Tenente da PMCE é suspeito de cometer homicídios, e outro oficial é acusado de vender carro roubado
Um policial militar foi indiciado pela Polícia Civil por participar de dois assassinatos, registrados com uma diferença de 26 dias. Já o outro PM foi denunciado pelo Ministério Público por receptação e adulteração de sinal identificador de veículo
Dois tenentes da Polícia Militar do Ceará (PMCE) são alvos de investigações criminais, que tiveram desdobramentos nos últimos meses. Um oficial é suspeito de matar dois homens, em um intervalo de 30 dias. Já o outro militar é acusado de vender um carro roubado, com placas "clonadas". As defesas dos PMs não foram localizadas pela reportagem. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Ceará (CGD) instaurou Conselho de Justificação contra o tenente da Reserva Remunerada José Marcos de Sousa, em razão das investigações criminais de dois homicídios, ocorridos no Município de Barro (a cerca de 450 km de distância de Fortaleza), no ano de 2018.
Conforme a portaria da CGD, publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) do último dia 4 de agosto, o tenente José Marcos foi indiciado pela Polícia Civil do Ceará (PCCE), em dois inquéritos, por participar dos assassinatos de Ricardo Moreira dos Santos, no Centro de Barro, na manhã de 2 de abril de 2018; e de Sebastião Salmito Ferreira dos Santos, no mesmo Município, no dia 28 daquele mês. Os dois homicídios ocorreram com uma diferença de 26 dias.
Ricardo dos Santos foi morto "quando voltava da cadeia, e foi abordado por dois homens de moto que efetuaram cerca de cinco disparos de arma de fogo em direção à vítima", resumiu a CGD.
A reportagem apurou que a vítima, conhecida como 'Ricardo Caveirão', cumpria pena em regime semiaberto e, naquela manhã, voltava para casa, onde passaria a semana (segunda a sexta-feira), depois de um fim de semana na Cadeia Pública.
Já Sebastião Salmito cumpria uma pena, oriunda de uma condenação na Justiça. Segundo a CGD, ele foi assassinado na Vila Trajano Nogueira, "quando se dirigia a um hospital onde cumpria pena de prestação de serviço comunitário, e foi abordado por um indivíduo que efetuou cerca de cinco disparos em direção à vítima e em seguida montou em uma motocicleta e evadiu-se do local".
Os advogados do PM não foram localizados pela reportagem. Os processos na Justiça estadual contra o oficial tramitam em segredo de Justiça.
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Venda de carro roubado
Já com relação a outro tenente da Corporação, o Diário do Nordeste obteve a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE) contra quatro homens pelos crimes de receptação e adulteração de sinal identificador de veículo. Entre eles está o tenente da Polícia Militar Ítalo Marcondes Matias Barboza.
A denúncia foi apresentada pelo (MPCE), no último dia 30 de junho. Conforme o documento, a Polícia Militar apreendeu um veículo Fiat Strada, com sinais identificadores alterados e fruto de roubo, no Centro de Missão Velha (a cerca de 500 km de distância de Fortaleza), na tarde de 28 de janeiro deste ano.
Conforme ainda a denúncia do MPCE, o veículo estava na posse do crediarista Marcelo Ferreira da Silva, que indicou ter comprado o carro do empresário Francisco Custódio dos Santos. Este, por sua vez, afirmou que comprou o automóvel do PM Ítalo Marcondes.
"Ítalo Marcondes Matias Barboza, ouvido, posteriormente, negou envolvimento nos fatos, alegando que seu irmão, Antônio Marcos, foi quem adquiriu o veículo de Marcos Brandão e o vendeu a Francisco Custódio. Afirmou não se lembrar de ter dirigido o veículo ou participado da negociação, embora tenha reconhecido que seu irmão é interditado, sendo a mãe de ambos sua curadora", acrescentou o MPCE.
Já Antônio Marcos Brandão sustentou que comprou o carro de um homem que já faleceu e depois revendeu ao policial militar. "Disse que a documentação seria entregue posteriormente e que Ítalo verificou os débitos do veículo antes da compra", narrou a denúncia obtida pelo Diário do Nordeste.
O Ministério Público decidiu denunciar os quatro homens envolvidos com a negociação. Segundo o Órgão, a adulteração das placas foi constatada por exame pericial, que identificou que o veículo, emplacado no Distrito Federal, tinha queixa de roubo; e a receptação dolosa foi comprovada pela compra e venda do veículo por preços "muito abaixo do praticado no mercado, reforçando a suspeita de má-fé".
A denúncia do MPCE foi enviada à Comarca de 1º Núcleo de Custódia e Garantias de Juazeiro do Norte, que declinou da competência de julgar o caso e transferiu o processo para a Comarca de Missão Velha (onde o veículo foi apreendido).
Empresa de segurança irregular
A reportagem apurou que o tenente Ítalo Marcondes Matias Barboza era o real proprietário da empresa de segurança MV Seg, que funcionava em Missão Velha até outubro do ano passado - apesar da empresa ter o CNPJ atrelado ao nome da irmã do militar.
No dia 7 do mês anterior, dois funcionários da MV Seg foram abordados pela Polícia Militar e levados à sede da Polícia Federal (PF) em Juazeiro do Norte, em razão de atuarem em desconformidade com o Estatuto da Segurança Privada.
Os seguranças atuavam em uma farmácia e em um supermercado, com farda semelhante ao Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio), da Polícia Militar, balaclava e capa tática. Um segurança não tinha carteira de vigilante nem permissão da PF para exercer a profissão. Já o outro profissional tinha documento de vigilante, mas estava na posse de um simulacro de arma de fogo e um punhal.
A Polícia Federal foi questionada sobre a situação da empresa do policial militar, mas não emitiu resposta até a publicação desta matéria. O Diário do Nordeste apurou que a empresa de segurança foi fechada ainda em 2024 por atuação contrária ao que prevê o Estatuto da Segurança Privada.
A defesa do oficial denunciado não foi localizada para comentar as investigações. O espaço segue aberto para futuras manifestações.