Reforma é a chave para o crescimento do Brasil

Doutor em Economia pela USP destaca que governo precisa fazer ajuste fiscal profundo e pôr fim a privilégios

Escrito por Redação ,
Legenda: O economista Marcos Mendes, autor do livro "Por que o Brasil cresce pouco?", realizou palestra na sede do Tribunal de Contas do Ceará, em Fortaleza

Para que o Brasil atinja níveis de crescimento econômico satisfatórios a partir do próximo ano, é preciso que o governo federal acerte as próprias contas. E a principal reforma que se faz necessária é a previdenciária, dentro de uma perspectiva de ajuste fiscal mais complexa, envolvendo outras áreas. Quem defende a proposta é o doutor em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), Marcos Mendes, autor do livro "Por que o Brasil cresce pouco? - desigualdade, democracia e baixo crescimento no país do futuro". Esse foi o tema da palestra realizada por ele, ontem, no Tribunal de Contas do Ceará (TCE-CE).

Para Mendes, a classe média concentra privilégios econômicos demasiados por conta da Previdência, o que acaba acentuando as desigualdades sociais. "Hoje, a classe média se aposenta aos 48, 50 anos de idade e vai receber ao longo do resto da sua vida muito mais do que contribuiu. E quem está pagando esse imposto para subsidiá-la é o mais pobre", explica. O economista ainda destaca que é fundamental que o executivo federal reduza seus gastos também em outras áreas. Na opinião dele, essa deve ser a primeira tarefa do futuro ministro da Fazenda.

"Se não se fizer isso, a inflação vai explodir. Se a inflação explodir, quem mais vai sofrer são os mais pobres. Esse ajuste fiscal vai ter que ser profundo, o equivalente a mais de 3% do PIB. É muito dinheiro. Isso vai afetar a atividade econômica a curto prazo. Mas é inevitável", defende.

Dentre os programas que precisam ser extintos por custarem caro ao governo, destaca, estão subsídios do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a grandes empresas - na faixa de R$ 30 bilhões-, que representam valores mais altos que os investidos no Bolsa Família, e o abono salarial. "Sem resolver o problema das contas públicas, você não resolve o problema da inflação".

Desonerações

Mendes também defende a extinção do mecanismo de desonerações tributárias a empresas, como os que existem sobre a folha de pagamento e sobre impostos de produtos industrializados para automóveis. "Esse tipo de benefício apenas aumenta o lucro das empresas beneficiadas e segura o emprego dessas pessoas que trabalham para essas empresas. Então, beneficiam os proprietários e os empregados dessas empresas ao custo do resto da sociedade", defende.

O doutor em Economia destaca que o questionamento de seu livro, "Por que o Brasil cresce pouco?", refere-se ao País nos últimos 30 anos, período em que cresceu menos de 3%. Dentre os entraves para o crescimento, Mendes cita alguns que ele considera mais superficiais, como infraestrutura e educação de baixa qualidade, alta carga tributária e a morosidade da Justiça.

Baixa expansão

No entanto, as causas mais profundas do baixo crescimento, na opinião dele, estão nos gastos governamentais, que, dentro da perspectiva da democracia, buscam atender às demandas conflituosas dos mais pobres, da classe média e dos mais ricos, resultando na explosão dos gastos públicos. "Logo depois da redemocratização, nós tínhamos um gasto público que equivalia a 25% do PIB. Atualmente, nós estamos com um gasto público batendo os 40% do PIB", conclui Marcos Mendes.

Murilo Viana
Repórter

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