Investigação de assassinato de Mãe Bernadete não descarta relação com homicídio do filho
Polícia procura imagens que ajudem nas investigações e procura dos suspeitos
A delegada Andrea Ribeiro, diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da Bahia, declarou que todas as medidas iniciais já estão sendo adotadas para identificar e prender o mais rápido possível os autores do assassinato da liderança quilombola Maria Bernadete Pacífico, de 72 anos, no Quilombo Pitanga dos Palmares, localizado no município Simões Filho, na Bahia. Declaração foi feita na tarde dessa sexta-feira (18).
A equipe também não descarta uma relação deste crime com o homicídio do filho da vítima, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo, há seis anos. "Temos que estudar essa investigação pretérita relacionada a morte do filho da vítima. Isso será de suma importância e é lógico que isso será feito pelas equipes que trabalham na investigação”.
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De acordo com Andrea Ribeiro, a polícia procura imagens que auxiliem nas investigações. "Nossas equipes estão em busca dessas imagens, desse possível trajeto feito pelos executores do crime". Mãe Bernadete estava em casa na noite dessa quinta-feira (17), quando dois homens usando capacete entraram no Quilombo Pitanga dos Palmares e assassinaram a líder quilombola com vários tiros.
A policial explicou que algumas linhas de investigação estão sendo trabalhadas inicialmente, mas ainda é tudo muito preliminar. “Nós ainda não temos condições de dizer quais são. Se existe uma linha determinada a seguir. Tanto assim que nós teremos a contribuição do Departamento de Narcóticos, da Coordenação de Conflitos Agrários, o Departamento de Polícia Metropolitana, para que todas as hipóteses que possam nos levar a motivação do crime sejam trazidas e descartadas a medida que a gente for avançando no esclarecimento do crime”.
Equipes de investigação de campo e de inteligência estão trabalhando em conjunto para chegar aos autores do crime. A Polícia Federal também entrou na investigação.
Líder quilombola
Maria Bernadete Pacífico Moreira era líder quilombola da comunidade Pitanga dos Palmares e da Coordenação Nacional de Articulações de Quilombos. Ela também foi secretária de Políticas de Promoção de Igualdade Racial na cidade de Simões Filho, Bahia.
Em documentário divulgado em 2021 pelo Centro de Cidadania de Salvador, mãe Bernadete, como era conhecida, falou sobre as dificuldades enfrentadas pelos agricultores do quilombo. Nas terras lideradas pela ativista, vivem 290 famílias, e 120 agricultores que produzem frutas como abacaxi, banana-da-terra, inhame e maracujá, além de verdura e farinha.
Ao final da produção, Maria Bernadete Pacífico Moreira compartilha um recado: “Tenho 70 anos e não estou cansada, não. Até onde eu puder, eu vou, mas vocês vão ficar com este cajado. Segurem, meus netos, que não é só eu que lhe dei, primeiramente Deus. Segurem isso e levem em frente, vocês e toda a comunidade".
Crime encomendado
Em entrevista à TV Brasil, Jurandir Wellington Pacífico, filho da líder quilombola, disse acreditar que a morte da mãe tenha sido um crime encomendado. Segundo ele, o mandante do assassinato teria interesse no território ocupado pelo Quilombo Pitanga dos Palmares, no município de Simões Filho (BA).
Wellington ainda informou que a mãe era ameaçada de morte desde 2016 e avaliou o recente assassinato como consequência da impunidade da morte do irmão em 2017.
“É crime de mando, crime de execução, não tem para onde correr, igual ao de Binho do Quilombo”, afirmou o filho da vítima. “Eu já perdi meu irmão, já perdi minha mãe, só resta eu, eu sou o próximo”.
Conforme o filho de Bernadete, o crime ocorreu enquanto ela via televisão. “Ela estava sentada no sofá assistindo com dois netos e mais duas crianças. Os dois meliantes adentraram na casa, botaram as crianças no quarto e executaram minha mãe com mais de 20 tiros”, relatou.
Wellington também confirmou que a mãe estava no programa de proteção à testemunha e, por isso, havia câmeras em volta da casa, mas que os policiais só visitavam o local por 20 ou 30 minutos por dia, não ficando de prontidão na comunidade.
“Os meliantes sabiam os horários que eles [os policiais] iam e atacaram. Tanto que na hora que executou minha mãe, cadê a proteção? A única coisa que ficou foram as câmeras que gravou”, afirmou.