Groenlândia pertence a quem? Entenda importância de território cobiçado por Trump

Presidente dos Estados Unidos voltou a frisar a necessidade do país assumir o controle da ilha localizada na América do Norte

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(Atualizado às 09:02)
Colagem mostra imagem icebergs flutuam na água ao largo de Nuuk, Groenlândia, em 7 de março de 2025, ao lado de imagem do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A quem pertence à Groenlândia? Entenda importância de território cobiçado por Trump
Legenda: População groenlandesa demonstrou, em pesquisa, ampla rejeição a uma hipotética compra por parte de Washington
Foto: ODD ANDERSEN/AFP E SHUTTERSTOCK

"Precisamos da Groenlândia para a segurança internacional. Precisamos dela. Temos que tê-la", disse o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nessa quarta-feira (26), reafirmando a necessidade de o país assumir o controle do território autônomo localizado na América do Norte. O interesse do líder sobre a ilha desperta algumas dúvidas, como a de quem pertence a região insular e por que o político tem interesse nela. 

A Groenlândia não é um país, mas, sim, uma área autônoma pertencente à Dinamarca. Na prática, significa que o território possui uma certa liberdade sobre o domínio da nação europeia, como primeiro-ministro próprio e poder de legislar, mas não tem autonomia em temas que envolvam diplomacia, defesa e política monetária, conforme explica o Ministério de Assuntos Exteriores dinamarquês em seu site oficial.

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Um exemplo dessa dinâmica é o fato de a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, ter reagido às novas declarações de Trump.

Não há dúvida de que estamos em uma situação difícil. Não nos enganemos. [...] O interesse do presidente Trump pela Groenlândia não vai desaparecer. [...] Eles sabem que a Groenlândia não está à venda. Sabem que a Groenlândia não quer fazer parte dos Estados Unidos. Isso foi dito de forma inequívoca, tanto diretamente quanto publicamente."
Mette Frederiksen
Primeira-ministra da Dinamarca

O vasto território de 57 mil habitantes, 80% coberto por gelo, não integra a União Europeia (UE) e recebe uma ajuda financeira anual da Dinamarca que representa 20% do PIB local. 

Desejo por independência

A maioria da população e de todos os partidos políticos defendem a independência do território, embora haja divergências sobre o ritmo desse processo.

A ilha aguarda atualmente a formação de um novo governo após as eleições legislativas de 11 de março, que deram a vitória à oposição de centro-direita.

Em uma pesquisa realizada em janeiro deste ano, a população groenlandesa demonstrou ampla rejeição a uma hipotética compra por parte de Washington.

Importância da Groenlândia para Trump

O presidente dos EUA já havia manifestado interesse pela ilha autônoma durante seu primeiro mandato, de 2017 a 2021, e voltou à ofensiva desde sua reeleição.

Com uma superfície maior que a do México, a Groenlândia abriga em seu interior minerais essenciais para a transição energética e hidrocarbonetos, mas suas reservas ainda são modestas a nível mundial.

Reservas de metais cobiçados

Com recursos de terras raras avaliados em 36,1 milhões de toneladas pelo Serviço Nacional de Geologia da Dinamarca e Groenlândia (Geus), a ilha possui um estoque significativo desses 17 metais cobiçados pela indústria do futuro, cuja demanda deve continuar a aumentar nos próximos anos.

No entanto, as reservas — que correspondem aos recursos economicamente e tecnicamente recuperáveis — são de cerca de 1,5 milhão de toneladas, segundo o último relatório do Instituto Geológico dos Estados Unidos (USGS).

Um número modesto em comparação com as reservas da China (44 milhões de toneladas) ou do Brasil (21 milhões), mas suficiente para atrair a atenção das indústrias que buscam diversificar suas fontes de suprimento diante da dominação chinesa.

As terras raras podem ser encontradas em drones, aerogeradores, discos rígidos, motores de carros elétricos, lentes de telescópio e até em aviões de caça.

Segundo o Geus, o solo da Groenlândia também contém grafite, lítio e cobre, três minerais definidos pela Agência Internacional de Energia (AIE) como "críticos" para a transição energética. Abaixo, entenda a importância de cada um deles:

  • grafite: o Serviço Nacional de Geologia avaliou os recursos na ilha em 6 milhões de toneladas, correspondendo a 0,75% do total mundial calculado pelo USGS. Segundo relatório da AIE de maio de 2024, a China "domina toda a cadeia de produção" desse mineral, utilizado tanto em baterias quanto na indústria nuclear.
  • lítio: desempenha um papel crucial nas baterias e cuja demanda pode se multiplicar por oito até 2040, segundo a AIE, os recursos da Groenlândia estão estimados em 235 mil toneladas, representando 0,20% do total global.
  • cobre: a presença do mineral na Groenlândia, embora pouco significativa em escala mundial, parece menos estratégica do que a de urânio, combustível nuclear cobiçado, mas cuja exploração na ilha foi proibida por lei em 2021.

No território, ainda se estima que haja hidrocarbonetos equivalentes a 28.430 milhões de barris de petróleo, segundo uma estimativa do Geus, da Companhia Petrolífera Nacional da Groenlândia (Nunaoil) e da Autoridade de Recursos Minerais da Groenlândia (MRA), com base em dados da indústria.

Embora abundante, esse depósito ainda seria uma contribuição limitada para a demanda mundial, já que somente os Estados Unidos consumiram mais de 7,3 milhões de barris em 2023, conforme a Agência de Informação sobre Energia dos Estados Unidos (EIA).

Até o momento, nunca foi realizada uma perfuração industrial de petróleo ou gás na Groenlândia, embora existam três licenças de exploração petrolífera ativas no leste do território.

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