Spray de Israel: de teste para o tratamento do câncer de ovário ao combate à Covid-19
O spray nasal está sendo testado por cientistas israelenses no tratamento da Covid-19 e pode ter testes no Brasil nas próximas fases
Exaltado como promissor pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e motivo de viagem da comitiva brasileira a Israel nesta semana, o spray nasal desenvolvido no país asiático, chamado de EXO-CD24, está em fase inicial de testes do uso contra o novo coronavírus.
A ideia do presidente brasileiro é incluir o País nas próximas fases do experimento, contudo nenhuma solicitação de avaliação foi feita à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) até o momento.
Inicialmente, o spray era estudado para o tratamento de câncer de ovário. No entanto, diante da pandemia da Covid-19, cientistas do Centro Médico Ichilov de Tel Aviv passaram a avaliar os efeitos da droga no combate ao vírus Sars-CoV-2.
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O Governo de Israel afirma que os resultados são promissores, mas pede cautela, já que o medicamento precisa passar por outras fases de teste. Até agora, 30 voluntários foram submetidos ao uso da droga. Eles fizeram uso uma vez ao dia, por alguns minutos, durante cinco dias.
Segundo os pesquisadores, todos os pacientes estavam em estado moderado ou grave da doença. Após a aplicação do medicamento, 29 se recuperaram no intervalo de três a cinco dias. Um dos pacientes demorou mais alguns dias, mas também conseguiu se recuperar.
O EXO-CD24 atua no combate à liberação exagerada de citocinas, uma reação do sistema imune que é apontada como responsável por muitas das mortes associadas à doença. Ao usar o spray, há uma entrada de proteína CD24 no corpo, que reduz a liberação de citocinas e reduz o quadro inflamatório.
Importância da vacina
De acordo com o professor Ronni Gamzu, CEO do Hospital Ichilov, em Tel Aviv, drogas antivirais como o spray são importantes, mas nada supera a vacinação em massa como arma contra a epidemia da Covid-19. O pesquisador se reuniu na última terça-feira (9) com a delegação brasileira que foi a Israel tratar de uma colaboração nas pesquisas.
Segundo Gamzu, "há um entusiasmo" do Brasil quanto ao remédio israelense que ele não vê em outros países. O médico vê isso com bons olhos, mas alerta:
"Com todo o respeito aos medicamentos antivirais, as doenças virais acabam só com vacinas".
Além disso, diz, o desenvolvimento e teste do novo remédio pode levar "meses, senão anos", ressalta o professor.
Testes no Brasil
O medicamento EXO-CD24 foi anunciado no começo de fevereiro. A fase 1 do desenvolvimento terminou em janeiro, mas o artigo científico sobre a pesquisa ainda não foi publicado, o que deve ocorrer até o fim deste mês.
Também na terça-feira, a delegação brasileira e representantes do hospital israelense, incluindo o criador do spray, Nadir Arber, assinaram um acordo para realizar as fases 2 e 3 dos testes no Brasil.
O custo da cooperação brasileira não foi divulgado. Gamzu, ex-czar do coronavírus à frente da força-tarefa do governo israelense no combate à pandemia, alerta que desenvolver novas drogas "tem custo e é arriscado".