‘Cadê o gringo do 01?’: MP pede que amiga de vítima de latrocínio no Cumbuco seja investigada

A mulher identificada como Rosana Romão era amiga da vítima cearense. Ela era a única pessoa a saber que Ruth e o marido britânico estavam com R$ 30 mil em dinheiro

Escrito por
Emanoela Campelo de Melo emanoela.campelo@svm.com.br
vitimas cumbuco
Legenda: Conforme documentos a que a reportagem teve acesso, Rosana foi a última a falar por ligação com Ruth Mary
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Um crime de "extrema violência e minucioso planejamento", conforme denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), pode estar prestes a passar por uma reviravolta. Oito meses depois após o latrocínio da turista Ruth Mary Silva de Oliveira e a tentativa de assassinato do namorado dela, o britânico Philip Donald Eric Gray, o MP pede que a Polícia Civil do Ceará investigue uma amiga de Ruth.

No dia 2 deste mês de abril, o Ministério Público emitiu parecer apontando elementos pelos quais "é possível concluir que provavelmente Rosana Romão da Silva contribuiu de forma relevante para a execução do crime, seja fornecendo informações estratégicas, influenciando o deslocamento da vítima, manipulando a logística da viagem ou mesmo atuando em colaboração com os demais envolvidos, com conhecimento dos riscos e possível adesão à prática criminosa".

Conforme documentos a que a reportagem teve acesso, Rosana foi a última a falar por ligação com Ruth Mary e, segundo a filha da vítima, sabia que o casal estava em posse de alta quantia de dinheiro. A defesa de Rosana não foi localizada pelo Diário do Nordeste.

A 4ª Vara Criminal da Comarca de Caucaia emitiu despacho diante do parecer ministerial oficiando a autoridade policial para instaurar procedimento investigatório criminal. 

Em paralelo, a Justiça diz que o processo, que conta com quatro homens denunciados, permaneça com tramitação regular e que o MP apresente os memoriais finais nos próximos dias.

Também ficou decidido que os acusados Thales Sampaio Magalhães, Frederico Bruno Ricarte da Silva, João Laurenio Neto e Artur Edmundo Ferreira Felisberto permaneçam presos "pois se trata de um crime de latrocínio (consumado e tentado), com a gravidade concreta decorrente do modus operandi".

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A defesa de Thales se posicionou dizendo que a abertura do inquérito "não deve prosperar" e que "a Sra. Rosana foi ouvida em sede de procedimento investigatório criminal/IP por duas vezes".

DEPOIMENTO DA FILHA DA VÍTIMA LEVANTOU SUSPEITA

A filha da vítima do latrocínio disse que Rosana (Nanda) teria oferecido a mãe dela pedir um Uber da pousada. A testemunha falou ainda que só depois da morte, Philip contou a ela que "a Nanda havia enviado mensagens para ele antes mesmo de chegar ao Ceará, pedindo para que ele fosse lá pelo menos três dias antes, sem a mamãe saber, para ficar com ela".

"Usou palavras explícitas e desrespeitosas no contexto sexual, dizendo que tinha muito desejo por ele, mas que não queria que a mamãe soubesse, pois não queria perder a amizade dela", segundo a filha de Ruth.

Rosana ainda teria dito à amiga que queria ser a guia turística do casal enquanto eles estivessem no Ceará e sabia que eles estavam em posse de dinheiro, porque teria usado o "pretexto de auxiliar nas transações cambiais".

"Rosana adotou condutas suspeitas logo após o crime, recusando-se a fornecer informações, apagando mensagens, evitando contato com os familiares, removendo todos os membros da família das redes sociais e, por fim, desaparecendo das plataformas digitais. Tal postura revela inequívoca tentativa de obstrução e fuga de responsabilização", segundo o MP, com base no depoimento da filha. 

Quando prestou depoimento na delegacia, Rosana disse aos policiais que sabia que as vítimas estavam em posse de dinheiro e que teria alertado "a amiga sobre o perigo de ficar portando valores em espécie, porém afirmou que não sabia quanto seria esse valor".

CRIMINOSOS ESTAVAM DE CAMPANA

Conforme investigação da Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur), criminosos estavam de 'campana' à espera das vítimas horas antes do crime, enquanto o casal seguia na praia. Um dos homicidas teria chegado a entrar na pousada perguntando: "cadê o gringo do 01?".

O delegado Andrade Júnior disse em entrevista durante as investigações que os criminosos tinham informação exata sobre o "check-out" das vítimas e que elas estavam em posse de alta quantia em dinheiro. Um dos suspeitos foi ao hotel horas antes e recebeu informação que o britânico estava na praia. 

Ainda segundo o relatório, as vítimas estavam na recepção da pousada onde estavam hospedadas, "aguardando um veículo por aplicativo para se deslocar para cidade de Fortaleza, com intuito de embarcar no Aeroporto Pinto Martins, com destino à cidade de Macapá, por volta das 15h30min., do dia 29 de julho do ano em curso".

Um dos assaltantes chega ao local já com arma em punho, entra no hotel e anuncia o assalto, vindo a entrar em luta corporal com a turista brasileira, "disparando arma de fogo, fugindo logo em seguida, em uma motocicleta".

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), os suspeitos já chegaram à pousada munidos de informações sobre um casal com uma grande quantia em dinheiro — a indicação é de que eles tinham R$ 30 mil em espécie, valor adquirido em uma casa de câmbio. 

Ao localizar o casal, os envolvidos no crime tentaram roubá-los, mas as vítimas ofereceram resistência. O dinheiro não foi levado.

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