Mudança de cor dos olhos: saiba por que procedimento feito em famosos é proibido no Brasil

A ceratopigmentação tem gerado grande repercussão e preocupado especialistas pelo alto risco e resultados irreversíveis

Escrito por
Raísa Azevedo raisa.azevedo@svm.com.br
montagem de fotos das influenciadoras Maya Massafera e Andressa Urach que passaram pela cirurgia de mudança de cor dos olhos na França
Legenda: As influenciadoras Maya Massafera e Andressa Urach passaram pela cirurgia na França
Foto: Reprodução

A ceratopigmentação, cirurgia realizada para mudar a cor dos olhos, tem gerado grande repercussão e preocupado especialistas. Proibido no Brasil, o procedimento é considerado de alto risco, com resultados irreversíveis. Apesar dos perigos da técnica, ela tem ganhado cada vez mais adeptos.

Recentemente, as influenciadoras Maya Massafera e Andressa Urach passaram pela cirurgia na França e compartilharam suas experiências com o procedimento. Nas redes sociais, Urach relatou sintomas como fortes dores e ardência durante o processo de recuperação.

O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) alerta para os riscos da cirurgia com fins meramente estéticos, mais conhecida como tatuagem da córnea. Segundo o órgão, o procedimento é indicado somente para pacientes com cegueira permanente, ou com baixa visão extrema, com o objetivo de tentar recuperar a aparência de um olho normal. 

A oftalmologista Wanessa Carneiro explica que essa intervenção, embora aparente ser um simples recurso estético, pode trazer consequências graves a longo prazo.

“A ceratopigmentação pode parecer algo simples, mas ela altera estruturalmente a córnea, abrindo caminho para perfurações, infecções intraoculares e até cegueira definitiva. Muitas pessoas com visão perfeita terminam com dor constante, ardência, sensibilidade à luz e lacrimejamento persistente”, destaca a médica, especialista em cirurgia refrativa.

A seguir, veja detalhes da cirurgia para a mudança da cor dos olhos e as consequências para a saúde ocular.

O que é ceratopigmentação?

É um procedimento cirúrgico desenvolvido para fins terapêuticos, auxiliando pacientes com certas condições oculares como cicatrizes corneanas, casos de ausência total ou parcial da íris (Aniridia), além de possibilitar a melhora da aparência de olhos que perderam a visão devido a traumas ou outras condições, detalha a oftalmologista Wanessa Carneiro.

Como é feito o procedimento de mudança de cor dos olhos?

montagem de Andressa Urach mostrando resultado de cirurgia que muda a cor dos olhos
Legenda: Influenciadora compartilhou o resultado da cirurgia nas redes sociais
Foto: Reprodução/Instagram

O procedimento consiste na criação de microcanais com uso de laser e inserção de micropigmentos nas camadas internas da córnea para alterar sua cor, de forma permanente.

“Logo no início, um laser é aplicado na superfície da córnea por 10 segundos para criar uma nova íris artificial. Após isso, é iniciada a etapa de coloração. Ainda que ofereça mudança permanente, tal escolha acarreta riscos graves como perfurações, infecções no interior do olho, aumento da pressão intraocular, desenvolvimento de glaucoma, inflamações crônicas, catarata, dificuldade em realizar mapeamentos da retina e cirurgias futuras, como transplante de córnea ou catarata”, diz a especialista.

Quanto à infraestrutura do local do atendimento, o CBO diz que deve ser realizado em centro cirúrgico e com o paciente anestesiado. No pós-operatório, é imprescindível um seguimento clínico e uso correto dos colírios para redução de riscos.

Por que o procedimento é proibido no Brasil?

A ceratopigmentação é proibida no País para fins puramente estéticos. O principal motivo dessa proibição está ligada aos altíssimos riscos à saúde ocular que envolvem a realização do procedimento em olhos saudáveis.

Conforme o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, o procedimento é recomendado exclusivamente para pessoas que perderam a visão e pode ser realizado apenas quando a córnea já está comprometida, sob estrita recomendação médica. O Conselho Federal de Medicina (CFM) também não autoriza o uso da técnica por finalidade estética.

Quanto custa a cirurgia? Em quais países ela é permitida?

Estados Unidos, Suíça, Itália e França são alguns dos países onde a ceratopigmentação é permitida.

O custo do procedimento no exterior pode variar, mas os valores médios estão entre US$ 9 mil e US$ 10 mil — aproximadamente R$ 45 mil a R$ 55 mil no câmbio atual.

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Quais as consequências do procedimento?

A oftalmologista Wanessa Carneiro explica que as complicações como inflamação crônica, glaucoma e catarata estão entre os efeitos mais comuns a longo prazo.

Segundo a especialista, o pigmento dificulta futuras intervenções, como as cirurgias de catarata e os exames de retina. Além disso, em muitos casos, o pigmento encobre o estroma corneano, prejudicando mapeamentos e procedimentos reparadores. Em casos mais graves, o paciente saudável pode acabar precisando de transplante de córnea.

“A ceratopigmentação pode dificultar o diagnóstico e tratamento de catarata e glaucoma, aumentar o risco de infecções oculares graves, causar danos irreversíveis à córnea, como cicatrizes e opacidades, e até levar à diminuição do campo de visão ou cegueira", diz a profissional.

“Por não ser liberada no Brasil, as pessoas têm buscado essa alternativa em países como a França, e muitas delas não pesquisam o procedimento por completo. É fundamental entender todos os riscos que envolvem a possibilidade de mudança definitiva da cor dos olhos”, complementa.

Mesmo proibido no Brasil, é seguro mudar a cor dos olhos? 

O procedimento não é considerado seguro em olhos saudáveis pelos altos riscos de danos.

“Nós recomendamos que as pessoas que desejam mudar a cor dos olhos optem por lentes de contato coloridas prescritas por um oftalmologista. Manter o acompanhamento médico e os cuidados de higiene, essa é a alternativa mais segura e que não traz riscos à visão”, recomenda Wanessa Carneiro.

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