Latrocínio no Cumbuco: trio é condenado a 106 anos de prisão por matar amapaense e balear inglês

O estrangeiro ficou paraplégico, segundo a sentença judicial. Um quarto réu foi absolvido das acusações de participar do roubo seguido de morte e o quinto foi condenado apenas pelo crime de receptação

Escrito por
Messias Borges messias.borges@svm.com.br
Foto do inglês Philip Donald Eric Gray e da amapaense Ruth Mary Silva de Oliveira Ribeiro, vítimas de assalto no Cumbuco, em Caucaia
Legenda: O inglês Philip Donald Eric Gray e a companheira, a amapaense Ruth Mary Silva de Oliveira Ribeiro, iam viajar para Macapá, no dia da ação criminosa
Foto: Reprodução

Três homens foram condenados pela Justiça do Ceará a uma soma de 106 anos de prisão, por participarem da ação criminosa que resultou na morte da turista amapaense Ruth Mary Silva de Oliveira Ribeiro, de 46 anos, e no quadro de paraplegia do companheiro dela, o turista inglês Philip Donald Eric Gray, 38. O assalto ocorreu no Cumbuco, em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), em julho de 2024.

Artur Edmundo Ferreira Felisberto, João Laurenio Neto e Thales Sampaio Magalhães foram condenados pela 4ª Vara Criminal da Comarca de Caucaia por roubo com resultado de morte (latrocínio) e por uma tentativa de roubo com resultado de morte, na última quinta-feira (22). Em contrapartida, o trio foi absolvido do crime de associação criminosa.

Confira as penas individuais:

  • Artur Edmundo Ferreira Felisberto - 33 anos e 4 meses de reclusão, em regime inicialmente fechado;
  • João Laurenio Neto - 39 anos e 7 meses de reclusão, em regime inicialmente fechado;
  • Thales Sampaio Magalhães - 33 anos e 4 meses de reclusão, em regime inicialmente fechado.

A autoria dos crimes foi provada, para o Ministério Público do Ceará (MPCE) e para a Justiça, pelos depoimentos das testemunhas e por imagens do crime captadas pelo sistema de videomonitoramento.

O réu Igor Teixeira Lopes foi condenado pela Justiça a 1 ano e 2 meses de reclusão, a ser cumprido em regime semiaberto, pelo cometimento do crime de receptação (pois foi flagrado na posse de um celular roubado).

Já Frederico Bruno Ricarte da Silva foi absolvido das acusações de ter participado do roubo com resultado de morte e da tentativa de roubo com resultado de morte.

O advogado Marcelo Brandão afirmou que ficou satisfeito com o resultado do julgamento para o cliente Frederico Bruno, pois ele "não participou do crime, não esteve no local, não sabe quem matou, e passou 6 meses angustiado com uma denúncia pesada, mas prevaleceu a justiça". Quanto ao outro cliente, Artur Edmundo, o advogado espera reverter a decisão com a apelação feita ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).

A defesa dos outros acusados não foi localizada pela reportagem, mas o espaço está aberto para futuras manifestações. A matéria será atualizada, se houver manifestação dos representantes dos outros réus absolvidos.

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Como aconteceu o latrocínio?

Os turistas Ruth Mary e Philip Donald foram surpreendidos com um assalto, no momento que iam fazer o "check-out" da pousada onde estavam hospedados, no Cumbuco, em Caucaia, no dia 29 de julho do ano passado. O casal tinha um voo marcado para a tarde daquele dia, com destino à cidade de Macapá - onde a mulher nasceu.

As investigações da Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur), da Polícia Civil do Ceará (PCCE), apontaram que os criminosos sabiam que o casal de turistas tinha R$ 30 mil em espécie e ficaram de 'campana', à espera das vítimas, horas antes do crime.

Um criminoso teria ido à pousada perguntando "cadê o gringo do 01?" (referindo-se ao quarto onde Philip estava hospedado). Naquele momento, os turistas estariam na praia.

Os assaltantes voltaram ao estabelecimento, poucas horas depois. Um deles entrou no local armado e anunciou o assalto. Ruth reagiu e entrou em luta corporal com o criminoso, que efetuou os disparos que matou a mulher no local e feriu o companheiro dela.

Philip Donald foi levado ao Instituto Doutor José Frota (IJF), em Fortaleza, onde ficou internado por alguns dias. A sentença da 4ª Vara Criminal da Comarca de Caucaia apontou que o prontuário médico do britânico "atesta a sua paraplegia em decorrência dos disparos de arma de fogo que sofreu".

Amiga da vítima vira investigada

Apesar da sentença, o caso pode ter uma reviravolta nas investigações. Em abril último, o Ministério Público do Ceará pediu que a Polícia Civil investigasse uma amiga de Ruth Mary Silva de Oliveira Ribeiro.

"É possível concluir que provavelmente Rosana Romão da Silva contribuiu de forma relevante para a execução do crime, seja fornecendo informações estratégicas, influenciando o deslocamento da vítima, manipulando a logística da viagem ou mesmo atuando em colaboração com os demais envolvidos, com conhecimento dos riscos e possível adesão à prática criminosa", considerou o MPCE.

Conforme documentos obtidos pela reportagem, Rosana foi a última a falar por ligação com Ruth Mary e, segundo a filha da vítima, sabia que o casal estava em posse de alta quantia de dinheiro. A defesa de Rosana não foi localizada pelo Diário do Nordeste, mas o espaço segue aberto para futuras manifestações.

A 4ª Vara Criminal da Comarca de Caucaia emitiu despacho oficiando a autoridade policial para instaurar procedimento investigatório criminal.

A filha da vítima disse à Polícia que Rosana (conhecida como 'Nanda') teria oferecido à mãe dela para pedir um carro de aplicativo, no dia do crime. E narrou que, após o caso, Philip contou a ela que "a Nanda havia enviado mensagens para ele antes mesmo de chegar ao Ceará, pedindo para que ele fosse lá pelo menos três dias antes, sem a mamãe saber, para ficar com ela".

"Usou palavras explícitas e desrespeitosas no contexto sexual, dizendo que tinha muito desejo por ele, mas que não queria que a mamãe soubesse, pois não queria perder a amizade dela", segundo a filha de Ruth.

Rosana ainda teria dito à amiga que queria ser a guia turística do casal enquanto eles estivessem no Ceará e sabia que eles estavam em posse de dinheiro, porque teria usado o "pretexto de auxiliar nas transações cambiais".

"Rosana adotou condutas suspeitas logo após o crime, recusando-se a fornecer informações, apagando mensagens, evitando contato com os familiares, removendo todos os membros da família das redes sociais e, por fim, desaparecendo das plataformas digitais. Tal postura revela inequívoca tentativa de obstrução e fuga de responsabilização", afirmou o MPCE. 

Quando prestou depoimento na delegacia, Rosana disse aos policiais que sabia que as vítimas estavam em posse de dinheiro e que teria alertado "a amiga sobre o perigo de ficar portando valores em espécie, porém afirmou que não sabia quanto seria esse valor".

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