Policial civil acusado de homicídio e integrar o Comando Vermelho é preso em Fortaleza
A arma usada no crime atribuído ao agente seria do acervo da Polícia Civil do Ceará (PCCE).
Um policial civil acusado de participar de um homicídio e de integrar a facção criminosa carioca Comando Vermelho (CV) foi preso nesta sexta-feira, em Fortaleza. Ricardo da Silva Macedo e mais 11 homens foram denunciados pelo crime ocorrido em Baturité, no ano de 2021.
Agora, o agente foi detido por força de mandado de prisão preventiva porque, conforme documentos que a reportagem teve acesso, estaria inacessível às intimações judiciais devido a uma mudança de endereço e "isso não pode ser encarado como simples descuido".
Ricardo teria alegado que comunicou a mudança de endereço residencial. No entanto, o Judiciário expõe que isso gerou um 'entrave no processo', que "a impossibilidade de localização do acusado a despeito de buscas e diligências coloca em risco a própria realização de atos instrutórios finais" e que a prisão preventiva não é antecipar a pena.
O mandado de prisão preventiva foi expedido pela Vara Única Criminal de Baturité
"De acordo com a investigação policial, apurou-se que uma das armas utilizadas nampreitada criminosa pelo grupo criminoso pertence ao acervo bélico da Polícia Civil do Estado do Ceará e que estava acautelada pelo inspetor", segundo o Ministério Público do Ceará (MPCE).
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Na versão do policial, ele não tinha conhecimento de que sua arma estaria sendo utilizada por integrantes de uma organização criminosa. Mas, segundo o judiciário, quando o agente foi ouvido na delegacia, "não conseguiu esclarecer por quais motivos o armamento que lhe foi confiado se encontra em mãos indevidas".
[ATUALIZAÇÃO 29/11 às 9h09]
A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) disse por nota que "instaurou procedimento disciplinar para investigar a ocorrência no âmbito administrativo. O processo está em trâmite, conforme ordenamento jurídico vigente".
'TROPA DO MARRETA'
Venâncio Souza dos Santos, o 'Marreta'; Alessandro Silva Bandeira, o 'Sandro do Candeia'; Alison da Silva Lima; Rafael da Silva Menezes; Renan Carvalho Bibiano; Francisco Ronaldo de Souza e Silva, o 'RN'; Francisco Raí de Souza Lima, o 'Macambira'; Antônio Emerson Mendonça da Silva, o 'Hermin'; Carlos Jefferson da Silva Vieira, o 'Tocha'; Nelson Henrique da Silva, o 'Papacapim'; e o policial civil Ricardo da Silva Macedo foram denunciados por um homicídio ocorrido em abril de 2021.
De acordo com a acusação, a vítima do crime foi Santiago de Amorim Lopes, o 'Pimentinha', integrante da facção Guardiões do Estado (GDE). O assassinato aconteceu em um contexto de disputa de território entre o CV e a GDE, mas o alvo era outro homem.
"Reunidos em grupo de mais de 10 pessoas, com nítida divisão de tarefas e utilizando-se de várias armas de fogo, agrediram, cruelmente, a integridade física da primeira vítima daquela madrugada, Santiago de Amorim Lopes, conhecido por 'Pimentinha' integrante da facção rival GDE, causando-lhe a morte".
O Ministério Público do Ceará (MPCE) afirma que na noite anterior ao homicídio, o grupo fortemente armado parte da 'Tropa do Marreta', oriunda de Redenção, portava pistolas, revólveres e espingarda.
Eles teriam se reunido e ido às cidades próximas com objetivo de invadir o território inimigo: "haja vista ser área dos membros da facção criminosa rival GDE e ceifar a vida da liderança local".
CRIMINOSOS SE IDENTIFICARAM COMO POLICIAIS
A investigação revelou que na região do maciço de Baturité predomina o Comando Vermelho e que em uma postagem nas redes sociais de Antônio Josué ele teria "deixado clara a intenção em controlar o crime, anunciando que para o seu intento seria promovida uma verdadeira chacina”.
O grupo teria ido de Redenção a Baturité em um veículo dirigido por 'Papacapim', tendo realizado duas viagens para transportar todos os envolvidos.
Eles foram ao local do crime onde estava a vítima e bateram na porta dela se identificando como policiais, "dissimulando a intenção homicida”.
"Na ocasião, quem estava no interior daquela residência não era o alvo do grupo. A vítima, ao abrir a janela, foi logo, sem qualquer discussão, alvejado com disparo de arma de fogo, tipo espingarda, na região do peito", segundo documentos.
O QUE DIZ A DEFESA
[ATUALIZAÇÃO 01/12 às 10h03]
Após a publicação da reportagem, a defesa de Ricardo da Silva Macedo, representada pelo coordenador jurídico do Sindicato dos Policiais Civis de Carreira do Ceará (Sinpol-CE), advogado Kaio Castro, enviou nota sobre o caso. Veja a nota na íntegra:
"O Sindicato dos Policiais Civis de Carreira do Estado do Ceará manifesta repúdio à prisão preventiva decretada em 27 de novembro de 2025 contra oficial investigador de polícia pela Vara Única Criminal de Baturité, considerando-a juridicamente infundada e ilegal.
A decisão judicial ignora fatos processuais documentados nos autos: o oficial sempre residiu no mesmo endereço, comunicando-o novamente ao meio do ano — informação reconhecida pelo próprio magistrado. Encontrava-se no mesmo endereço residencial onde foi preso, contradizendo as alegações de "inacessibilidade". Registre-se, ainda, que quando da busca e apreensão em agosto de 2021, o oficial estava em sua residência.
A prisão foi decretada com fundamentos já refutados nos próprios autos, caracterizando arbítrio estatal contra direito fundamental à liberdade. O Sindicato solidariza-se com o policial e sua família, acionando imediatamente os tribunais superiores para correção da ilegalidade mediante os remédios constitucionais e legais cabíveis, reafirmando seu compromisso de proteger os direitos e garantias fundamentais da classe policial."