
O Irã acelerou significativamente sua produção de urânio enriquecido, conforme relatório confidencial da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), mesmo enquanto o chanceler iraniano reforça que a arma nuclear é “inaceitável”. A declaração foi feita neste sábado (31), em meio às negociações nucleares com os Estados Unidos.
De acordo com o documento obtido pela AFP, a AIEA constatou um aumento expressivo na quantidade de urânio enriquecido a 60%, nível próximo aos 90% necessários para fabricação de armas nucleares. Até 17 de maio, o estoque atingiu 408,6 kg, um acréscimo de 133,8 kg em três meses. No período anterior, o avanço havia sido de 92 kg.
O volume atual ultrapassa em 45 vezes o limite permitido pelo acordo nuclear firmado em 2015 entre o Irã e as grandes potências ocidentais, que previa a suspensão de sanções econômicas em troca da limitação do programa nuclear iraniano. O pacto, entretanto, foi abandonado pelos Estados Unidos em 2018, sob a presidência de Donald Trump.
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“Este aumento considerável da produção por parte do único Estado não detentor de armas nucleares que produz este tipo de material nuclear é motivo de grande preocupação”, afirmou a ONU em seu relatório.
O documento foi divulgado poucos dias antes de uma reunião da Junta de Governadores da AIEA em Viena e ocorre em meio aos diálogos entre Teerã e Washington em busca de um novo entendimento.
Em reação ao relatório, o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou: “Apesar das inúmeras advertências da comunidade internacional, o Irã está totalmente decidido a completar seu programa de armamento nuclear”.
Enriquecimento de urânio trava negociações
Estados Unidos e Irã, rivais há mais de quatro décadas, realizaram recentemente cinco rodadas de reuniões para tentar um novo acordo. O principal impasse é o enriquecimento de urânio: Washington exige que Teerã renuncie totalmente à atividade, enquanto o Irã insiste no direito de manter um programa nuclear civil.
“Se o problema é o das armas nucleares, nós também consideramos que este tipo de arma é inaceitável”, afirmou o chanceler iraniano. “Então, estamos de acordo sobre esta questão”, completou.
O Irã nega ambições nucleares militares e defende o uso do urânio para fins energéticos.
Irã cogita inspeção inédita
Em 23 de maio, representantes de Teerã e Washington se reuniram em Roma, com mediação de Omã. Não houve avanços significativos, mas ambos indicaram disposição para seguir o diálogo.
O Irã admitiu, pela primeira vez, que pode autorizar visitas de inspetores americanos às suas instalações nucleares, sob supervisão da AIEA.
Se confirmada, será a primeira vez desde a Revolução Islâmica de 1979, segundo o pesquisador Ali Vaez, do International Crisis Group.