Mulher morta em desocupação de terreno no Carlito Pamplona era 'mãe guerreira' e 'boa filha'

Morte resultou em manifestações no bairro Carlito Pamplona na manhã desta terça-feira (10)

Escrito por Redação ,
Legenda: A morte de Mayane Lima e a desocupação forçada desencadeou uma série de protestos da população na região do Carlito Pamplona
Foto: Foto: Thiago Gadelha

A desocupação de um terreno no bairro Carlito Pamplona resultou na morte de uma mulher, na madrugada desta terça-feira (10) em Fortaleza. A vítima foi identificada por moradores do bairro como Mayane Lima, de 28 anos, que trabalhava como vendedora. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSPDS), a desocupação teria sido iniciada por seguranças contratados pela empresa privada dona do terreno. Em nota, a Fiotex afirma que é proprietária do terreno e "adotou as medidas para cessar a demarcação ilegal". Disse ainda que a ação foi testemunhada por policiais e a equipe da empresa foi "surpreendida por agressores vindos de fora do terreno, arremessando pedras, ateando fogo e realizando disparos contra todos que se encontravam no local e seus arredores".

"Mayane era uma mãe guerreira, era uma boa filha, a coluna da casa dela. A Mayane morreu com um tiro no peito", confirmou o líder comunitário Rafael Pequiá, ouvido pela reportagem da Verdinha FM nesta manhã.

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O sogro de Mayane, Joel Monteiro de Lima, afirma que a mulher morava junto do esposo, filho dele, em uma casa alugada nos arredores. "Daí surgiu esse movimento do terreno, e eles embarcaram também para construir algo deles", explicou ao Diário do Nordeste.

Foto: Foto: Thiago Gadelha

Joel conta que os tiros começaram por volta das 3h20, quando barracas foram destruídas por uma retroescavadeira. "Era tiro demais", pontuou ele, reforçando que Mayane foi atingida por um disparo no peito ao chegar ao local para saber o que estava ocorrendo.

Segundo ele, Mayane foi atingida por volta das 5h. Ela foi encaminhada a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas veio a óbito em seguida. 

Imagem de Mayane Lima
Legenda: Mayane Lima foi baleada durante a desocupação e faleceu após ser encaminhada a uma unidade de saúde
Foto: reprodução/arquivo pessoal

A morte de Mayane desencadeou uma série de ataques nos arredores da Avenida Presidente Castelo Branco (Leste-Oeste) logo nas primeiras horas desta terça. Diversos estabelecimentos comerciais da região foram fechados por conta de manifestações da população. 

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) confirmou que "as circunstâncias da morte estão sendo investigadas pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP)". A vítima, segundo a Pasta, "deu entrada em uma unidade de saúde do bairro Pirambu (AIS 8) lesionada com disparos de arma de fogo. A vítima não resistiu aos ferimentos e foi a óbito".

Ataque a ônibus

Nas manifestações populares em protesto pela morte, um ônibus foi apedrejado na Avenida Leste-Oeste. Cinco pessoas foram detidas suspeitas de participar da ação e conduzidas logo em seguida ao 34º Distrito Policial, no Centro. 

Segundo o motorista do coletivo, o ataque se iniciou às 5h20. "Nas proximidades da Escola Nossa Senhora Das Graças, tinha de 20 a 30 pessoas vindo. A gritaria começou, e a minha atitude foi desviar", disse ele em entrevista à TV Verdes Mares.

O ônibus, então, foi desviado para a avenida Filomeno Gomes e o veículo foi parado na Escola de Aprendizes-marinheiros do Ceará. Alguns passageiros foram atingidos por estilhaços de vidro das janelas quebradas, mas apenas ferimentos superficiais foram relatados. 

Em nota, a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) informou que três ônibus foram atacados. "Dois veículos da linha 092 foram apedrejados e o outro da linha 114 foi alvo de uma tentativa frustrada de incêndio. Não houve vítimas graves", disse.

Devido aos ataques, "as linhas que trafegam nas avenidas Leste Oeste e Francisco Sá deixarão de circular durante o turno da manhã".

Em nota oficial, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) afirmou que a ação foi conduzida por seguranças contratados pela empresa privada. Confira o posicionamento abaixo:

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informa que equipes da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE) foram acionadas, nesta terça-feira (10), para atenderem a uma ocorrência no bairro Carlito Pamplona - Área Integrada de Segurança 8 (AIS 8) de Fortaleza. Conforme as primeiras informações, pessoas invadiram um terreno privado na região. Durante a desocupação que teria sido iniciada por seguranças contratados pela empresa privada, outros indivíduos colocaram fogo em entulhos e vegetação em vias do bairro. Os focos de incêndio foram controlados pelos Bombeiros. Dois ônibus também foram danificados.

Ainda conforme os levantamentos policiais, uma mulher, de 28 anos, deu entrada em uma unidade de saúde do bairro Pirambu (AIS 8) lesionada com disparos de arma de fogo. A vítima não resistiu aos ferimentos e foi a óbito. As circunstâncias da morte estão sendo investigadas pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), que também esteve no local.

Durante as diligências, três pessoas foram identificadas por equipes da PMCE e foram ouvidas no 34º DP. As investigações serão transferidas para o 1º DP, unidade que dará prosseguimento às investigações para identificar o envolvimento dessas pessoas nos crimes, bem como elucidar os fatos.

Veja nota na íntegra da Fiotex

A Fiotex informa que, no final da tarde da última sexta-feira (6), foi oficiada pela Polícia Militar que seu terreno no bairro Carlito Pamplona estava sendo alvo de demarcação irregular. De imediato, ainda no mesmo dia, registrou um boletim de ocorrência no 34º Distrito Policial.

Na madrugada desta terça-feira (10), a empresa adotou as medidas para cessar a demarcação ilegal. Não havia moradores no terreno. A ação foi testemunhada por policiais militares e ocorreu de forma pacífica por quase duas horas. 

A equipe foi surpreendida por agressores vindos de fora do terreno, arremessando pedras, ateando fogo e realizando disparos contra todos que se encontravam no local e seus arredores.

O trator utilizado na ação foi destruído e incendiado, e dois colaboradores ficaram feridos e levados para um hospital particular.

A Fiotex não compactua com atos de violência. A empresa está à disposição dos órgãos de segurança para colaborar com as investigações e se solidariza com a família da vendedora Mayane Lima e com todas as outras vítimas.
 
A empresa é proprietária do terreno há mais de 20 anos. O imóvel está registrado na matrícula 3507 do Cartório da terceira zona.

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