Em nova onda da Covid, veja como está Guaramiranga, 1ª cidade do CE a vacinar toda população com D1

Aumento da transmissão do vírus ocorre desde o início de janeiro, mas pacientes têm quadros leves, diferentemente do que ocorreu na 2ª onda da pandemia

Quando em meio a 2ª onda da pandemia o Ceará tentava avançar na vacinação, Guaramiranga foi a primeira cidade a aplicar a primeira dose em 100% dos adultos cadastrados. A marca foi alcançada em junho de 2021, e a expectativa era de agilidade na conclusão do ciclo vacinal. Desde então, a cidade é monitorada para se avaliar a resposta à vacina.

Na 3ª onda da pandemia, com a variante Ômicron e seu alto poder de contágio, qual a situação do município? E quantos habitantes já reforçaram a imunização?

O comportamento do coronavírus em Guaramiranga e o efeito da vacinação massiva é acompanhado de perto por pesquisadores. Com a 3ª onda, observada em todo o Estado, as principais constatações na cidade serrana são:

  • redução dos quadros graves;
  • apenas uma internação em janeiro de 2022, mesmo com aumento de casos;
  • e nenhuma morte desde junho de 2021.

O epidemiologista Luciano Pamplona, docente da Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), que acompanha a situação na cidade, explica que os dados preliminares ainda não estão disponíveis ao público. Mas os benefícios da vacinação já são identificados.

O estudo que teve início quando a marca dos 100% de aplicação da D1 foi alcançada, deve durar até janeiro de 2023. 

Até agora, na cidade, 5.741 pessoas receberam a 1ª dose, e 5.527 a segunda. Ou seja, na 3ª onda, 96% dos habitantes que tomaram a D1 já tomaram a D2. Até o momento, 1.412 pessoas receberam a dose de reforço no município, o que equivale a 24% dos que tomaram D1. Os dados são da Secretaria da Saúde de Guaramiranga com atualização nesta segunda-feira (24).

No dia 27 de junho de 2021, quando o município foi o primeiro a alcançar 100% da população adulta cadastrada a receber a 1ª dose da vacina, 4.607 pessoas estavam registradas para a aplicação.

Monitoramento da eficácia das vacinas

 

Assim como em diversas outras cidades, o município serrano tem tido aumento na transmissão dos casos desde o início deste mês. Até o dia 27 de dezembro de 2021, informam os dados do site oficial da Prefeitura, 820 casos foram confirmados. Desta data até o dia 22 de janeiro de 2022  foram registrados 358 novas ocorrências. 

Em Guaramiranga, antes de receber a D2 ou D3 da vacina da Covid todo indivíduo é testado e a situação clínica registrada para análise da eficácia das vacinas, explica o epidemiologista Luciano Pamplona. 

A testagem recorrente, avalia ele, também pode contribuir para o número expressivo de registro de novos casos, já que devido à pesquisa, a vigilância é mais acurada que em outras cidades. 

“A gente percebeu que, em dezembro e novembro, entre 100 testes, por exemplo, nenhum era positivo. Agora depois do dia 6 de janeiro a gente viu uma alta crescente. Hoje, de 10 pacientes, 5 são positivos”. 
Silvana Soares
Secretária da Saúde de Guaramiranga
 

Esse crescimento se deve à sazonalidade da doença, diz Luciano Pamplona, que costuma se intensificar no início do ano e à ampliação da testagem. 

"É normal aumentar agora porque vai aumentar em todo canto. O que a gente tem que ver é se o aumento de lá é maior do que o de outros municípios que têm a mesma condição sem tanta gente vacinada. Guaramiranga se mantém com nível de transmissão muito abaixo do que a gente tem nos outros municípios com a mesma condição". 
Luciano Pamplona
Epidemiologista

Silvana Soares explica que o monitoramento feito na cidade tem um objetivo simples: “qual a intenção? É ver realmente a resposta imune das vacinas, a eficácia”, define. Mas, para isso, é feito um trabalho minucioso de análise epidemiológica.

“O paciente recebe amostras para coletas do Lacen (Laboratório), a gente responde com o paciente um questionário em praticamente 18 minutos, com perguntas desde a renda mensal, se tem banheiro na casa, quantas vezes pegou Covid”, detalha.

"O que a gente tem percebido, desde o ano passado, é que estamos há 7 meses sem nenhuma internação. E agora em 2022 só tivemos uma internação, mas que saiu 2 dias depois com sintomas leves", destaca Luciano. Realidade também observada no número de mortes.

"O último óbito é de junho de 2021, de uma pessoa de 95 anos com comorbidades. Então, isso dá indício de como a vacinação tem protegido a população em relação à gravidade".
Luciano Pamplona
Epidemiologista

Entre os desafios para monitorar o município, o fluxo intenso de pessoas se sobressai. "Guaramiranga é um polo turístico muito forte, o cartão de vacina por um momento não era obrigatório. Tem uma circulação de pessoas do mundo todo muito grande", conclui o epidemiologista.

Richristi Gonçalves, secretária executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, adianta que o estudo deve se estender por mais um ano e tem relevância ressaltada pela modificação do vírus.

"Principalmente agora com a inserção de uma nova variante, que é a Ômicron, como se dá a transmissão e a gravidade, principalmente, dos casos que tem acontecido", frisa.

A secretária executiva contextualiza Guaramiranga com um dos municípios com maior percentual de dose de reforço no Ceará. "Esse monitoramento ainda vai durar mais um ano para tentarmos entender como se dá a transmissão no município que tem alta cobertura de vacinação contra a Covid-19", conclui.

Diferença para ondas anteriores 


O cenário atual difere das ondas anteriores nas quais a disponibilidade de oxigênio para os pacientes preocupava. O município conta com um hospital de pequeno porte, onde funciona um setor específico para casos de Covid e de gripe.

“Agora a gente vê uma grande procura de pacientes com esses sintomas gripais e de crescente na positividade, mas a gente vê que a vacinação tem resolvido muito a situação dos pacientes não estarem agravados”, pondera a secretária da saúde de Guaramiranga.

Passamos por momentos muito difíceis quando a 2ª onda veio e não tinha a população vacinada, vimos muita procura de pacientes com sintomas graves, a luta por leitos de UTI, já que nós não temos, em Fortaleza e no Estado como um todo
Silvana Soares
Secretária da Saúde
 

Aplicação da dose de reforço


O alcance da dose de reforço na cidade é influenciado por dois aspectos: o intervalo de quatro meses entre as doses e o adiamento em um mês de quem foi contaminado pelo coronavírus na ocasião.

“A gente tem também que observar que esse período de pandemia e gripe atrapalha muito, porque a gente tem muita gente para vacinar com dose de reforço, mas se o paciente estiver gripado só pode tomar quando estiver sem sintoma. Se tiver com Covid, só 30 dias após”, detalha Silvana Soares.

Como apoio do monitoramento dos casos na cidade, há foco na realização de exames. “Temos um centro de testagem, que funciona de segunda a sexta-feira, que faz tanto o teste rápido quanto o RT-PCR”, detalha. O serviço também é disponibilizado para pacientes acamados.

80
É a atual média diária de testes para Covid realizados em Guaramiranga

Agora também há ampliação da imunização com a inclusão do público infantil. Pelo menos 60 crianças entre 5 e 11 anos receberam a 1ª dose da vacina, de um total de 497 da meta total, como registra a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).