Superintendente da Supesp explica como análise de dados criminais pode ajudar no trabalho da Polícia

Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, Juliana Márcia Barroso adiantou o lançamento de novas ações estratégicas do Estado no combate a crimes no Ceará

Escrito por
Paulo Roberto Maciel* paulo.maciel@svm.com.br
(Atualizado às 12:56)
Juliana Barroso, superintendente da Supesp no Ceará, sorridente em ambiente de escritório, usando blusa azul, com acessórios de joias e sentada em cadeira de escritório, praticando postura confiante.
Legenda: Entre as iniciativas criadas em parceria com a superintendência, o programa "Meu Celular" se tornou uma forte resposta aos furtos cometidos no Estado
Foto: Kid Jr

Pouco mais de dois meses após assumir a chefia da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), Juliana Márcia Barroso diz estar orgulhosa com os avanços observados pelo órgão com relação à segurança pública no Ceará. "Nós temos um objetivo, um caminho a ser trilhado, que está dando certo".

Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, a superintendente explicou os caminhos seguidos pela Supesp para se tornar um dos braços mais importantes da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), na busca pela garantia de maior efetividade nas ações policiais no Estado.

"Existe uma preocupação nossa de trabalhar com o ser humano, o policial. Como esse policial vê toda a situação da cidade ao redor dele. Antigamente, eles estavam muito adaptados em dizer: 'Olha, aqui quem tá no campo sou eu'. Mas como eles vão utilizar as novas ferramentas de informação no dia a dia? É aí que atuamos", explica.

Juliana também adiantou para a reportagem novidades da Pasta, como o novo protocolo cearense para registro de pessoas desaparecidas e um painel dinâmico para denúncias de violências contra animais.

Todas as nossas ações são pensadas para informar a população e promover a transparência de dados. Nos preocupamos com a qualidade dessas informações. Temos trabalhado muito, feito reuniões com as Polícias no sentido de dizer o que a gente espera dos dados. Porque quando esse dados chegam qualificados para a gente, a devolutiva também é muito boa.
Juliana Barroso
Superintendente da Supesp

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Tecnologia integrada às Forças de Segurança

Juliana Barroso em ambiente de escritório, usando blusa azul, com acessórios de joias e sentada em cadeira de escritório, praticando postura confiante.
Legenda: Juliana Barroso já atuou no controle de estratégias de segurança em Brasília, Pará e Rio de Janeiro
Foto: Kid Jr

Durante a entrevista, a superintendente também pontuou o papel primordial das Tecnologias de Informação (TIs) no dia a dia das Forças de Segurança no Ceará. Segundo ela, os processos de inteligência gerenciados pela Supesp se fazem presente desde antes da ocorrência até o andamento do processo judicial.

Agora, no início de agosto, a gente andou em todas as regiões. Eu montei uma espécie de caravana da Supesp, no sentido de oferecer às Polícias as ferramentas que nós temos. E nisso, tem de tudo um pouco. Tem pessoas com resistência, porque são de outra geração. Mas as gerações novas, um capitão ou major mais novo, são mais receptivos, e introduzem as tecnologias no cotidiano do policiamento.
Juliana Barroso
Superintendente da Supesp

Nos últimos três anos, a gestão Estadual investiu milhões na área de segurança, resultando em ações como o fortalecimento da Polícia Forense do Ceará (Pefoce), com recursos de cerca de R$ 33 milhões, e as novas estações de videomonitoramento da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops), inauguradas em janeiro.

Esses esforços, segundo a superintendente, foram primordiais para a obtenção e o compartilhamento de dados que irão auxiliar na atuação policial. Entre os resultados, está a criação do novo protocolo cearense para registro de pessoas desaparecidas.

Juliana cita que a ideia é baseada na plataforma do governo Federal criada para o mesmo intuito, e que integrará Polícias Civil, Militar, Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE), SSPDS e Secretaria de Direitos Humanos (Sedih).

"A gente fez faz parte de um comitê integrado do governo, cuja presidência é da Sedih, com estudos de casos de pessoas desaparecidas. E veio a ideia de publicizarmos esses dados, e fazer um painel dinâmico onde as pessoas possam acompanhar o quantitativo e o perfil dos desaparecidos. A perspectiva é de que ele seja lançado nos próximos dias", explica.

Dentre outras ações de segurança que ainda serão lançadas, a superintendente adiantou a criação de outro painel voltado exclusivamente a violência contra animais, que, segundo ela, é o crime mais denunciado no disque 181 da SSPDS. "Nossa perspectiva é sempre avançar mais, pensar o que podemos fazer de diferente e entender como pensar políticas públicas", diz.

Segurança pública como serviço social

Desde que a superintendência foi criada em 2018, o Ceará observou uma escalada substancial de diversos crimes, desde porte de armas até associação criminosa.

Segundo Juliana, a Supesp surgiu para estudar e promover estratégias de segurança que visam mitigar as ações criminosas antes que elas aconteçam.

O setor de Estatística tem papel importante no combate ao aumento da criminalidade, pois é o principal pilar da Superintendência e alimenta, com informações estratégias, as pesquisas e estudos do órgão.

"O Estado tem observado uma alta gama de elementos difíceis de serem combatidos, como as organizações criminosas. Desde 2020 para cá, elas mudaram muito sua atuação. Nós estamos olhando para isso, tentando compreender essa nova dinâmica e estudando como o Estado deve incidir nessas operações", detalha.

1.851
pessoas foram presas em flagrante, ou por mandado, por integrar organizações criminosas, entre janeiro e setembro deste ano no Ceará, conforme dados divulgados pela superintendência no início de outubro.

Este número é 86,6% maior em comparação com o mesmo período do ano passado, quando houve 992 capturas. Ainda segundo a Supesp, prisões por homicídios tiveram um aumento de 33,4% em todas as regiões do Ceará até setembro, se comparado a 2024, com 2.148 pessoas presas.

Juliana Barroso, superintendente da Supesp, falando em uma reunião, com bandeira do Brasil e fundo de ambiente de escritório.
Legenda: Antes de assumir a chefia da superintendência, Juliana Barroso já atuava no órgão como diretora de pesquisa e avaliação de políticas públicas de segurança pública
Foto: Kid Jr

Para a superintendente, esses resultados são positivos. "São muitas prisões, sim. Mas também é necessário ver a qualidade delas. Hoje, se uma pessoa é morta, quase 24 horas depois (o suspeito do crime) está preso. E não estamos prendendo qualquer pessoa sobre qualquer crime, estamos prendendo quem, de fato, está matando e participa de alguma facção", reitera.

Sucessos e desafios

Atrelado aos altos índices de prisões em todo o Estado, Juliana Barroso também comemora o sucesso do programa "Meu Celular", que, desde o início das operações, já devolveu mais de 10 mil aparelhos a pessoas vítimas de furto ou assalto. Ela esteve presente na última cerimônia de entregas, realizada no início de outubro, e relembra depoimentos dos beneficiados.

"Teve a história de um jovem que tinha comprado o celular dos sonhos dele, pagou duas prestações, foi roubado. E tinha a senhora que o celular dela continha últimas fotos do pai vivo. Então, hoje o celular não é simplesmente um aparelho que você liga. Não, lá estão os seus dados, estão as suas lembranças, as suas memórias", conta.

A superintendente também comemora o sucesso de várias pesquisas sobre segurança pública realizada por instituições de ensino superior no Ceará. Alguns desses estudos foram agrupados em um e-book gratuito, publicado recentemente pela Susep, fruto do I Encontro de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública.

Para o segundo encontro, que deve ocorrer em breve, a superintendência busca trazer nomes de fora do Ceará, e até do País, para dialogar sobre segurança nas cidades. "Estamos dialogando com o governo de Medelín, na Colômbia, para ver se conseguímos trazer alguém para conversar sobre a atuação das Polícias lá, e entender que tipo de lições podemos aplicar a partir da nossa realidade", explana.

Ainda que as estratégias propostas pelo governo do Estado tenham obtido êxito, Juliana reconhece que os recentes episódios de violência que assolaram o Ceará gera cobranças por parte da população, mas atesta que a resposta é rápida.

"Os dados que coletamos servem justamente para embasar melhor as investigações. Hoje, o poder de investigação das Polícias aumentou, e constantemente nos comunicamos com o Poder Judiciário e o Ministério Público para garantir a manutenção das prisões e de mais processos em andamento", afirma. "É sempre muito desafiador, mas seguimos avançando".

Imagem de Juliana Barroso, superintendente da Supesp, em uma reunião oficial, com bandeiras do Brasil e de uma entidade ambiental ao fundo, discutindo questões ambientais.
Legenda: Juliana também afirma que a Supesp estuda questões sociais para o combate às intolerâncias no Ceará
Foto: Kid Jr

Por fim, Juliana atribui o sucesso das ações contra a violência no Ceará a um melhor entendimento do Estado do conceito de segurança como serviço social. Segundo ela, a superintendência atua ativamente no controle de estudos sobre o impacto da violência em grupos marginalizados.

"Existe um processo de aprendizado por trás de cada ação. Nosso papel quanto Supesp é semear o conhecimento adquirido nas nossas pesquisas e fortalecer o diálogo entre a população e as autoridades. Tudo é baseado nessa compreensão para o enfrentamento", inicia.

"Quando o Estado cria diversas secretarias, como a da igualdade racial, das mulheres e dos direitos humanos, isso não significa um escanteio das pautas, mas sim mais orçamento, mais opções para encontrar estratégias que incidam sobre regiões periféricas e pessoas vulneráveis. É isso o que eu desejo para as próximas gerações, um Estado mais desenvolvido, mais justo, menos violento", finaliza.

 *Estagiário sob supervisão do jornalista Emerson Rodrigues

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