Por que tomar dose de reforço da Covid-19 se os anticorpos ainda estão na memória do nosso corpo?

Tomar as primeira e segunda doses criam e aumentam as chamadas células de memória contra o coronavírus. Contudo, com o passar do tempo essa proteção diminui, sendo necessário o reforço na vacinação

Escrito por Thatiany Nascimento e Germano Ribeiro , metro@svm.com.br
Enfermeira manipula seringa com vacina contra a Covid-19
Legenda: Nos últimos meses, países de diferentes continentes passaram a orientar a aplicação da dose de reforço da vacina contra a Covid-19
Foto: José Leomar

Doses de reforço da vacina contra a Covid-19 estão sendo aplicadas em idosos, pessoas imunossuprimidas, e, posteriormente, em profissionais da saúde, no Brasil, desde setembro. No Ceará, o fortalecimento da proteção desses grupos é aplicado desde o dia 24 do mesmo mês. Com o anúncio feito nesta terça-feira (16) pelo Ministério da Saúde, o reforço foi ampliado para toda a população acima de 18 anos.  

Diante deste incremento, que já tem sido adotado em outros países, e da defesa da necessidade de comparecimento para aplicação das doses necessárias de reforço, o Diário do Nordeste explica por que é preciso retornar aos postos de vacinação, e como a D1 e D2 ou a dose única atuam na produção das células de memória contra o coronavírus. 

Como as vacinas agem no nosso organismo?

Conforme glosário presente no site da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), em contato com o organismo humano, os imunizantes funcionam da seguinte forma: 

  • As vacinas possuem antígenos e, quando aplicadas ao corpo humano, fazem-no produzir anticorpos (também chamados de imunoglobulina). A Imunoglobulina M (IgM) é o primeiro tipo de anticorpo produzido pelo organismo após a vacinação. É a resposta primária. A presença de anticorpo IgM no sangue indica uma vacinação recente (ou uma infecção atual ou recente);
  • Com o passar do tempo, esse anticorpo é substituído pela Imunoglobulina G (IgG), que é o anticorpo produzido em fase posterior após a vacinação. O IgG é o responsável pela proteção específica e pela memória imunológica. Essas células permanecem vivas, mesmo depois de o agente patogênico (vírus ou bactéria) ser derrotado;
  • Em caso de nova infecção pelo mesmo vírus ou bactéria, o sistema imunológico produzirá IgG específico mais rapidamente porque as células de memória estão preparadas para disparar anticorpos contra o antígeno. 

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Contudo, com passar do tempo, essa proteção reduz. Por isso a necessidade do reforço para aumentar a resposta imune. "Essa queda de proteção é observada por todas as vacinas, independente da idade", explica o presidente da SBIm, Juarez Cunha.

Os idosos são o grupo que apresenta uma queda mais rápida. Por isso, a decisão de "fazer essa dose adicional ou de reforço nos grupos que foram vacinados mais cedo". Além das pessoas com mais de 60 anos, tiveram prioridade nessa etapa os profissionais de saúde e os imunossuprimidos.

Juarez Cunha ressalta que todas as vacinas contra a Covid-19 produzem as células de memória, processo iniciado com a D1 e reforçado com a D2. Essa proteção mais elevada pode reduzir em um período entre quatro e oito meses. "Então, a partir do momento em que eu faço uma dose extra, eu vou estimular essa resposta imune", afirma.

Prazo mais curto para reforço

Nesta terça-feira (16), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, também anunciou que o intervalo para receber a dose de reforço foi reduzido de seis para cinco meses. No Ceará e outros estados brasileiros, como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Santa Catarina, por decisão das secretarias de Saúde esse prazo já havia sido encurtado. 

No Estado, uma nota técnica da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) de 12 de novembro já orientava a antecipação da dose de reforço dos trabalhadores de saúde e idosos (acima de 60 anos de idade) para 5 meses, após a última dose do esquema vacinal primário (segunda dose ou dose única), independente do imunizante aplicado.

No caso da dose de reforço, estados e municípios têm autonomia para definir os prazos de vacinação. No Ceará, até o dia 15 de novembro, conforme o Vacinômetro da Sesa, 357 mil pessoas receberam a dose de reforço. 

Arte mostrando os anticorpos atacando o coronavírus
Legenda: As vacinas possuem antígenos e, quando aplicadas ao corpo humano, fazem-no produzir anticorpos (também chamados de imunoglobulina)
Foto: Shutterstock

Precisaremos de mais doses?

Então, além desta dose de reforço, outras serão necessárias? Haverá campanhas anuais de vacinação? Tomar três doses protegerá das novas variantes? Estas dúvidas não são apenas da população em geral, mas também dos próprios especialistas. Como resume o presidente do SBIm, ainda "é muito cedo para a gente ter essas respostas neste momento".

O que a gente já conhece até agora é esse risco, em especial para os mais vulneráveis, que precisamos melhorar a proteção, e também já sabemos que essa proteção vai diminuir com o tempo"
Juarez Cunha
Presidente da SBIm

Quais países já aplicam doses de reforço?

Nos últimos meses, países de diferentes continentes passaram a orientar a aplicação da dose de reforço da vacina contra a Covid-19, independentemente do fabricante e da tecnologia das vacinas utilizadas. 

Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Israel, Hungria e França são algumas nações que adotaram o incremento de doses. Alguns optaram pelo uso da mesma vacina na dose de reforço, e outros pela intercambialidade de imunizantes, com aplicação de uma dose diferente na etapa complementar.

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Prioridade deve ser vacinar quem não tomou nenhuma dose

Apesar da necessidade de aumentar a proteção dos já vacinados, a prioridade deve ser imunizar quem ainda não tomou nenhuma dose. "A gente tem ainda um percentual de pessoas que não se vacinaram e já poderiam ter se vacinado. Esse é o grupo que, do meu ponto de vista, é fundamental", alerta Juarez Cunha.

"Depois, aqueles de segunda dose, que ainda não fizeram e que devem completar o esquema, que também é fundamental para termos a melhor resposta. E, a partir daí, por fim, a gente tem essa possibilidade de aplicar uma terceira dose", diz.

 

 

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