Síndrome nefrótica: o que é, principais causas, sintomas e tratamento

Condição pode estar relacionada com queda da imunidade e inchaço.

Escrito por
Beatriz Rabelo beatriz.rabelo@svm.com.br
Mulher com as mãos nos rins para matéria sobre síndrome nefrótica.
Legenda: O diagnóstico da síndrome é clínico e laboratorial.
Foto: Shutterstock/onstockphoto.

A síndrome nefrótica é uma condição que afeta os rins e pode estar diretamente relacionada com a queda de imunidade e o inchaço no corpo. Em entrevista ao Diário do Nordeste, o médico nefrologista Evandro Faria*, deu detalhes sobre as causas, os sintomas e os principais tratamentos.

Conforme o especialista, os rins possuem um sistema no qual o sangue é filtrado. Uma das estruturas dos rins "funciona como um filtro seletivo que deixa passar água, eletrólitos, resíduos de metabolismo e toxinas, mas que impede a passagem de proteínas como a albumina", afirma.

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Esses resíduos saem na urina. No entanto, quando o filtro apresenta defeito, deixando passar também a albumina, é quando a síndrome nefrótica pode ser identificada.

"E por que falamos síndrome nefrótica e não doença nefrótica? Em medicina, toda vez que um conjunto de sinais e sintomas comuns são causados por várias doenças diferentes, denomina-se síndrome", explica.

O que é síndrome nefrótica? 

A síndrome nefrótica é uma condição que ocorre quando os glomérulos — estruturas nos rins responsáveis por formar a urina, filtrando o sangue para remover resíduos e excesso de líquidos — perdem a capacidade de reter a proteína albumina. 

Segundo o nefrologista Evandro Faria, essa proteína pode ser expelida em excesso na urina quando o paciente apresenta lesões estruturais ou inflamatórias nos filtros renais. Com isso, existe a redução de albumina no sangue. 

"A albumina é a responsável por 'segurar' a água dentro do sangue. Sem ela, há perda da capacidade de reter a água circulante, que extravasa para os tecidos periféricos, ocasionando edema (inchaço), sobrecarregando o fígado na síntese proteica". 
Evandro Faria
Médico nefrologista da Rede ICC

Essa síndrome pode resultar no aumento do colesterol, assim como do risco de tromboses. 

Qual a diferença entre síndrome nefrítica e nefrótica? 

Essas síndromes podem acontecer juntas, mas dentre as diferenças, estão: 

  • Síndrome nefrótica: causa grande perda de proteínas na urina causando edema (inchaço) geralmente sem perda inicial de função renal; 
  • Síndrome nefrítica: geralmente mais grave, é acompanhada de hipertensão arterial, redução da urina, perda de função renal, usualmente causada por uma inflamação mais grave do glomérulo. 

Imagem de um menino curvado, com dor, para matéria sobre síndrome nefrótica.
Legenda: A principal causa infantil é a doença de lesões mínimas.
Foto: Shutterstock/Streamlight Studios.

Como se desenvolve a síndrome nefrótica?

As causas dessa síndrome podem ser:

  • Doenças próprias do rim: como doença de lesões mínimas, glomeruloesclerose segmentar e focal ( GESF) e nefropatia membranos; 
  • Doenças secundárias: como diabetes, lúpus, infecções e medicamentos.

Cada uma dessas condições tem gravidade, evolução e tratamento diferentes dentro da síndrome nefrótica.

Qual a causa mais comum de síndrome nefrótica em crianças 

A principal causa infantil dessa síndrome é a doença de lesões mínimas — condição que pode resultar na perda excessiva de proteínas na urina — geralmente de origem imunológica. Nesses casos, as crianças podem apresentar respostas a partir de uma terapia com corticoides e diuréticos, assim como a redução de sal. 

Neste ano, o cantor Junior Lima revelou que sua filha, Lara, foi diagnosticada com a síndrome rara. A criança de três anos é fruto de seu relacionamento com Monica Benini. 

Como diagnosticar síndrome nefrótica

O diagnóstico precisa ser realizado de modo clínico e laboratorial. Os médicos analisam se o paciente apresentou: 

  • Proteinúria elevada: perda de proteínas na urina, geralmente menor que 3,5 g por dia; 
  • Edema: inchaço nas pernas;
  • Albumina baixa no sangue;
  • Colesterol elevado.

Em adultos, o especialista ainda acrescentou que é possível realizar exames de sangue e biópsia renal. "Mais recentemente surgiram alguns anticorpos específicos que podem auxiliar no diagnóstico no adulto", disse.

Veja os sinais e sintomas do paciente com síndrome nefrótica

Um dos principais sinais é o inchaço nas pernas, assim como o aspecto de pálpebras caídas. Além disso, Evandro alerta que o paciente pode apresentar uma urina espumosa, "como se fosse clara de ovo". 

Dentre outros sintomas, estão: 

  • Ganho rápido de peso;
  • Cansaço; 
  • Maior suscetibilidade a infecções; 
  • Pressão alta (alguns casos).

Imagem de um médico fazendo testes na perna de um paciente para uma matéria sobre síndrome nefrótica.
Legenda: O inchaço nas pernas é um dos sintomas mais comuns, que costuma chamar atenção primeiro.
Foto: Shutterstock/Casa nayafana.

Qual o tratamento para síndrome nefrótica

O tratamento vai depender da causa, mas ele pode incluir:

  • Uso de corticoides; 
  • Uso de imunossupressores; 
  • Controle rigoroso da pressão; 
  • Uso de inibidores da ECA/BRA para reduzir perda de proteína na urina; 
  • Uso de inibidores do transporte de Sódio/Glicose no túbulo
  • Dieta com restrição de sal;
  • Controle de colesterol.

Quanto tempo leva para se curar a síndrome nefrótica?

Em crianças, as lesões mínimas podem apresentar melhoras em algumas semanas. Já em adultos, em que as ocorrências costumam ser mais graves, a melhora pode demorar meses ou anos. 

"A Nefropatia membranosa ou Glomeruloesclorose Focal e Segmentar (GESF) podem levar meses ou anos; algumas evoluem de forma crônica, podendo levar a perda da função renal e necessidade de hemodiálise e transplante renal. Há casos que entram em remissão completa e outros que a recorrência é frequente", detalha Evandro.

Saiba como prevenir a síndrome nefrótica 

Não existe prevenção específica para formas primárias da condição, ou seja, casos em que a síndrome surge espontaneamente. Já para causas secundárias, relacionadas com outras condições médicas preexistentes, é possível adotar algumas medidas, como:

  • Controlar diabetes; 
  • Controlar pressão; 
  • Evitar uso inadequado de medicamentos (como anti-inflamatórios);
  • Tratar infecções.

Esse acompanhamento regular ajuda a reduzir os riscos. 

Imagem de um rim para uma matéria sobre síndrome nefrótica: o que é, principais causas, sintomas e tratamento.
Legenda: O acompanhamento com nefrologista é essencial para controlar a doença.
Foto: Shutterstock/Shidlovski.

Quem tem síndrome nefrótica tem direito a aposentadoria? 

O direito a aposentadoria vai depender do grau de incapacidade da condição. Apenas a síndrome isolada não garante o benefício.

No caso dos pacientes que realizam o tratamento com imunossupressores, medicações que reduzem a imunidade, é possível haver o pedido de afastamento das atividades profissionais na fase mais crítica. 

"Se houver complicações graves ou evolução para doença renal crônica avançada com necessidade de hemodiálise, o INSS pode conceder auxílio ou aposentadoria após perícia".
Evandro Faria
Nefrologista da Rede ICC

Cuidados e acompanhamento médico

No caso dos pacientes que possuem a síndrome nefrótica, é essencial ter um acompanhamento médico para controlar o quadro de cada pessoa e fazer os tratamentos necessários. Conforme Evandro, a síndrome exige: 

  • Monitorização regular da função renal e da proteinúria; 
  • Acompanhamento dos possíveis efeitos de medicamentos. 

Além disso, também é preciso ter cuidados constantes com dieta e vacinação

*Evandro Faria, médico nefrologista da Rede Instituto do Câncer do Ceará (ICC).

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