Entregador baleado por policial não consegue falar sobre trauma, relata familiar
Um tio da vítima informou que o homem não consegue dormir desde a alta da Unidade de Terapia Intensiva
O entregador baleado por um policial militar no Rio de Janeiro, na segunda-feira (11), não está conseguindo falar ou dormir. Conforme um tio da vítima, que optou por não se identificar, Nilton Ramon de Oliveira, de 24 anos, está assustado até com barulhos na porta.
"Estamos pensando em colocar alguém para dormir com ele porque ele não está dormindo. O medo dele é tanto que quando escuta qualquer barulho na porta, já se assusta", contou ao Uol.
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Segundo o familiar, após Nilton deixar a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o medo se intensificou. "O psicológico dele não está legal. Ele perdeu a fala, não conseguia pronunciar uma palavra. Sabe o que é uma pessoa olhar para você e não conseguir falar? Parecia uma crise de ansiedade", continuou.
Nilton está "estável" e consegue se alimentar sozinho. O jovem levou um tiro na perna que atingiu a veia femoral. O entregador não possui previsão de alta.
Família ameaçada
Luiz Carlos, cunhado de Nilton, relatou ao RJ1, da TV Globo, que a família foi ameaçada e que precisavam de uma medida protetiva.
"Ontem estávamos na porta do Salgado Filho, e, enquanto minha esposa dava entrevista no hospital, tinha policiais gravando ela, tirando foto, zombando e rindo. Na minha concepção, policiais são pagos para proteger, não coagir, e ela se sentiu coagida", disse.
O familiar já se reuniu com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) em busca por justiça.
Em nota ao Uol, a Polícia Militar informou que não foi notificada da intimidação.
'Menino esforçado'
Conforme o parente, o jovem cresceu sem muito contato com os pais e sempre se dedicou.
"Não foi criado pela mãe, passou pouco tempo com o pai, um menino esforçado, largou os estudos para trabalhar, que era o que ele estava fazendo, um menino muito esforçado, um menino de bom coração", relatou.
Relembre o caso
O entregador foi baleado no Rio de Janeiro, em 4 de março, após um cliente ter se recusado a descer para buscar o pedido na portaria. O caso aconteceu na Zona Oeste da Cidade.
O autor do disparo foi identificado como sendo o cabo Roy Martins Cavalcanti, que alegou ter atirado em legítima defesa após o entregador ter supostamente tentado pegar a arma dele.
Uma prévia da ocorrência foi registrada na 2ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar como "lesão corporal por perfuração de arma de fogo, em legítima defesa".