos na universidade para apresentações orais, mas não tinha seu livro solo. Escreve desde os sete anos em seu caderninho de versos. A produção dos 108 poemas deste primeiro livro nasceu da inspiração da sua dissertação de mestrado, que analisou imagens de vinhos na poesia de Godofredo Filho. “Prestes a completar meio século de vida, ter meu primeiro livro solo é um grande presente”, avalia.

Baiana de coração, Andréa Santos nasceu em São Paulo, divide o tempo entre o doutorado voltado para representações femininas na poesia da escritora baiana Myriam Fraga com a produção poética. “Gosto de questionar, de ser crítica. A escrita para mim é uma forma de liberdade e posicionamento”, define. Doutoranda em Letras na UNESP, já publicou poemas, contos, participou de coletâneas. Somente no ano passado, em meio ao caos pandêmico, se fez presente em cinco antologias.

Com a marca da escrita lírica, ela apresenta em Tessituras de Silêncios questões não ditas e que estão na ordem do dia silenciando ainda muitas mulheres. Em 83 poemas – alguns de apenas dois versos (dísticos), outros com três linhas (tercetos) – alguns ilustrados por Sabrina Abreu – Andréa Santos usa as palavras como instrumento de reflexão. “A literatura é capaz de nos abrir os olhos, mostrar um leque de novas possibilidades”, comenta Andréa.

Em um trecho do poema Silêncios, ela escreve: “Quero rasurar o silêncio. Todos os silêncios. O silêncio das meninas violadas, das pretas, das mulheres castigadas, das putas, das brancas, das indígenas, das trans. Há um rio em mim. Quero transbordar, vou alcançar o mergulho”. Consciente do quanto ainda é difícil mulher publicar no Brasil, Andréa sente-se vitoriosa por romper mais um silêncio. “Este livro foi sendo gerado aos poucos, ao longo da minha vida. É uma grande realização poder mostrar um pouco da minha escrita”.

Confraria Poética Feminina       

A primeira publicação do grupo, que nasceu nas redes sociais, nasceu de um desafio. No primeiro ano de atividades, cada participante foi convidada a escrever 10 poemas. Das 15 integrantes, 12 completaram o desafio que deu origem ao primeiro livro coletivo lançado no ano de 2016, intitulado Confraria Poética Feminina, pela editora Penalux. “Chegamos a ter 37 autoras, todas com muitas ideias, uma efervescência. Nossa intenção é transformar a Confraria em uma associação, mas isso ainda não saiu do papel”, comenta Rita Queiroz.

Em compensação, poemas, contos e textos ocupam, desde então, folhas em branco para alegria de quem escreve e de quem lê. Em 2017, uma coletânea de fotopoemas foi lançada pela Agbook, em formato de e-book e também impresso. No ano seguinte, os poemas ilustraram uma Agenda Poética. Em 2020, em plena pandemia, lançaram duas coletâneas. Brincando com Palavras, organizada por Palmira Heine, é destinada ao público inafantojuvenil. Confraria em Prosa: outros olhares e vozes femininas, organizada por Rita Queiroz, reúne textos de 18 autoras que tratam de temáticas do universo feminino: casamento, sexualidade, maternidade, violência doméstica, feminicídio.

O grupo segue ativo nas redes sociais e no WhatsApp com uma marca muito forte de incentivo para que todas superem o medo da página em branco e escrevam cada vez mais, em verso ou prosa. Em comemoração ao mês das mulheres, entre os dias 11 e 19 de março, promoveram lançamentos individuais durante a Feira Virtual do Livro Brasil, transmitida pelo Facebook. “A confraria me abriu muitas possibilidades. As trocas são generosas e nos estimulam a produzir mais e mais. O que mais admiro no grupo é que não tem competitividade”, reconhece Adriana Pardo Malta.  


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