Obra de fábrica da BYD na Bahia mantinha 163 trabalhadores em condições análogas à escravidão

Operários viviam em alojamentos com condições precários de estadia, higiene e sem alimentação adequada

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Fotos de inspeção em canteiro de obras da BYD que identificaram trabalho análogo a escravidão
Legenda: Trabalhadores foram resgatados e levados a hotel, enquanto outros continuam nos alojamentos precários, mas sem trabalhar e à espera da rescisão dos contratos
Foto: Divulgação/MPT

Um total de 163 trabalhadores em condições de trabalho análogas à escravidão foram resgatados de um canteiro de obras para a construção de uma fábrica da montadora de carros Build Your Dreams, a BYD, na Bahia. A obra e os alojamentos foram interditados, e os contratos dos operários serão rescindidos. 

A situação foi comunicada às empresas na manhã dessa segunda-feira (23). Uma audiência virtual ocorre nesta quinta-feira (26) para que a BYD e a empresa Jinjiang apresentem provas de que as operações terão condições mínimas de trabalho para continuar. Serão negociados também a regularização do que já foi detectado. 

A operação faz parte de uma série de fiscalizações que envolveram o Ministério Público do Trabalho (MPT), o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a Defensoria Pública da União (DPU), a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF).

A jornada de trabalho dos operários era de dez horas diárias, e se agravava pela ausência de folgas. Um trabalhador que sofreu um acidente de trabalho estava há 25 dias sem folgar, e ao ser entrevistado por agentes, ele informou que a rotina exaustiva pode ter causado seu acidente por conta do sono e cansaço. 

Foi verificado ainda que um trabalhador teve uma lesão no olho em abril, e nunca recebeu atendimento oftalmológico. 

Trabalhadores foram resgatados e levados a hotel, enquanto outros continuam nos alojamentos precários, mas sem trabalhar e à espera da rescisão dos contratos.

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Condições precárias 

Os trabalhadores foram encontrados em camas sem colchões, sem armários para pertences, e tinham de dormir em meio a materiais de alimentação. Era apenas um banheiro para cada 31 trabalhadores. 

Eles tinham de acordar de madrugada para formar uma fila para conseguir tomar banho e sair para trabalhar 5h30. "Precariedade e degradação", definiu o MPT.

"Todos os alojamentos compartilhavam problemas graves de infraestrutura e higiene. Os banheiros, além de insuficientes, não eram separados por sexo, não possuíam assentos sanitários adequados e apresentavam condições precárias de higiene. A ausência de local apropriado para lavagem de roupas levava os trabalhadores a utilizar os próprios banheiros para esta finalidade", informou o órgão fiscalizador. 

As cozinhas estavam em situação grave, sem armários adequados para armazenamento de alimentos. Algumas comidas eram colocadas perto de materiais de construção civil e de banheiros em condições insalubres, e somente um dos quatro alojamentos tinha um refeitório, mas de forma improvisada. 

Além das condições análogas a escravidão, os contratados também eram obrigados a pagar um caução e tinham 60% de seu pagamento retido, e recebiam apenas 40% em moeda chinesa, por conta da participação da Jinjiang, uma das empreiteiras contratadas pela BYD. 

Muitos dos trabalhadores eram estrangeiros, e conforme o MPT, se tentassem deixar o posto de trabalho após seis meses, deixaram o Brasil sem receber efetivamente nada, por conta do caução, da passagem de vinda para o Brasil e pela passagem de volta. 

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