Maquinário e fumo apreendidos em fábrica clandestina no CE valem cerca de R$ 10 milhões
A Polícia Civil prendeu, em flagrante, 10 homens naturais do Paraguai, no estabelecimento instalado em Tianguá.
O maquinário, o fumo e os cigarros já produzidos em uma fábrica clandestina, apreendidos pela Polícia Civil do Ceará (PCCE) nesta quarta-feira (26), somam um valor de aproximadamente R$ 10 milhões. Os policiais também realizaram a prisão em flagrante de 10 homens naturais do Paraguai, que trabalhavam no estabelecimento.
O titular da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), delegado Raphael Vilarinho, contou que a Polícia Civil recebeu uma denúncia anônima sobre a atuação de uma fábrica clandestina, na zona rural de Tianguá, na Região Norte do Ceará.
Em um mês de investigação, a DRF descobriu o local exato do estabelecimento e deflagrou a operação, nesta quarta (26), com apoio do Departamento de Combate aos Crimes contra o Patrimônio (Depatri) e da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais da Polícia Civil (Core).
Os policiais civis se depararam com máquinas de fabricação e embalagem de cigarros, empilhadeiras, exaustores, tablets, notebooks, um gerador de energia elétrica e insumos como fumo, papéis para produção dos maços e plásticos para lacrar as embalagens.
Caixas com maços de cigarros prontos para a comercialização também foram apreendidas. O produto clandestino era destinado ao Interior do Ceará, a outros estados do Nordeste e São Paulo.
"O valor do maquinário foi avaliado em, aproximadamente, 5 milhões de reais. Esse maquinário vem da China, contrabandeado para o Brasil. Contando com a apreensão dos insumos, de tudo, dá aproximadamente 10 milhões de reais. Só de fumo nós aprendemos duas toneladas, para produção de cigarro", afirmou o delegado Raphael Vilarinho.
Já o lucro mensal da fábrica clandestina variava entre R$ 2 milhões e R$ 4 milhões, segundo o delegado. "Eles não pagavam impostos, tudo era feito de forma clandestina, então o lucro era bastante elevado", apontou.
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Mão de obra especializada
O delegado Raphael Vilarinho também afirmou que os dez paraguaios presos eram trazidos por um empresário brasileiro. Eles já trabalhavam com a fabricação dos cigarros, no Paraguai.
"A mão de obra era toda paraguaia por dois motivos: por ser uma mão de obra especializada, pois tem que saber fazer a produção desse cigarro, tem que saber fazer a manutenção da máquina, e pelo fato de (os paraguaios) não saberem onde estão, para não dizer pra Polícia e não passar nenhuma informação para ninguém", afirmou o investigador.
Os paraguaios presos, que têm entre 25 e 47 anos, entraram no Brasil ilegalmente. Eles foram autuados pela PCCE por crime contra a ordem tributária e associação criminosa.
A investigação da DRF descobriu que os suspeitos alternavam entre equipes, que trabalhavam cerca de 20 dias seguidos na fábrica clandestina, com cargas de trabalho de até 13 horas por dia.
Para cada diária, os paraguaios recebiam cerca de R$ 150. O delegado acredita que eles não estavam em condição análoga à escravidão, em razão do valor pago a eles. Os trabalhadores tinham acesso a um campo de futebol, ao lado da fábrica, onde se divertiam nas horas livres.
Matéria-prima contrabandeada
No Paraguai, a fábrica de cigarros atua licitamente. Porém, no Brasil, a mercadoria entrava ilegalmente, segundo o delegado Raphael Vilarinho.
A investigação policial aponta que a matéria-prima para a fabricação do cigarro era oriunda do Suriname e viria para estados brasileiros como o Pará e o Ceará, por via marítima.
O esquema criminoso também está presente em outros países da América do Sul e até da Europa, segundo a Polícia Civil do Ceará.
A DRF espera aprofundar a investigação sobre a fábrica clandestina de Tianguá para chegar ao líder do esquema criminoso - que seria um empresário brasileiro - e aos receptores - comerciantes que compravam e revendiam caixas de cigarros.
O tráfico de cigarros do Suriname para o Ceará se repete há pelo menos 8 anos.
Em setembro deste ano, a Polícia Militar do Ceará (PMCE) apreendeu cerca de 2 mil maços de cigarros contrabandeados, na orla da Praia de Capim Açu, no Município de Paraipaba, Litoral Oeste do Ceará. A carga também teria origem no Suriname.
Em março de 2017, um barco oriundo também do Suriname, com uma carga de cigarros contrabandeados, foi apreendido pela PMCE e pela Receita Federal, em Beberibe, no Litoral Leste do Ceará. A embarcação e a carga foram avaliadas em um total de R$ 8 milhões.
*Estagiária sob supervisão do editor Emerson Rodrigues.