Polícia investiga decoradora acusada de aplicar golpe em noivos e cerimonialistas em Fortaleza

Mais de 60 pessoas foram lesadas, entre noivas, noivos, cerimonialistas e assessores de eventos

Escrito por Matheus Facundo , matheus.facundo@svm.com.br
Montagem de fotos de casamentos prejudicados por decoradora
Legenda: Noivos tiveram atraso em cerimônias e não contaram com a decoração sonhada e planejada
Foto: Arquivo pessoal

A dona de uma empresa de decorações que atende casamentos em Fortaleza está sob investigação da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) por suspeita de aplicar golpes em clientes. Dávila Sá, da Dávila Sá Eventos, sumiu e não respondeu mais seus contratantes desde o último sábado (10), segundo denúncias apuradas pelo Diário do Nordeste. 

O assessor e cerimonialista Lucas Gabu, que produziu um casamento no sábado na Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, no bairro Dunas, havia fechado com a decoradora, que confirmou o serviço na noite anterior. Porém, na manhã seguinte, ela não apareceu no local e desligou o telefone. 

Print de mensagens entre cerimonialista e decoradora
Legenda: Um dia antes do casamento, a decoradora assegurou ao assessor que estava tudo de pé
Foto: Reprodução

"No primeiro momento quis acalmar os noivos, disse que a decoradora tinha sumido. A noiva já estava pronta e o noivo, que sofre de ataque de pânico, ficou altamente eufórico", conta Lucas. 

Nesta quarta-feira (14), ele fez um Boletim de Ocorrência (B.O). Por nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informa que a investigação está a cargo da Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF).

"Mais informações serão repassadas posteriormente para não atrapalhar as investigações policiais", informou a Pasta.

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Prejuízos

Apesar do sumiço da produtora de eventos, o casamento ocorreu, de acordo com o cerimonialista, mas com um atraso de mais de três horas e R$ 25 mil a mais no orçamento. Com a notícia em cima da hora, foi preciso correr para fechar novos pacotes de decoração e até pagamento de hora extra. 

O assessor relembra que os momentos de tensão afetaram toda a equipe: "Foi todo um processo de desgaste físico, mental e financeiro para tentar suprir e acalmar emocionalmente o pessoal".

Conforme Lucas, mais de 60 pessoas foram lesadas, entre noivas, noivos, cerimonialistas e assessores de eventos. Ele comenta que só nesse último fim de semana, foram oito casamentos prejudicados por Dávila Sá. 

'Brincou com meus sonhos'

O grande dia de Rafaela Maranhão também foi prejudicado por Dávila Sá. Nesse caso, ela foi contratada para a decoração da festa de recepção da mulher, que já está casada no civil com o marido há 8 anos e fez grandes planos para o evento durante dois anos. 

"Ela brincou com meus sonhos, meu casamento foi planejado por dois anos. Foi uma expectativa de muitos anos para esse momento acontecer", relata em entrevista à TV Verdes Mares. 

O casal teve de gastar mais R$ 15 mil para conseguir itens como mesas, cadeiras e iluminação, pois a contratada havia sumido e a festa estava sem estrutura. Eles tiveram ajuda dos padrinhos, que iniciaram um mutirão para encontrar fornecedores. 

Em entrevista à TV Verdes Mares, o delegado titular da DDF, Carlos Teófilo, confirma que foram identificados B.Os de diversas vítimas e informa que os casos foram repassados ao setor de inteligência da delegacia: "É realmente um golpe grande, pessoas pagavam de valores menores até R$ 30 mil reais para um evento que nunca ocorreu".

Sem decoração 

Maria Thayná dos Santos Castro, foi outra vítima da decoradora. Ela se casou também no último sábado, na Igreja de Santa Edwiges, no bairro Moura Brasil, e não teve a decoração sonhada e planejada na cerimônia. 

Ela fechou contrato com a Dávila Sá Eventos no dia 17 de outubro e, assim como o cerimonialista Lucas Gabu, também foi contatada pela empresária na semana do casório para confirmar os serviços — que acabaram não sendo entregues —. 

Print de mensagem de decoradora confirmando decoração para casamento
Legenda: A empresária procurou a noiva na semana do casamento para confirmar o contrato
Foto: Reprodução

A noiva só teve buquê pois a cerimonialista Maelly Menezes foi à  floricultura e comprou do seu próprio bolso, junto às flores para lapelas.

Atualmente desempregada, Thayná desabafa que ela e o marido tiveram de apertar o orçamento e acabaram escolhendo a decoração como uma prioridade. 

A decoração da igreja para mim era fundamental, o meu casamento foi algo planejado e os gastos foram muito poucos. Eu priorizei a igreja por ser muito católica. O orçamento já estava muito apertado, mas o preço dela estava muito bom e o atendimento dela também não nos deixou suspeitar de nada. Mas, Deus foi muito bondoso comigo, pois não deixou nada ser ruim. Apesar de não ter decoração, o casamento ocorreu da mesma forma e foi muito lindo 
Thayná dos Santos
Noiva

Munida de contrato assinado, recibo e até nota do cartão crédito, Thayná afirma que irá à delegacia ainda nesta semana para denunciar a produtora de eventos. Ela lamenta o caso, pois pensava, pelas indicações, que Dávila era uma "profissional qualificada". 

Ela comenta, ainda, que está em um grupo com quase 70 pessoas que também foram lesadas por Dávila. A SSPDS ressalta que é importante outras vítimas registrarem B.O. 

Empresária alega falência 

Por meio de publicação nas redes sociais da empresa, Dávila Sá afirmou que a empresa foi à falência e comunicou o encerramento das atividades do estabelecimento. 

"Decretamos falência com profunda triste por anos de muito trabalho e por não termos mais recursos para seguir adiante", diz o texto. 

Print de publicação onde dávila sá diz que foi à falência
Legenda: Decoradora diz que possui mais recursos para continuar com os serviços da empresa
Foto: Reprodução

Conforme a publicação, "até o último momento" a produtora tentou "se manter de pé". "Diante de todos os prejuízos causados e reembolsos devidos estamos à disposição da justiça para resolvermos com todos os clientes e fornecedores". 

Carlos Teófilo, delegado titular da DDF, pontua que a alegação de falência não exime a investigada de responsabilidade.

"Chama atenção que ela fez essa postagem dia 12 de dezembro, mas dias antes ela estava fechando contratos, então isso demonstra que ela estava de má-fé e oferecia um serviço que ela não poderia prestar", diz o delegado. 

O Diário do Nordeste tentou contato com dois números de celular atribuídos à Dávila Sá, mas os contatos não funcionaram. A reportagem também enviou um e-mail para o endereço da empresa para pedir um posicionamento, e aguarda resposta para atualização desta matéria. 

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