Furto de carneiro motivou punição dentro da facção GDE e série de homicídios na Grande Fortaleza

Oito acusados de cometer um duplo homicídio, em Pindoretama, relacionado à subtração do animal, não vão a julgamento, por decisão da Justiça Estadual

Escrito por
Messias Borges messias.borges@svm.com.br
A foto mostra a farda de um policial civil, que está de costas, no Ceará. A imagem também mostra viaturas da Polícia Militar ao fundo
Legenda: O duplo homicídio ocorrido em Pindoretama foi investigado pela Polícia Civil do Ceará
Foto: Divulgação/ PCCE

Oito acusados de cometer um duplo homicídio, em Pindoretama, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), não vão a julgamento, por decisão da Justiça Estadual. Segundo as investigações policiais, o crime foi uma das consequências de um furto de um carneiro, que também levou a uma punição dentro de uma facção criminosa e a outros assassinatos.

A Vara Única da Comarca de Pindoretama decidiu impronunciar (ou seja, não levar a julgamento) oito acusados de matar João Vitor da Silva Paulino e Guilbert Franklin Paulino Vasconcelos e ferir outro homem, na localidade de Mangueiral, naquele Município, na noite de 23 de agosto de 2023.

Foram impronunciados: Francisco Daniel Xavier Bento, conhecido como 'Panan'; Antônio Erisson Costa da Silva; Danilo Rodrigues da Silva; Francisco Amarildo Martins da Silva, o 'Mailson'; José Augusto Silva Costa, o 'Kiko Louco'; Oniscleiton dos Santos Braga, o 'DG' ou 'Douguinha'; Alan Bruno Bernardo Pinto, o 'Bruninho'; e Yuri Rocha de Oliveira. A Justiça também expediu alvará de soltura para os réus.

Conforme a decisão judicial, "as testemunhas de acusação e a vítima aduziram que desconheciam as circunstâncias em que se deu o fato, e ainda, que não conheciam os acusados". "O depoimento das demais testemunhas em nada colaboraram para o esclarecimento dos fatos. Todos os acusados negaram a autoria do crime", completou o juiz.

Dessa forma, diante da ausência de registros audiovisuais e das relevantes contradições entre os relatos das testemunhas sem rosto prestados em juízo e na fase inquisitorial, bem como em confronto com outros depoimentos colhidos, somado ao fato de que a vítima sobrevivente não apresentou elementos seguros de reconhecimento, não há base probatória firme que autorize concluir, com a certeza necessária, pela participação dos acusados nos crimes de homicídio e tentativa de homicídio."
Vara Única da Comarca de Pindoretama
Em decisão

A defesa de Francisco Daniel Xavier Bento, representada pelo advogado Márcio Oliveira, afirmou que "sempre confiou na inocência de seu constituinte. Após análise detida dos autos, o Ministério Público não conseguiu demonstrar, de forma clara e inequívoca, qualquer indício seguro de que o acusado tenha participado da ação criminosa, seja como autor, coautor ou partícipe".

"Diante da fragilidade probatória, o juízo competente decidiu pela impronúncia do acusado, reconhecendo que não há elementos mínimos que justifiquem o seu envio a julgamento pelo Tribunal de Justiça. Portanto, reafirmamos a confiança no sistema de Justiça e no trabalho técnico e imparcial desenvolvido até aqui, que culminou com a decisão justa e acertada de impronúncia, pondo fim a uma acusação sem respaldo probatório", completou a defesa.

As defesas dos outros acusados não foram localizadas pela reportagem para comentar a decisão de impronúncia. O espaço segue aberto para futuras manifestações.

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Crime teria sido motivado por vingança

O Ministério Público do Ceará (MPCE) concluiu, nos Memoriais Finais do processo criminal, que o duplo homicídio que vitimou João Vitor da Silva Paulino e Guilbert Franklin Paulino Vasconcelos foi motivado por vingança.

Entretanto, a teia criminosa se iniciou com o furto de um carneiro, que teria sido cometido por um membro da facção cearense Guardiões do Estado, na localidade de Mangueiral. 

O animal pertencia à tia de um líder da GDE, que determinou uma punição ao suspeito, com agressões a pauladas, e a devolução do carneiro para a proprietária.

O suspeito "se indignou com sua punição e decidiu 'rasgar a camisa', passando a integrar a facção rival, ou seja, o Comando Vermelho, passando a fazer parte da célula da Organização Criminosa que atua nas comunidades de Sítio Coqueiro e Guanacés, em Cascavel/CE", segundo o Ministério Público.

Ao receber o novo integrante, o líder do CV em Cascavel ordenou uma vingança, com a morte de membros da GDE. Dois homens foram executados a tiros, na localidade de Gozo, em Cascavel, no dia 19 de agosto de 2023.

Conforme a denúncia do MPCE, João Vitor Paulino e Guilbert Franklin Paulino seriam membros da GDE na localidade de Gozo e teriam fugido para o Mangueiral, em Pindoretama, com medo de também serem mortos. 

Porém, quatro dias depois, cerca de 15 membros do Comando Vermelho, na posse de balaclavas e armas longas, teriam encontrado a dupla na casa de amigos e invadido a residência para matá-los. Um terceiro homem foi baleado e socorrido ao hospital.

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