Protestos no Irã após morte de Mahsa Amini por uso de 'roupa inapropriada' já deixaram 17 mortos

Mahsa Amini, de 22 anos, foi detida acusada de "usar roupa inapropriada" e morreu dias depois em hospital

Escrito por Diário do Nordeste/AFP ,
manifestantes em rua do irã
Legenda: Protestos pela morte da jovem chegaram ao sexto dia com registro de 17 mortes
Foto: AFP

As autoridades iranianas bloquearam, nesta quinta-feira (22), o acesso a Instagram e WhatsApp, após seis dias de protestos pela morte de uma jovem detida pela "polícia da moral". Os protestos já deixaram 17 mortos no país. A morte de Mahsa Amini, de 22 anos, foi muito criticada por países e várias ONGs internacionais, que denunciaram a repressão "brutal" contra os manifestantes.

Sem revelar detalhes, a televisão estatal informou que morreram manifestantes e policiais.

Morte de Mahsa Amini

Mahsa Amini, natural do Curdistão, foi detida em 13 de setembro em Teerã acusada de "usar roupa inapropriada" pela "polícia da moral" - unidade responsável por observar o cumprimento do rígido código de vestimenta. Ela morreu em 16 de setembro em um hospital.

De acordo com ativistas, Mahsa Amini foi agredida de maneira fatal na cabeça. As autoridades iranianas negaram e a anunciaram a abertura de uma investigação. As manifestações começaram logo depois do anúncio da morte e foram registradas em 15 cidades do país.

As mulheres no Irã devem cobrir os cabelos e não têm o direito de usar peças curtas acima dos joelhos, calças apertadas ou jeans rasgados.

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Repressão e mortes

As autoridades iranianas negaram qualquer envolvimento na morte dos manifestantes. Na quarta-feira (21), durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, o presidente americano Joe Biden expressou solidariedade às "mulheres corajosas" do Irã, após um discurso desafiador do presidente iraniano. Ebrahim Raisi.

manifestante segura cartaz com a imagem da jovem Mahsa Amini durante protesto
Legenda: Protestos já se espalharam pelo mundo. Manifestantes fizeram ato diante da Assembleia Geral da ONU, em Nova York
Foto: STEPHANIE KEITH / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP

A Anistia Internacional denunciou uma "repressão brutal" e o "uso ilegal de balas de borracha, balas letais, gás lacrimogêneo, jatos d'água e cassetetes para dispersar os manifestantes".

Desde o início das manifestações, as conexões com a internet ficaram mais lentas e as autoridades bloquearam em seguida o acesso ao Instagram e WhatsApp. A medida foi adotada por causa "das ações realizadas pelos contrarrevolucionários contra a segurança nacional por meio destas redes sociais", anunciou a agência de notícias Fars.

Instagram e WhatsApp são os aplicativos mais utilizados no Irã após o bloqueio nos últimos anos de plataformas como YouTube, Facebook, Telegram, Twitter e Tiktok. Além disso, o acesso à internet é amplamente filtrado ou restrito pelas autoridades.

No sul do Irã, vídeos aparentemente de quarta-feira mostram os manifestantes queimando um grande retrato do general Qassem Soleimani, morto em um ataque americano no Iraque em janeiro de 2020.

Em outros pontos do país, os manifestantes incendiaram viaturas policiais e gritaram frases contra o governo, segundo a agência Irna. A polícia respondeu com gás lacrimogêneo e várias detenções.

Outras imagens mostram os manifestantes resistindo à forças de segurança. Vídeos que mostram mulheres ateando fogo em seus véus viralizaram no país.

"Liberdade e igualdade"

"Não ao véu, não ao turbante, sim à liberdade e à igualdade", gritaram os manifestantes em Teerã, uma frase repetida em atos de solidariedade em Nova York ou Istambul.

Mahtab, uma maquiadora de 22 anos com um véu laranja que revelava seus cabelos, declarou em Teerã que "o véu dever ser uma opção, não deve ser imposto".

As manifestações representam um "abalo muito importante no Irã e uma crise social", declarou à AFP David Rigoulet-Roze, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), que tem sede na França.

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