Um ano e meio depois, como está o processo do médico réu por crimes sexuais no Cariri
Uma das vítimas, que afirma ter sido abusada sexualmente pelo médico tem paralisia cerebral
Mais de um ano e meio após o Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciar o médico Cícero Valdizébio Pereira Agra por crime sexual mediante fraude, vítimas e testemunhas ainda não falaram em juízo acerca do processo na esfera criminal. Há duas semanas, as mulheres foram ouvidas por um juiz, pela primeira vez, mas em outra ação, a cível, com pedido de indenização pelos danos.
A audiência ocorrida em Juazeiro do Norte virou um "palco de circo de horror", segundo o advogado das vítimas, devido às falas proferidas pelo magistrado durante a sessão. Agora, a acusação aguarda posicionamento da Justiça diante ao principal processo, que tramita na 1ª Vara Criminal da Comarca de Crato.
Em junho de 2022, foi anexado nos autos que se designasse data para realização da audiência de instrução e julgamento por videoconferência. Há meses a ação criminal não era movimentada, até que na última quinta-feira (3), após contato da reportagem junto ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), a audiência foi agendada para agosto de 2024. Será pelo menos mais um ano de espera para elas serem ouvidas, de forma virtual e com a expectativa do próximo momento ser menos traumático.
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A defesa do médico foi procurada pela reportagem, mas não se posicionou até a edição desta matéria
VÍTIMA COM PARALISIA CEREBRAL
Uma das vítimas, que afirma ter sido abusada sexualmente pelo médico, não pode comparecer à sessão da ação cível, porque passou mal, instantes antes da audiência: "fiquei nervosa só em imaginar que eu ia ver ele".
A jovem de 25 anos tem paralisia cerebral e se consultava com Valdibézio desde criança. Quando cresceu, começou a ser questionada pelo médico e a estranhar as perguntas: "se já ia para a academia", "se tinha namorado", contam ela e a mãe da vítima.
"Ele esfregava as partes em mim e eu não entendia o que tava acontecendo. Um dia, ele tava fazendo ventosa terapia. Depois tirou todas as ventosas, me virou e fez o que fez"
A mãe da jovem especifica que Cícero "colocou a boca no peito e passou a língua na filha". "Ele sabia que minha filha tem problemas e ainda se aproveitou disso", diz.
"NÃO IMAGINAVA O QUE IA ACONTECER"
Outra vítima do médico relata que, "desde o início da consulta, percebeu que as atitudes do médico estavam um pouco diferente das realizadas nas consultas anteriores".
"Perguntou se eu namorava, se eu transava. Deitei na maca, constrangida, quieta, mas ainda sem entender bem. Não imaginava o que ia acontecer, se não tinha saído do consultório na mesma hora".
Seguindo a consulta, após as perguntas constrangedoras, o médico colocou as ventosas, como de costume. Todavia, a autora percebeu que as massagens do médico naquele momento estavam um tanto quanto anormais. Isso porque, primeiramente, as calças da autora foram baixadas muito mais do que o normal e suficiente para o procedimento. Mais até do que o de costume.
Afora isso, as massagens do médico por vezes chegavam até as laterais dos seios da autora, sendo que isso não havia ocorrido nas consultas anteriores. Até este momento, a angústia da autora só aumentava. Sua cabeça, nesse momento, era um turbilhão de pensamentos: aquilo era normal? Ela estava sendo abusada mesmo? Isso realmente estava acontecendo?"
A defesa do acusado pediu pela "inépcia da acusação" e o Acordo de Não Persecução Penal (ANPP). A Justiça indeferiu a tese da defesa e manteve o recebimento da denúncia na íntegra. O processo segue tramitando em segredo de Justiça.