Síndrome nefrótica: o que é, principais causas, sintomas e tratamento
Condição pode estar relacionada com queda da imunidade e inchaço.
A síndrome nefrótica é uma condição que afeta os rins e pode estar diretamente relacionada com a queda de imunidade e o inchaço no corpo. Em entrevista ao Diário do Nordeste, o médico nefrologista Evandro Faria*, deu detalhes sobre as causas, os sintomas e os principais tratamentos.
Conforme o especialista, os rins possuem um sistema no qual o sangue é filtrado. Uma das estruturas dos rins "funciona como um filtro seletivo que deixa passar água, eletrólitos, resíduos de metabolismo e toxinas, mas que impede a passagem de proteínas como a albumina", afirma.
Veja também
Esses resíduos saem na urina. No entanto, quando o filtro apresenta defeito, deixando passar também a albumina, é quando a síndrome nefrótica pode ser identificada.
"E por que falamos síndrome nefrótica e não doença nefrótica? Em medicina, toda vez que um conjunto de sinais e sintomas comuns são causados por várias doenças diferentes, denomina-se síndrome", explica.
O que é síndrome nefrótica?
A síndrome nefrótica é uma condição que ocorre quando os glomérulos — estruturas nos rins responsáveis por formar a urina, filtrando o sangue para remover resíduos e excesso de líquidos — perdem a capacidade de reter a proteína albumina.
Segundo o nefrologista Evandro Faria, essa proteína pode ser expelida em excesso na urina quando o paciente apresenta lesões estruturais ou inflamatórias nos filtros renais. Com isso, existe a redução de albumina no sangue.
"A albumina é a responsável por 'segurar' a água dentro do sangue. Sem ela, há perda da capacidade de reter a água circulante, que extravasa para os tecidos periféricos, ocasionando edema (inchaço), sobrecarregando o fígado na síntese proteica".
Essa síndrome pode resultar no aumento do colesterol, assim como do risco de tromboses.
Qual a diferença entre síndrome nefrítica e nefrótica?
Essas síndromes podem acontecer juntas, mas dentre as diferenças, estão:
- Síndrome nefrótica: causa grande perda de proteínas na urina causando edema (inchaço) geralmente sem perda inicial de função renal;
- Síndrome nefrítica: geralmente mais grave, é acompanhada de hipertensão arterial, redução da urina, perda de função renal, usualmente causada por uma inflamação mais grave do glomérulo.
Como se desenvolve a síndrome nefrótica?
As causas dessa síndrome podem ser:
- Doenças próprias do rim: como doença de lesões mínimas, glomeruloesclerose segmentar e focal ( GESF) e nefropatia membranos;
- Doenças secundárias: como diabetes, lúpus, infecções e medicamentos.
Cada uma dessas condições tem gravidade, evolução e tratamento diferentes dentro da síndrome nefrótica.
Qual a causa mais comum de síndrome nefrótica em crianças
A principal causa infantil dessa síndrome é a doença de lesões mínimas — condição que pode resultar na perda excessiva de proteínas na urina — geralmente de origem imunológica. Nesses casos, as crianças podem apresentar respostas a partir de uma terapia com corticoides e diuréticos, assim como a redução de sal.
Neste ano, o cantor Junior Lima revelou que sua filha, Lara, foi diagnosticada com a síndrome rara. A criança de três anos é fruto de seu relacionamento com Monica Benini.
Como diagnosticar síndrome nefrótica
O diagnóstico precisa ser realizado de modo clínico e laboratorial. Os médicos analisam se o paciente apresentou:
- Proteinúria elevada: perda de proteínas na urina, geralmente menor que 3,5 g por dia;
- Edema: inchaço nas pernas;
- Albumina baixa no sangue;
- Colesterol elevado.
Em adultos, o especialista ainda acrescentou que é possível realizar exames de sangue e biópsia renal. "Mais recentemente surgiram alguns anticorpos específicos que podem auxiliar no diagnóstico no adulto", disse.
Veja os sinais e sintomas do paciente com síndrome nefrótica
Um dos principais sinais é o inchaço nas pernas, assim como o aspecto de pálpebras caídas. Além disso, Evandro alerta que o paciente pode apresentar uma urina espumosa, "como se fosse clara de ovo".
Dentre outros sintomas, estão:
- Ganho rápido de peso;
- Cansaço;
- Maior suscetibilidade a infecções;
- Pressão alta (alguns casos).
Qual o tratamento para síndrome nefrótica
O tratamento vai depender da causa, mas ele pode incluir:
- Uso de corticoides;
- Uso de imunossupressores;
- Controle rigoroso da pressão;
- Uso de inibidores da ECA/BRA para reduzir perda de proteína na urina;
- Uso de inibidores do transporte de Sódio/Glicose no túbulo
- Dieta com restrição de sal;
- Controle de colesterol.
Quanto tempo leva para se curar a síndrome nefrótica?
Em crianças, as lesões mínimas podem apresentar melhoras em algumas semanas. Já em adultos, em que as ocorrências costumam ser mais graves, a melhora pode demorar meses ou anos.
"A Nefropatia membranosa ou Glomeruloesclorose Focal e Segmentar (GESF) podem levar meses ou anos; algumas evoluem de forma crônica, podendo levar a perda da função renal e necessidade de hemodiálise e transplante renal. Há casos que entram em remissão completa e outros que a recorrência é frequente", detalha Evandro.
Saiba como prevenir a síndrome nefrótica
Não existe prevenção específica para formas primárias da condição, ou seja, casos em que a síndrome surge espontaneamente. Já para causas secundárias, relacionadas com outras condições médicas preexistentes, é possível adotar algumas medidas, como:
- Controlar diabetes;
- Controlar pressão;
- Evitar uso inadequado de medicamentos (como anti-inflamatórios);
- Tratar infecções.
Esse acompanhamento regular ajuda a reduzir os riscos.
Quem tem síndrome nefrótica tem direito a aposentadoria?
O direito a aposentadoria vai depender do grau de incapacidade da condição. Apenas a síndrome isolada não garante o benefício.
No caso dos pacientes que realizam o tratamento com imunossupressores, medicações que reduzem a imunidade, é possível haver o pedido de afastamento das atividades profissionais na fase mais crítica.
"Se houver complicações graves ou evolução para doença renal crônica avançada com necessidade de hemodiálise, o INSS pode conceder auxílio ou aposentadoria após perícia".
Cuidados e acompanhamento médico
No caso dos pacientes que possuem a síndrome nefrótica, é essencial ter um acompanhamento médico para controlar o quadro de cada pessoa e fazer os tratamentos necessários. Conforme Evandro, a síndrome exige:
- Monitorização regular da função renal e da proteinúria;
- Acompanhamento dos possíveis efeitos de medicamentos.
Além disso, também é preciso ter cuidados constantes com dieta e vacinação.
*Evandro Faria, médico nefrologista da Rede Instituto do Câncer do Ceará (ICC).